Paixões fatais

Filho de uma lenda assassinada, ele fascina a América. Um acidente de avião sela o seu destino e o da  jovem mulher.

Paixões fatais
Paixões fatais
22 de dezembro de 2011 às 12:40 Máxima

Na sexta-feira, 16 de Julho de 1999, John Kennedy Jr., de 38 anos, tem de estar em Hyannis Port para assistir ao casamento de uma prima, Rory, filha do falecido Robert Kennedy. No avião Piper Saratoga II HP, embarca a sua jovem mulher, de 33 anos, Carolyn Bessette Kennedy, e a irmã mais velha desta, Lauren Bessette, banqueira no Morgan Stanley, que deverá ficar no aeroporto de Martha’s Vineyard. As duas mulheres só chegam às 20h30 e o avião descola às 20h37, quando a noite cai e as nuvens chegam. O último sinal de rádio do avião é registado pouco antes das 22 horas. Depois é o silêncio. O presidente Clinton, considerando que John Kennedy Jr. é uma figura nacional, autoriza a Marinha norte-americana a iniciar as buscas.

O avião, desfeito em pedaços, é encontrado ao largo de Martha’s Vineyard, com os três corpos ainda presos aos assentos. Entre os destroços foram encontrados um frasco de medicamentos pertencente a Carolyn Bessette e uma parte da bagagem da sua irmã. Causa do acidente: um erro de pilotagem manual em nevoeiro. Desaparecia assim, tragicamente, o único filho de um presidente assassinado.

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John Fitzgerald Kennedy Jr. nasceu no dia 25 de Novembro de 1960 no hospital de Georgetown, 16 dias depois de o pai ter sido eleito Presidente. Viveu os seus três primeiros anos na Casa Branca. Juntamente com a irmã mais velha, Caroline, eram os principezinhos de uma América optimista, moderna, os tempos em que se sonhava com viagens espaciais e se dançava o hully-gully.

Era a época em que se chamava ao círculo próximo do Presidente Kennedy

“Camelot”, em referência à corte do rei Artur. Existem inúmeras imagens: os colares de pérolas de Jackie Kennedy; o marido a declarar em face do Muro de Berlim: “Ich bin ein Berliner”; e a habitual foto de John-John a brincar debaixo da secretária do pai.

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Quando o Presidente é assassinado, em Novembro de 1963, o mundo inteiro assiste como um rapazinho de três anos, de casaco curto, saúda como um militar a passagem do caixão do pai.

Depois da morte do Presidente, ele irá viver longe dos media, protegido pela mãe que viria a casar com Aristóteles Onassis em 1968. John vive no Upper East Side em Nova Iorque, estuda na Brown University, onde conclui, em 1983, o bacharelato em Artes e História.

O jovem parece tentar encontrar-se. Viaja para a Índia e frequenta a Universidade de Deli, onde tem oportunidade de conhecer a Madre Teresa.

Envolve-se em programas de caridade que a família Kennedy promove, entre os quais a East Harlem School, antes de trabalhar para o projecto de renovação da 42.ª rua. Vemo-lo também nos palcos, acalentando a ideia de se tornar actor. Em 1989, obtém a sua licenciatura na University School of Law de Nova Iorque, mas só é admitido na Ordem dos Advogados de Nova Iorque à terceira tentativa, em Julho de 1990. Torna-se então assistente do Procurador da cidade de Nova Iorque.

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John, playboy nato

O personagem que a revista People qualificará, em 1988, como “o homem mais sexy” não está muito longe de ser um conquistador. Quando andava no liceu em Andover, namorou uma rapariga de nome Jennifer Christian. Depois, nos seus tempos de faculdade, a sua namorada era uma jovem de nome Sally Munro. No fim da década de 1980, irá alternar rupturas e reconciliações com a modelo Julia Baker, a actriz Christina Haag e a modelo Ashley Richardson. Em 1988, consegue alguns meses de amor com Sarah Jessica Parker, a futura Carrie Bradshaw de Sexo e a Cidade. Segue-se uma ligação mais estável que o une a Daryl Hannah, de 1989 a 1994, apesar da discordância da mãe que desaprova esta proximidade com uma actriz. É nessa época que John Jr. terá tido uma breve aventura com a cantora Madonna.

