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Beleza / Tendências

O segredo de beleza de Beyoncé (É um homem)

Quando Queen B pisa o palco ou está sob os flashes das máquinas fotográficas, a sua maquilhagem perfeita é o resultado do trabalho de Sir John, o célebre make-up artist que elimina qualquer imperfeição, que acredita que menos é mais e que diz saber “olhar para a alma dos seus clientes”. Agora abre a sua para nós.

31 de janeiro de 2020 às 07:00 Harriet Walker

Jesus tinha o Sudário de Turim, Beyoncé tem a toalha branca. Não há melhor testemunho da ausência de cansaço da sua face ou do criativo talento do homem que torna isso possível, Sir John Barnett.

A prova é o recente lançamento na Netflix de Homecoming, um documentário de duas horas centrado nos espetáculos do Festival Coachella do ano passado, nos quais a maquilhagem de Queen B sobreviveu não só às sessões de autógrafos, como também à intensa cardiodança da cantora e aos abraços dos fãs, no final.

"Beyoncé esfrega a toalha [branca] no rosto e depois lança-o ao público", afirma Sir John quando nos encontramos. "E não revela qualquer marca de maquilhagem. Foi diretamente para a cama e na manhã seguinte disse-me: ‘[A maquilhagem] não deixou marcas nos meus lençóis! O que se passa?’" A resposta está uma empresa de beleza independente, com sede em Londres, para a qual Sir John, de 37 anos, conhecido apenas pelo seu sonante primeiro nome e que tem mais de 350 mil seguidores no Instagram, se tornou recentemente um "embaixador da marca". A Alleven especializou-se em produtos à prova de manchas [de produtos] e em maquilhagem corporal à prova de movimentos, completados com hidratantes e com protetores solares que funcionam como o Photoshop, mas numa lata de spray. Pode não se ter de fazer uma tournée este verão, mas vai acabar por se ter de tirar os maillots e, quando esse momento chegar, Sir John estará lá para ajudar.

Entre os seus outros clientes, encontram-se Mary J. Blige, Chrissy Teigen e a modelo Joan Smalls. Sir John trabalhou para as lendárias artistas da maquilhagem Charlotte Tilbury e Pat McGrath. No seu país, Sir John tornou-se um dos residentes e coanfitrião do reality show American Beauty Star, uma espécie de Factor X para quem aspira a tornar-se um artista da maquilhagem, mas também viaja pelo mundo fornecendo tutoriais que funcionam mais como palestras motivadoras do que como clássicas aulas de cosmética.

"Por acaso viu aqueles vídeos no Instagram?", pergunta, referindo-se aos omnipresentes clips na Internet de como fazer a maquilhagem usando camada sobre camada e que tornaram as adolescentes peritas em dar forma ao rosto recorrendo a sombras e a brilhos com uma bateria de instrumentos profissionais (geralmente com um acabamento tipo drag queen) em vez de serem iniciantes que pintam com os dedos. "É dito à consumidora média que deve usar uma grande quantidade de produtos, o que me leva a pensar: ‘Oh, meu Deus, mas isto é demasiada maquilhagem.’ Atravessamos uma época de desenvolvimento e de democratização na área da beleza, mas podemos fazer diminuir o nível de entusiasmo. Em Cardiff, até poderia ser em qualquer outra cidade, mas refiro-a porque estive em tournée na Grã-Bretanha, no verão passado, e a maquilhagem que vi nas mulheres era de tal modo excessiva que a base se podia cortar à faca. As redes sociais têm feito muito pela indústria dos cosméticos, mas também têm contribuído muito para a nossa obsessão com a imagem e para a vaidade que sobressai nas selfies." E prossegue: "Quem me dera que pudéssemos voltar aos anos de 1990. Gosto do iPhone X, mas quero de volta a câmara do primeiro iPhone. Todos parecíamos tão atraentes antes de a alta definição tornar toda a gente ansiosa. A minha ideia é apenas melhorar o que nos torna diferentes."

