Aprenda a emagrecer
Se julga que para emagrecer basta seguir à risca uma dieta rígida, desengane-se.Emagrecer é um processo de aprendizagem.

Tem a sensação de que já experimentou todas as dietas do mundo e, mesmo assim, não conseguiu perder aqueles quilos a mais? Pode não estar a tentar da forma certa. A Medicina Tradicional Chinesa sugere-lhe uma abordagem diferente. É que ser magra, defendem os especialistas, não tem que ver só com o que se ingere, mas também com a maneira como se ingere. A dieta é, aliás, um processo de aprendizagem que envolve muito mais do que alimentação e exercício. E mais: uma dieta não tem de ser penosa.
“Temos de ter uma abordagem mais abrangente”, explica Jorge Martinho, professor no Instituto de Medicina Tradicional, em Lisboa. “É preciso olhar o corpo como um todo”, continua o especialista, e ter em conta não só a parte fisiológica, mas também perceber as ansiedades e os desequilíbrios que estão por detrás dos nossos comportamentos.
Depois, existem várias formas de tentar controlar esses desequilíbrios. Podemos, por exemplo, recorrer à acunpunctura para estimular alguns meridianos (de acordo com a Medicina Tradicional Chinesa, canais de energia que percorrem o nosso corpo), que depois vão influenciar o nosso comportamento em relação à alimentação. Podemos também escolher beber certos chás que podem estimular o metabolismo ou o funcionamento dos órgãos excretores.
Ao intervir nestas áreas, estamos a criar as condições necessárias para que o organismo aprenda a expulsar, naturalmente, as calorias indevidas e estamos também a aprender, nós mesmos, a estar em harmonia com o organismo. No entanto, há sempre hábitos alimentares a mudar. “Nós vamos adaptar o estilo de vida do indivíduo, corrigir o que for necessário”, diz Jorge Martinho, sublinhando que o papel das terapias naturais é contribuir para um melhor conhecimento do organismo, ensinando o indivíduo a lidar com os seus desequilíbrios.
Medicina tradicional vs Medicina convencional
A medicina tradicional é reconhecida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como uma abordagem importante e eficaz às doenças. Um dos objectivos da OMS é, aliás, que esta medicina seja integrada nos sistemas de saúde públicos, a par da medicina convencional. A organização sublinha, no entanto, a necessidade de uma regulação dos seus praticantes e dos produtos utilizados.
A OMS define a medicina tradicional com o “conjunto de conhecimentos e práticas baseados em teorias, crenças e experiências características de algumas culturas que são utilizadas não só para promover a saúde, como para prevenir, diagnosticar, melhorar ou curar doenças do foro mental e físico”.
Em alguns países asiáticos e africanos, cerca de 80 por cento da população depende da medicina tradicional para cuidados de saúde primários. Nos países desenvolvidos, 70 por cento da população já experimentou alguma forma de medicina alternativa ou complementar.
Ainda não há muitos estudos nesta área, mas, de acordo com a OMS, a eficácia de terapias como a acunpuntura ou a massagem no tratamento de algumas doenças já foi comprovada cientificamente.
Uma abordagem mais “leve”
Porque implica a entrega e o empenho do indivíduo e porque tem como objectivo a tal aprendizagem, a medicina alternativa poderá parecer uma abordagem mais “leve” às doenças, mas cujos efeitos, a longo prazo, podem ser mais eficazes.
“No caso de doenças graves, a intervenção da medicina dita convencional é necessária”, alerta Jorge Martinho, mas no caso de pequenos problemas de excesso de peso ou de dores de cabeça, por exemplo, a abordagem através de terapias naturais pode ter mais resultados porque trabalha a componente dos hábitos das pessoas.
“No nosso dia-a-dia estamos sempre susceptíveis a muitas interferências – profissionais, familiares, pessoais – que vão influenciar o nosso organismo”, diz Jorge Martinho. Estas terapias podem ajudar-nos a controlar as interferências e, para além disso, se forem bem feitas, não são agressoras para o organismo.
Quanto à duração das terapias, o especialista refere que ela varia muito de pessoa para pessoa. “Não há nada que limite a utilização destes métodos, mas como o seu objectivo é uma aprendizagem, também não se justifica que ela se estenda para sempre”, explica. O limite é quando uma pessoa se sentir preparada para deixar uma terapia. Depois, ao longo da vida, pode voltar a sentir necessidade de corrigir o mesmo ou outros desequilíbrios, e voltar às terapias. “Aí, como se conhecerá melhor o indivíduo, já se saberá a que nível agir, e os resultados serão mais rápidos.”
TERAPIAS
Acupunctura/Auriculoterapia
Esta terapia trabalha apenas sobre o pavilhão auricular. É avaliado o aspecto do mesmo, desde a coloração, a presença de vasos ou proeminências, a sensibilidade ao toque, entre outros, para se fazer um diagnóstico. Depois trabalham-se sobre pontos específicos da orelha, que regulam a ansiedade ou níveis de dependência.
Jorge Martinho dá o exemplo: “No caso do excesso de peso pode-se encontrar uma dependência dos alimentos, não por uma necessidade fisiológica, mas apenas por nunca se satisfazer uma determinada necessidade. Podemos trabalhar, por exemplo, sobre o meridiano da fome na orelha.”
Trabalhando estes pontos específicos e corrigindo os níveis de ansiedade, “estamos a potenciar a correcção da dieta e, assim, temos a tarefa [de conseguir obter uma dieta equilibrada] facilitada”.
O pavilhão auricular é estimulado com esferas de metal, sementes de mostarda, com agulhas que podem ser pequenas ou grandes, ou ainda, e isto devido aos avanços na medicina, com laser ou electro-estimulação. No caso das esferas de metal ou das sementes, a vantagem deste tratamento é que pode ser continuado pela própria pessoa, em casa.