Depois da morte da mãe, em 1994, funda a revista George, financiada pelo grupo francês Hachette Filipacchi. É uma espécie de Vanity Fair da política, com retratos de personalidades e crónicas muito empolgadas.

Este título topo de gama lança John Jr. num outro emprego, o de jovem patrão da imprensa. A revista terá um excelente início e será bem acolhida pela crítica.

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Se considerarmos duas das suas antigas namoradas, Sarah Jessica Parker e Daryl Hannah, detectamos em John Kennedy Jr. uma certa preferência pelas louras de cabelo ondulado e rosto fino. Uma antecipação de Carolyn Bessette? Esta, nascida em White Plains no Estado de Nova Iorque, é filha de um médico e de uma administradora de universidade. A mãe, Anna Bessette, casou segunda vez com um próspero cirurgião ortopédico. Criada em Greenwich, no Connecticut, Carolyn Bessette foi eleita a mais bela da St. Mary’s High School, antes ainda de figurar na primeira página do calendário da Universidade de Boston, em 1988.

Trabalhando como modelo para a loja Calvin Klein de Boston, é depois chamada para a loja de Nova Iorque para lidar com as clientes importantes, como Blaine Trump e Diane Sawyer. A história do seu encontro com John Kennedy Jr. varia. Segundo uma primeira versão cruzaram-se num jogging no Central Park. Uma outra versão é que, quando comprava três fatos, o jovem terá reparado na bela ninfa. O namoro, iniciado em 1994, termina com um casamento celebrado no dia 21 de Setembro de 1996 na ilha de Cumberland, ao largo da Geórgia. A boda foi tão secretamente preparada como o desembarque na Normandia, mas houve pormenores que desde logo se souberam.

Bodas selvagens

A ilha, acessível apenas por mar, não possui estradas alcatroadas nem serviço telefónico.

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Tendas, mesas e serviços de mesa foram encaminhadas por barco. A cerimónia teve lugar numa pequena igreja de madeira, com uma autorização especial para que o ritual católico pudesse ocorrer num lugar de culto protestante. Foi preciso andar durante 45 minutos até esse longínquo santuário, cuja cruz era composta por dois simples paus atados. A noiva vestia um vestido de crepe cor de pérola, um véu de tule de seda, luvas brancas longas, conjunto desenhado por Narciso Rodriguez, e calçava sandálias Manolo Blahnik. O noivo estava de fato com uma gravata de seda azul-clara. No pulso, um relógio que fora do pai. O papel de fotógrafo oficial foi desempenhado por um membro da família Kennedy. À saída da igreja, um cavalo selvagem veio devorar o bouquet da noiva. Aos cerca de 40 convidados do jantar foram servidas alcachofras, lagostins, peixe-espada grelhado e gelado de limão. Foi muito House&Garden.

O senador Edward Kennedy tomou a palavra dizendo quão orgulhosos teriam ficado os pais de John com esta união.

A assistência estava comovida até às lágrimas. A canção Forever in My Life, de Prince, abriu o baile.

Um vez casada, Carolyn Bessette torna-se um ícone, ainda que contra a sua vontade. Naturalmente, comparam-na – coisa de que ela não gosta – com a sua falecida sogra, católica tal como ela e, tal como ela, filha de pais separados e ciosa da sua vida privada. Carolyn não suporta ver o seu apartamento de TriBeCa cercado pelos paparazzis. Mas quando aparece, é sempre para evidenciar um determinado estilo: minimalista, amante do preto ao estilo Prada, do maxi clean. Poucas jóias e pouca maquilhagem, um carrapito clássico e lábios sublinhados de vermelho, é uma figura oposta ao estilo Los Angeles. Botas, saias por baixo do joelho, cores azul-marinho ou castanho em oposição ao rosa-choque dos bimbos do Sunset Boulevard, com uma atracção pelos casacos Yohji Yamamoto, as caxemiras discretas, os escarpins Manolo Blahnik.