Sir John está a citar a primeira mulher [Beyoncé] que conheceu num desfile de Tom Ford, em 2010, e com a qual começou a trabalhar pouco depois, descrevendo o teste inicial de maquilhagem que lhe fez como o smokey eye mais difícil da sua carreira. Agora, Beyoncé não quer iniciar uma tournée sem a presença dele na comitiva. Sir John é a última pessoa que ela vê antes de entrar em palco. Em 2017, a cantora deu a um dos gémeos o nome de Sir – presumo que terá sido em homenagem ao homem que conhece o seu rosto tão bem como os seus filhos.

"O meu trabalho não se limita ao seu rosto, mas também ao seu estado emocional", declara. "Todos os outros andam atrás dela, seja a penteá-la ou a vesti-la, mas eu sou o único que estou frente a frente com ela, a olhar para a sua alma. Por vezes, quando eu estou com uma cliente que recebe uma mensagem ou uma chamada que lhe desagrada, há uma parte dela que desaparece. Eu sei que tenho, realmente, a capacidade de captar essa má energia e então tento fazê-la rir, mesmo que também eu tenha tido um mau dia."

Beyoncé revelou pela primeira vez no filme da Netflix que tinha a tensão alta, que sofreu de pré-eclampsia durante a gravidez e que pesava 96 quilos quando Sir e a sua irmã gémea Rumi nasceram depois de uma cesariana feita de urgência. "Eu lembro-me de quão difícil foi para ela", diz Sir John. "Cheguei até aqui graças às mulheres fortes. Fui criado por uma mãe solteira."

A mãe tinha 17 anos quando Sir John nasceu, em Buffalo, no estado de Nova Iorque, onde cresceu sob os cuidados dela e da avó materna. "Eu não tinha muitos amigos porque era alto e magrinho, e não praticava qualquer desporto", recorda. "Eu era amigo de todas aquelas velhas senhoras – aos oito anos saía com essas Golden Girls [referência ao tipo de mulheres da série Sarilhos com Elas] e era o único homem no bingo." Os seus olhos brilham e eu imagino como aquelas velhas senhoras se devem ter sentido.

Embora o dinheiro fosse pouco, Sir John estava sempre bem. Ele estava determinado a contribuir para as despesas da casa, mesmo antes de ter idade para arranjar um emprego, pelo que, ele e a mãe comiam os legumes que Sir John cultivava no jardim da casa.

O lar foi sempre importante. Sir John vive, há sete anos, com o seu companheiro, William Harrison, que trabalha com crianças do ensino básico que têm dificuldades de aprendizagem. Conhecem-se desde o tempo em que tinham vinte e poucos anos. Revelar à sua mãe que era homossexual foi "a coisa mais fácil", confessa.

Sir John começou a sua carreira na M.A.C, depois passou para o visual merchandising [promoção de um determinado produto no ponto de venda] em designers boutiques, em Manhattan. Quando um assistente de Pat McGrath o apresentou, Sir John deu por si a concordar com uma viagem a Milão, dentro de quinze dias, apesar de não ter passaporte, isso para trabalhar nos bastidores dos desfiles de Dolce & Gabbana e da Prada. Foi para Milão e mandaram-no para o quarto de hotel de Naomi Campbell para a maquilhar.

"Eu era obcecado por ela – era uma pessoa de cor (sic) e eu nunca tinha visto pessoas assim [em trabalho]. Quando eu estava a trabalhar em produções de moda passavam-se meses sem poder ver alguém que se parecesse comigo. Lembro-me de alguns agentes me dizerem para eliminar Naomi ou Beyoncé da minha agenda e trabalhar com as modelos desconhecidas da Europa do Leste, não parecendo, assim, ‘étnico’ para as clientes."

Sir John está musculado, graças ao ginásio, e é alto. Fala com suavidade e veste-se com elegância. No Instagram, aparece de fato e hoje usa tons pastel, mas, no entanto, passa por jogador de basquetebol sempre que viaja em classe executiva. "Os meus avós tiveram de lidar com coisas muito piores", declara, cautelosamente.

Peço-lhe que fale do Presidente Trump porque o faço sempre que conheço um americano. "Adormecemos ao volante, em 2016", responde. "Parecia o dia do Juízo Final, em Nova Iorque, quando ele ganhou, mas é temporário – ele representa algo que se está a dissipar, uma ideologia que está a desaparecer."

