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Beleza

Fitness: mais alto, mais forte, mais longe

Não andamos a pensar nos mínimos olímpicos durante uma aula de ginásio mas, de repente, damos por nós a treinar até à exaustão, sempre a doer, todos os dias, sem desculpa. Será mesmo este o melhor caminho para a boa forma?

21 de maio de 2015 às 12:23 Máxima

Maude Charron era praticamente uma desconhecida até há umas semanas ganhar uma prova no Reebok CrossFit Games Open 2015. "Ainda nem acredito", referiu a jovem encorpada canadiana de 21 anos quando faltava pouco menos de um minuto para terminar a sua série esgotante de exercícios e conseguiu levantar uma barra com aproximadamente 100 quilos. Maude acabou entretanto por recordar à imprensa que se apaixonou pelo CrossFit, há dois anos, mal fez a sua primeira aula: 7 minutos de agachamentos, flexões de braços e saltos verticais em modo AMRAP, que em linguagem CrossFit significa As Many Rounds As Possible (tantas séries quanto possível). Composto por uma combinação de vários exercícios não necessariamente novos (subir à corda, levantar pesos, remar, sprintar) e com recurso a equipamentos diversos (barras, pesos, bolas medicinais), o CrossFit caracteriza-se por pôr os seus adeptos a trabalhar no duro, com treinos curtos mas intensos, o que traz uma abordagem distinta ao mercado do fitness. Ou uma lufada de ar fresco, como refere o especialista em performance Pedro Correia. "O CrossFit permite que as pessoas possam competir umas com as outras e estabeleçam objetivos para se autossuperarem, de uma forma diferente e com um suporte social mais interessante", considera. Outrora preenchidos com aulas pré-coreografadas de Body Combat ou Body Step, os estúdios dos ginásios abrem agora também espaço para treinos de grupo mais severos, variados e curtos, uma particularidade especialmente importante face à reclamação do costume: falta de tempo para a prática de exercício. O CrossFit lidera atualmente as audiências com challenges e boxes (espaços próprios de CrossFit), mas a tendência tem vários outros nomes, de Insanity a P90X, passando pelo protocolo de Tabata e HIIT (High-Intensity Interval Training). Pedro Correia não tem dúvidas de que estas duas últimas modalidades possam ser "interessantes para incluir num programa de treino, mas a questão principal reside sempre na forma como as mesmas são aplicadas".

Especialistas da Harvard Medical School selecionaram um conjunto de atividades que se adaptam a todas as idades e níveis de condição física, garantindo ajudar a manter a forma.
  1.     - Nadar. A água ajuda a suportar o corpo e reduz a tensão sobre as articulações, facilitando o movimento. Ajuda a queimar calorias e a tonificar.
  2.     - Tai Chi. Também conhecida como "meditação em movimento", esta aula de movimentos graciosos gira em torno do equilíbrio e pode revelar-se por isso interessante para pessoas mais velhas, uma vez que tendemos a perder o equilíbrio à medida que envelhecemos.
  3.     - Treino de força. Levantar pesos leves ajuda a que os músculos se mantenham fortes. Os músculos ajudam ainda a queimar calorias: "Quanto mais músculo tiver, mais calorias pode perder e mais facilmente poderá controlar o peso", revela um dos especialistas.
  4.     - Caminhada. É uma atividade de ouro: melhora os níveis de colesterol, fortalece os ossos, mantém os níveis de pressão arterial, reduz os riscos de várias doenças como a diabetes e tem efeito sobre o humor.
  5.     - Exercícios de Kegel. Fortalecem os músculos da zona pélvica, importantes para prevenir a incontinência urinária e associados também a uma melhor performance sexual (nas mulheres).

Mais forte

Criada pelo ex-ginasta Greg Glassman, com o intuito de ficar mais forte, o CrossFit tem sido recebido com entusiasmo por quem gosta de desafiar os limites do fitness e da força. Polícias e forças especiais estão entre os praticantes. Mas a 'febre' vai de Hollywood, com Brad Pitt, Cameron Diaz e Jessica Biel, ao nosso próprio ginásio. E embora a intensidade dependa da capacidade de cada um, os exercícios são os mesmos e aplicam-se a todos, militares ou praticantes pouco ativos. Fabio Comana, fisiologista do exercício do American Council on Exercise (ACE), mostra preocupação: "Pessoas de 60 anos com osteoporose, por exemplo, podem não conseguir levar uma barra à cabeça." Pedro Correia fala em lógica invertida: "Primeiro precisamos de desenvolver qualidade de movimento (mobilidade e estabilidade) para depois melhorarmos as capacidades físicas (força, resistência, velocidade, potência, agilidade)." O que acontece no CrossFit é que "muitos movimentos que se treinam requerem uma base de movimento competente, pelo que se não houver um cuidado em progredir de forma sustentada, os padrões de movimento fundamentais não vão ficar bem assimilados e as probabilidades de lesão vão aumentar". O especialista conhece a popular modalidade dos Estados Unidos, onde teve a oportunidade de estudar e treinar, e é também com base nesta experiência que assina, no seu blogue Functional Performance Training, o artigo O CrossFit é bom ou mau?. A resposta não inspira a desistências, mas também não motiva a filosofia de treinar para suar mais: "Treinar todos os dias até à exaustão não faz bem à saúde – é preciso ter atenção à dose."