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Aquando de uma festa em Hollywood, ela surgiu num vestido simples de lã branca de manga comprida que fez com que uma testemunha dissesse que ela parecia “um padre de deslumbrantes cabelos louros”. Casada, jovem, Carolyn Bessette é uma it girl. Mulher do ex melhor celibatário dos Estados Unidos, ela suscita fascínios e ciúmes.

Sentimo-la por vezes nervosa, esquiva, irritável. É tudo cor-de-rosa? Veremos.

Porque existe a lenda negra do casal. Por detrás do refúgio dos amores dourados, um abismo de conflitos. Mesmo antes do casamento, um videoamador surpreende-os em Central Park. No vídeo, John Jr. tenta arrancar um anel que Carolyn usa, depois apodera-se da trela do cão: “Tiraste-me o anel mas não vais ficar com o cão”, protesta a jovem. Em 2003, o jornalista Edward Klein dedicou uma obra aos Kennedy. Ele defende que esta família real americana sempre procurou situações-limite, avançando sem cautela para os perigos. Segundo ele, Carolyn Bessette era uma mulher provocante e perigosa. Tomava, como tantas outras no mundo da moda, cocaína. As discussões do casal não eram apenas verbais, atiravam objectos à cabeça um do outro, e chegavam a bater-se.

Câmara à parte, Carolyn estava aterrorizada com o pandemónio do clã Kennedy. Os rumores de que John Jr. continuava a encontrar-se com Daryl Hannah deixavam-na louca. Ripostava dizendo-lhe que continuava ligada a Michael Bergin, seu antigo amante.

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Em Março de 1999, o casal iniciou consultas com um conselheiro matrimonial. Em Julho, alguns dias antes do acidente, John Jr. deixou o apartamento de TriBeCa para ir passar várias noites num hotel do Upper East Side. Klein afirma mesmo que o atraso na descolagem no dia da queda do avião se deveu ao tempo excessivo que Carolyn passara com um pedicure de Manhattan antes de se dirigir ao aeroporto.

Uma maldição Kennedy? Conhecemos todos os dramas que esta família atravessou. Para além do assassínio de dois irmãos, raramente se referiu o facto da morte de John Kennedy Jr. ser o quarto acidente de aviação com membros do clã. Durante a II Guerra Mundial, Joseph P. Kennedy, o irmão mais velho, foi morto no seu avião durante um raide. Em 1948, uma das irmãs Kennedy encontrou a morte, juntamente com o marido, aquando da queda de um avião em território francês. No dia 19 de Junho de 1964, o senador Edward Kennedy encontrava-se num avião que se despenhou, causando a morte do piloto e de um assessor do político, o qual saiu com vários ferimentos.

Devemos acreditar que esta família americana desafia a morte subindo aos céus com aparelhos de hélices?

Mais tarde, o Presidente Clinton lembrar-se-á de uma visita que o jovem casal fizera à Casa Branca em Março de 1998, para comemorar o programa espacial Apollo lançado pelo presidente Kennedy: “O jovem Kennedy com quem estive na Casa Branca era um jovem eloquente e elegante, um homem que tanto perdeu na sua infância, mas que souber arranjar para si uma vida de amor, de projectos e, como ele próprio dizia, de relativa normalidade.” Havia em John Kennedy Jr. algo de criança magnética que traça o seu destino nas suas próprias tábuas, de acordo com a lei de uma discrição conquistada. O Presidente Clinton convidou-o a ir ao primeiro andar da Casa Branca onde John-John não entrava desde a infância. Aí encontrava-se uma foto do Presidente Kennedy dirigindo-se ao parlamento irlandês. Em troca, John Jr. fez-lhe chegar a sua fotografia preferida do pai, em plena campanha oficial de 1960.

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Um homem foi morto em Dallas em 1963. O filho deste desapareceu em 1999 sob as águas do Atlântico. Foi lá que as cinzas dos três ocupantes do avião fatal foram lançadas. Nos Kennedy, como em toda a gente, a morte acaba sempre por vencer.

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