Viu demasiadas coisas no desempenho do seu trabalho. Em certa medida, plataformas online, como o Instagram, trouxeram diversidade a uma indústria que estava presa nas suas formas desatualizadas e branqueadas. Sir John tem uma equipa que o ajuda a gerir a sua conta [no Instagram], mas admite que tem uma adição em relação às redes sociais, tal como todos nós. "Eu olho mais para o Instagram do que para a televisão – é bizarro e não consigo libertar-me disto", declara.

Esta situação provoca-lhe alguma ansiedade. "Na comunidade da beleza, temos a responsabilidade de estar atentos às desgraças do nosso negócio. Se [nas redes sociais] se seguem apenas raparigas que saltam do jato da Victoria’s Secret para correrem para uma festa, e se está a viver na realidade em Cardiff e isso faz a pessoa sentir-se mal, então deixe-se de as seguir. Ao fim e ao cabo, estamos aqui para fazer as pessoas sentirem-se bem. Então por que razão a indústria dos cosméticos as faz sentir-se mal?" Quando uma das suas clientes que se encontra entre as grandes celebridades acorda com uma borbulha ou com marcas vermelhas na pele, Sir John usa a sua linha de defesa que consiste em ter o número de telefone dos melhores dermatologistas e visagistas sempre à mão. É um admirador daquilo a que chamam "vampiro facial", um dos métodos favoritos de Kim Kardashian, e que consiste em injetar sangue centrifugado do paciente na linha do maxilar, mas hesita quando eu lhe pergunto o que pensa da cirurgia estética.

"Eu vivo em Los Angeles, onde toda a gente se parece: têm os mesmos lábios, as mesmas maçãs do rosto, o mesmo médico, o mesmo dentista. Eu aconselharia aos cirurgiões plásticos que nas consultas não perguntem às mulheres sobre o que não gostam nelas, mas que perguntem o que está bem nelas e que continuem a partir daí."

De certo modo, os produtos que Sir John anda a promover nesta sua viagem fazem parte do impulso para a uniformidade: o culto da cobertura total que se instalou depois do "um pouco aqui" e do "au naturel" – apenas outro tipo irrealista de pele imaculada.

A embalagem dos produtos da Alleven descreve "a elegância de um véu cosmético inspirado nas necessidades da mulher moderna que procura uma capa de beleza que a torne perfeita em qualquer situação". O recurso a este vocabulário não deixa de irritar, digamos, uma mulher moderna que quer apenas ficar com um aspeto melhor. Citando o Mito da Beleza [alusão ao livro de Naomi Wolf] de Beyoncé refletido na sua balada Pretty Hurts: "A perfeição é a doença de uma nação." Contudo, quando experimento alguns dos produtos, surpreende-me como são fáceis de aplicar e o quão suaves são. O tempo – e a rapidez – é o âmago do que Sir John aprendeu com Beyoncé.

"A maquilhagem dela demora 40 minutos e a Beyoncé não gosta de se sentar para a fazer", confessa. "E não gosta ao ponto de, em certa ocasião, eu a ter maquilhado em 25 minutos. O cabeleireiro dela olhou para mim e exclamou: ‘Agora ela não voltará a conceder-te uma hora para a maquilhagem.’ Por vezes, eu tenho de lhe dizer ‘Muito bem, menina, vamos embora’, devido à ansiedade que me é provocada por 80 mil espectadores que esperam que eu acabe de maquilhar…" Cala-se, fazendo uma careta.

Ainda assim, Sir John deve ficar satisfeito quando vê o resultado do seu trabalho na televisão ou nos ecrãs gigantes. "Quando eu ouço a Beyoncé cantar num clube, não consigo deixar de pensar onde me devo manter ou se precisarei de correr até aos bastidores, antes dos três segundos finais da canção, para ter a certeza que ela muda de roupa e que precisa de um retoque na maquilhagem. Isto é uma autêntica ‘coreografia’ para mim. Mas não deixa de ser um dilema encantador

Exclusivo The Times Magazine/Atlântico Press

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