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Celebridades

Camila Pitanga: "Ainda há uma cobrança muito maior sobre a aparência feminina"

A telenovela brasileira chegou ao streaming com "Beleza Fatal", uma história que questiona os limites ténues entre justiça e desejo de vingança, mas também a ansiedade gerada pela indústria estética. Falámos com a atriz Camila Pitanga, que veste a pele de Lola – uma influencer muito pouco recomendável.

Foto: DR
25 de março de 2025 às 14:55 Maria João Martins

Até que ponto estamos dispostos a ir para atingir um determinado padrão de beleza, tido como o mais desejável numa sociedade? E, uma vez alcançado, como mantê-lo, sempre com a mesma capacidade de deslumbrar o outro? Que preço estaremos realmente dispostos a pagar? Essas são algumas das questões levantadas na telenovela brasileira Beleza Fatal, a primeira a ser exibida num serviço de streaming internacional, a HBO Max. Ao longo de 40 episódios muito intensos (em vez dos mais de 200, tradicionais no formato das grandes produções da Globo, de trama mais lenta), a história, escrita por Raphael Montes, acompanha um grupo de personagens movidas por vários tipos de vingança, a pessoal e a social, unidas apenas pela convicção de que a beleza é um superpoder e uma chave capaz de abrir todas as portas.

Foto: DR

Falámos com Camila Pitanga (uma das três protagonistas, as outras são interpretadas por Giovanna Antonelli e Camila Queiroz, num elenco que inclui ainda Caio Blat, Marcelo Serrado ou Herson Capri), que dá vida à vilã da história, a influencer Lola Argento. Um desafio para quem se habituou (e nos habituou) a papéis de heroínas, cuja beleza correspondia a um sentido apurado de justiça e bem comum, em telenovelas de horário nobre como Mulheres Apaixonadas, Pecado Capital, Babilónia, Belíssima ou Paraíso Tropical. "A Lola exigiu de mim um mergulho profundo pra entender sua multiplicidade", conta-nos Camila. "Como atriz, precisei encontrar humanidade nessa vilã. Não ter tantos julgamentos. A Lola é movida por desejos intensos, por dores mal resolvidas, e essa complexidade fez dela uma personagem muito rica de interpretar." E continua, na defesa da sua personagem: "A Lola não quer apenas subir na vida, ela quer literalmente apagar qualquer vestígio do lugar de onde veio, das coisas que ela passou. No fundo, acho que há uma dor ali que ela não sabe lidar…"

Foto: DR

Como o título indica, em causa estão também os perigos de uma indústria estética, que, ao contrário do que tantas vezes se apregoa, não se tornou mais inclusiva com as redes sociais, promovendo muitas vezes a desinformação em vez do esclarecimento científico. Mulher de causas (recorde-se como, em 2017, foi um dos rostos a denunciar o assédio sexual contra mulheres nos bastidores da ficção televisiva brasileira, na campanha "Mexeu com uma, mexeu com todas"), a atriz assume a importância de algumas mensagens passadas em Beleza Fatal: "Esta novela não questiona os procedimentos estéticos, mas questiona até que ponto essa busca pela perfeição é saudável. Ao mesmo tempo ela mostra que todo mundo é livre pra fazer o que quiser com o próprio corpo, com a aparência, mas que isso não é tudo, não completa vazios. O Raphael Montes escreveu com muita maestria, ele e seu team conseguiram expor essa realidade que é muito atual e que provoca reflexões importantes."

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Para a atriz, a chave está na ponderação e no bom senso com que utilizamos estas plataformas: "A influência digital tem um poder enorme, então é fundamental que haja responsabilidade ao compartilhar esse tipo de conteúdo. Ao mesmo tempo, a internet é também um lugar de denúncias e os próprios profissionais conseguem ali expor o que é legal e o que não é, alertando ainda mais as pessoas."

"Namoradinha" do Brasil na sua juventude, Camila Pitanga conhece de perto a pressão constante sobre a aparência: "Para quem trabalha com imagem, existe uma exigência de estar sempre impecável. Mas eu, pessoalmente, lido de forma mais leve, valorizando minha trajetória e entendendo que beleza vai muito além da estética. Temos de buscar referências diversas, enxergar beleza de formas diferentes, e nos cercarmos de pessoas que valorizam quem você é no todo e se cuidar, cuidar da autoestima de dentro para fora, sem se prender a padrões irreais."

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Mas reconhece que as mulheres continuam mais expostas a este tipo de julgamento depreciativo: "Ainda há uma cobrança muito maior sobre a aparência feminina. Se um homem envelhece, ele é visto como charmoso, para as mulheres é como se tivesse uma perda de valor. Estamos avançando nessa discussão, mas a desigualdade ainda é latente em todas as esferas."

A opção pelo streaming é, para Camila Pitanga, uma excelente notícia e uma oportunidade: "Acho que os brasileiros fazem novela como ninguém! Então, temos que estar em todos os cantos: na TV aberta, no streaming, exportando o que temos de melhor. É um golo em diferentes níveis, para o público, para o mercado, para o streaming e para a televisão em canal aberto."

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