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Medicina Chinesa e acupunctura na gravidez? Uma especialista esclarece

Teresa Charrua é perita em analisar a abordagem desta técnica ancestral na gravidez. Conversámos com a especialista, que dá consultas em Lisboa e em Carcavelos.

Foto: Cláudia Teixeira
21 de agosto de 2023 Máxima

Um tema que continua a dividir opiniões e a levantar dúvidas, a procura holística na gestação, é o objeto de trabalho de Teresa Charrua, formada em Medicina Tradicional Chinesa pela Universidade Medicina Chinesa em Lisboa. É a quem compete esclarecer as mais variadas dúvidas e receios das mães que pretendem resolver problemas de todo o género, livre de toxicidade, com recurso à acupunctura. Fez várias formações nacionais e internacionais na área ou na saúde da mulher, e dá hoje consultas em Carcavelos, no Centro São Miguel, e em Lisboa no Centro de Medicina e Enfermagem, no Campo Pequeno. Foi uma das oradoras do programa House of Beauty, sobre maternidade, no passado mês de junho.

Conhecemos o impacto que a acupunctura – e a medicina chinesa - pode ter na saúde, no bem-estar e até na fertilidade feminina, mas o seu papel durante a gravidez é menos evidente. Em termos gerais, como é que esta prática pode ajudar?

Na verdade, hoje em dia várias pesquisas científicas mostram que a Medicina Chinesa pode ser uma alternativa de tratamento eficaz e segura, aplicável a muitas das complicações de saúde que podem surgir durante a gravidez. O recurso à acupunctura e a outras técnicas da Medicina Chinesa pode ocorrer em qualquer trimestre da gravidez e varia consoante as necessidades apresentadas pela grávida. As particularidades da gravidez, incluindo as restrições medicamentosas, permitem à Medicina Chinesa dar uma resposta livre de toxicidade para a mãe e para o bebé, a diversas patologias características deste período, como por exemplo distúrbios digestivos, problemas circulatórios, dor músculo-esquelética, perturbações do sono e emocionais, diabetes gestacional, restrição de crescimento intra-uterino, entre outros.

Em que fases da gravidez é que a acupunctura faz mais sentido, da conceção ao parto?

Considero que seja no primeiro e terceiro trimestre, tendo em conta que são fases onde as grávidas podem sofrer mais desconfortos. Sobretudo porque no primeiro trimestre há maior risco de ocorrer aborto espontâneo (entre 10 a 15% em gravidezes identificadas) e no terceiro trimestre risco de parto prematuro (entre 8 a 10% dos casos), o que muitas vezes leva a uma ambivalência de sentimentos.

E qual é a abordagem da Teresa na gravidez? Começando na consulta e continuando em casa.

Na primeira consulta de avaliação há uma anamnese detalhada (avaliação de sinais e sintomas, historial clínico, hábitos de vida e rotinas, exames, entre outros) e outras formas de avaliação da Medicina Chinesa (como a observação da língua e do pulso). Não há um tratamento padronizado, os mesmos são definidos considerando as particularidades de cada paciente, podendo incluir diferentes técnicas da Medicina Chinesa, conforme o seu desequilíbrio energético, os seus hábitos e as suas necessidades. A periodicidade dos tratamentos depende de vários fatores, por norma o comum numa gravidez saudável é que os tratamentos sejam realizados uma vez por semana até às 12 semanas para amenizar os desconfortos e prevenção de aborto. O segundo trimestre é o "o trimestre de ouro" e por ser o mais estável - os tratamentos ocorrem uma vez por mês, às 30 semanas se o bebé apresentar uma posição pélvica ou transversa aumentamos a frequência dos tratamentos para duas vezes por semana, aliado a indicações específicas para fazer em casa até que ocorra a versão para a posição cefálica (cabeça para baixo). E no terceiro trimestre, a partir das 36 semanas, a frequência dos tratamentos volta a aumentar para duas vezes por semana, é a fase em que começamos a fazer a harmonização do corpo para o parto, reduzir os desconfortos e ansiedade inerente à proximidade do parto e mudança de rotinas.

Teresa Charrua
Teresa Charrua Foto: Madalenapasseiroart

Quais os tratamentos/métodos de medicina chinesa que destaca para as grávidas?

A acupunctura é sem dúvida um dos ramos mais conhecidos e primordiais da Medicina Chinesa com uma ampla resposta na gravidez, no entanto existem outros métodos que uso e considero igualmente importantes como dietética chinesa - indicação de alimentos com base nos princípios da Medicina Chinesa - que pode fazer a diferença por exemplo no cansaço. A fitoterapia - conjugação de plantas medicinais sob a forma de comprimidos ou gotas – pode auxiliar nos enjoos, e as ventosas podem ajudar no alívio das dores músculo-esqueléticas. 

Quais as principais questões ou problemas das grávidas que chegam até si? É mais comum acompanhar mulheres antes de ficarem grávidas e depois ao longo de toda a gestação?

Diria que 70% das grávidas que acompanho fazem comigo o processo de pré-conceção e por consequente o acompanhamento de gravidez, 30% vêm no decurso da gravidez porque sentem algum desconforto. Olhando para os motivos de consulta mais frequentes por fases, no primeiro trimestre são as náuseas e os vómitos, o cansaço, a insónia, a ansiedade em lidar com a perceção da gravidez e o medo da perda; no segundo trimestre predominam por obstipação, hemorroidas, cefaleia, dor lombar, ameaça de parto prematuro e versão do bebé. Já no terceiro trimestre a dor lombar, ciática e pélvica, a síndrome do túnel cárpico, o edema, o cansaço, a preparação do corpo para o parto e claro a ansiedade e insónia pela proximidade do parto.

Teresa Charrua
Teresa Charrua Foto: Cláudia Teixeira

Ainda focando na gravidez e tendo em conta que já abordou este tema no seu podcast, como é que as medicinas chinesa e ocidental podem trabalhar em conjunto durante esta fase?

O seguimento da gravidez tem como objetivo despistar fatores de risco tanto para a mãe como para o bebé, diagnosticar e tratar patologias e avaliar a sua evolução para o bom desenvolvimento fetal e para um parto descomplicado. É indispensável o acompanhamento por um médico ginecologista/obstetra para o rigor desta vigilância, a Medicina Chinesa deve ser vista como uma aliada segura e eficaz para as complicações como as que referi anteriormente. A procura pela saúde e equilíbrio não deve ser restrita a uma única especialidade, por isso a divulgação e comunicação entre profissionais de saúde de forma integrativa faz cada vez mais sentido.

Acredita que já existe informação sobre o papel da acupunctura na vida dos futuros pais ou continua ser um tema pouco falado e pouco explicado?

É sabida e já reconhecida a polivalência do uso da acupunctura. Enquanto há uns anos era uma técnica procurada mais para o alívio da dor e desordens emocionais, hoje em dia, com o aumento da procura de técnicas naturais e livres de toxicidade que possam melhorar a qualidade de vida, há uma maior informação sobre o tema. No entanto, ainda há quem se surpreenda quando vê uma grávida ou uma criança a sair do consultório, por isso reconheço que ainda há trabalho de divulgação a fazer para que mais pessoas possam tirar partido de todas as vantagens da Medicina Chinesa.

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