Mais descanso

Saltos na caixa, pull-up, escalada na corda e prensa de pernas. Pode demorar uma tarde inteira a fazê-los. Em atividades como Spartans ou CrossFit, são cronometrados e vai realizá-los em série no menor tempo possível. Sem parar, sempre a doer. São os chamados WOD (Workout Of the Day). E uma coisa é certa: estão longe de reunir consenso e fazem lembrar o género de pessoas que se ama ou odeia. Erin Simmons, especialista em fitness e ex-atleta, foi convidada a experimentar o seu primeiro WOD de CrossFit e está consciente de que a decisão de contar a sua história vai encher-lhe a caixa postal de reações negativas de crossfitters: "O workout envolveu levantamento de barra, burpees (combinação de push-up e saltos) e movimento de explosão com peso kettlebell o mais depressa que conseguisse. Eu sabia que estes exercícios não deveriam ser feitos com velocidade/tempo, mas fi-los. Estava morta quando acabei e com muitas dores e queixas que demoraram a passar. Nunca mais farei CrossFit." E as razões estão no seu blogue, Erin Simmons Fitness. Erin conta que em toda a sua carreira de atleta nunca um treinador lhe disse para levantar pesos olímpicos dez, vinte, trinta vezes. "Submeter os músculos a um extremo stress de repetição não é bom."

O American Council on Exercise explica porque deve o alongamento fazer parte de todos os programas de treino.

1. Diminui a rigidez muscular e aumenta a amplitude de movimento

2. Pode reduzir o risco de lesões

3. Ajuda a aliviar a dor e as queixas do pós-exercício

4. Melhora a postura

5. Ajuda a reduzir ou a controlar o stress

6. Reduz a tensão muscular e melhora o relaxamento muscular

7. Melhora a performance em geral (com movimentos mais eficientes)

8. Prepara o corpo para o stress do exercício

9. Promove a circulação sanguínea

10. Diminui o risco de dor lombar

Rendidos à moda dos treinos intensos, podemos correr alguns riscos. Um é pensar que dor e suor são sinónimos de mais e melhores resultados. Outro será concluir que descansar e alongar é uma perda de tempo, esquecendo de perguntar aos nossos músculos se pensam o mesmo. Na verdade, os períodos de descanso, sejam eles um dia de folga ou o adequado intervalo entre séries, são fundamentais para a reparação, reconstrução e fortalecimento muscular. O corpo precisa de tempo para regenerar e é, por exemplo, na recuperação ativa (exercícios de baixa intensidade que ocorrem imediatamente ao exercício intenso) que se eliminam os químicos associados ao stress do exercício. Quanto aos alongamentos, o fitness está em constante mudança e aqui vem mais uma. Alongar continua a ser regra de ouro (ver caixa), mas para deceção de quem ainda continua fiel aos tradicionais alongamentos de tocar os pés com as mãos, a ciência vem dizer que não só são desnecessários como contraprodutivos. Os exercícios estáticos parecem na verdade reduzir a força que os músculos precisam para a realização do treino, pelo que Jessica Matthews, fisiologista do ACE, aconselha, em comunicado, a substituir por alongamentos mais dinâmicos (caminhadas, círculos com os braços, movimentos com pernas) e que preparem melhor o corpo para a atividade.

Menos lesões

O jogo de equilíbrios no exercício não se limita, contudo, ao alongamento e descanso. Há novas terminologias no dicionário fitness que ajudam a encaixar a expressão 'conta, peso e medida' no Workout Of the Day. Pedro Correia é certificado em Functional Movement Screen (FMS), um sistema de avaliação que deteta limitações, disfunções e/ou assimetrias corporais através da realização de sete testes, e aconselha inclusive o praticante de CrossFit a desfrutar deste sistema simples utilizado para medir a qualidade de movimento de cada pessoa (ou atleta), identificando os seus pontos fracos e minimizando o risco de lesão.

A norte do país, Pedro Pereira também pretende minimizar o risco de lesões dos praticantes de CrossFit e criou por isso uma adaptação do yoga à modalidade. As posturas desenvolvidas "têm sempre espaço para permitirem ao praticante ir mais longe", refere Pedro, e com o suporte técnico do yoga será com certeza mais fácil de fitar o aviso que Glassman, o criador de CrossFit, partilhou ao New York Times: "It can kill you", disse. "Sempre fui honesto em relação a isso."

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