Os efeitos desta terapia sentem-se muito rapidamente. “Depois de três ou cinco dias já se consegue notar alguma diferença”, esclarece Jorge Martinho, acrescentando logo que, apesar disso, “todos estes tratamentos levam o seu tempo”. Afinal, diz, estamos a falar de um “processo maior de aprendizagem do indivíduo”.
Fitoterapia
A fitoterapia é a utilização de alimentos para fins terapêuticos. Vários têm uma acção terapêutica muito valiosa pelo efeito estimulante que têm a nível nervoso ou a nível dos órgãos metabólicos.
A diferença em relação aos medicamentos ou aos suplementos é que estamos a utilizar uma planta. “Concentramos os princípios activos da planta, mas mantemos tudo o resto que faz parte da mesma. Não a alteramos. Nos medicamentos concentramos os princípios activos e esquecemos o resto”, explica Jorge Martinho.
Esta terapia pode ser aplicada de várias maneiras – através de chás ou tisanas, de extractos fluidos, etc. Uma das vantagens é a forma simples como pode ser aplicada – pode-se fazer um chá para beber ao longo do dia – e o seu aspecto não agressor em relação ao corpo. Pode até ser agradável.
“Nem todos os chás sabem bem. Mas um chá a uma refeição é melhor do que os sumos concentrados em açúcar ou do que refrigerantes ou apenas água”, argumenta o especialista. “Podemos ter uma acção complementar ao tratamento numa bebida agradável”, acrescenta.
A nível da função digestiva, usa-se muito a cidreira, que tem uma função calmante a nível do estômago e a nível do intestino, ou a laranjeira, para controlar as ansiedades.
Aromaterapia
Como o nome indica, esta terapia vai utilizar óleos com essências aromáticas que são extraídas de plantas ou flores e que podem ser utilizados numa massagem terapêutica, por exemplo, na alimentação ou em incensos. Tudo depende da maneira como os óleos são feitos – nem todos podem ser ingeridos.
Há óleos que são para ser aplicados numa massagem que pode ser localizada num ponto específico do corpo – os micro-sistemas como a planta dos pés, a região abdominal ou a face – e há outros óleos que são mais indicados para a alimentação. Estes não são para ser ingeridos directamente, mas podem ser misturados em outros alimentos como compotas, mel ou azeite.
Alguns exemplos de óleos utilizados são os de alfazema e laranja amarga, aos quais se recorre em situações de ansiedade, em que a pessoa está mais nervosa, o de alecrim para controlar o metabolismo ou o de baunilha pelo seu efeito relaxante.
Reiki
O Reiki é uma técnica japonesa de relaxamento e redução do stress. Funciona com base em transmissões de energia e pode ajudar a emagrecer no sentido em que reestabelece a energia de que o organismo necessita para atingir o equilíbrio.
Esta técnica parte do princípio de que todos somos fontes e receptores de energia e de que esta é fundamental para o bom funcionamento do organismo. O tratamento passa pela transmissão de energia de um “mestre” para a pessoa que precisa de tratamento.
Esta transmissão efectua-se com a pessoa numa posição confortável, normalmente deitada, a quem o “mestre” vai transmitir energia passando as mãos sobre o corpo do indivíduo.
Nos casos de excesso de peso, o Reiki pode estimular o metabolismo da pessoa e também pode ser utilizado para ajudá-la a combater uma vontade desmesurada de comer. Pode-se também fazer um tratamento concentrado sobre o fígado e o baço para ajudar na digestão.
Essência Floral
A essência floral serve-se da energia das flores para “corrigir os desajustes emocionais do indivíduo”. Com esta terapia estamos a trabalhar “elementos mais subtis” dos indivíduos, como a falta de segurança, o nível de motivação, os medos e as fobias. “Muitas dietas, por exemplo, criam nas pessoas sentimentos de frustração quando a pessoa volta a aumentar o peso. Esta terapia é a que funciona melhor com estes sentimentos”, explica Jorge Martinho.
As flores são deixadas algum tempo numa água com um tratamento especial e depois é adicionado álcool “para reter a essência das mesmas”. No final obtém-se uma solução com um alto teor de álcool, mas que pode ser tomada diluída. “Podemos tomar apenas uma gota diluída numa garrafa de água, por exemplo, ou podemos tomar o frasco”, argumenta o especialista. A ideia é ir tomando, de maneira a conseguir manter uma mesma frequência daquela essência ao longo do dia.
Esta terapia pode ser a que trabalha melhor os sentimentos mais profundos, mas requere também um grande envolvimento por parte da pessoa que está a fazer o tratamento. “Aqui o mais importante é ouvirmos a pessoa para irmos de encontro à essência floral de que ela necessita.” O professor explica que existe uma tabela com as indicações florais e os seus efeitos, “tal como com as vitaminas”, mas é preciso sempre ir testando, porque cada pessoa é única e as mesmas essências podem não ter o mesmo efeito em pessoas diferentes.
“Existem essências florais cujo objectivo é ter uma acção rápida em casos de descontrolo emocional, em situações traumáticas, por exemplo. Essas têm uma acção objectiva e têm uma acção imediata”, refere Jorge Martinho. Mas depois, tudo está dependente da “condição do indivíduo”.
EMAGRECER, PASSANDO FOME?
Boas notícias: não. “Muitas dietas são feitas na privação de alimentos e não na privação de calorias”, explica Jorge Martinho. Isto é um erro porque a pessoa “passa fome durante algum tempo e depois retoma os hábitos antigos”. Estas dietas, continua o especialista, podem provocar perda de volume e peso, mas não eliminam apenas gordura corporal, que é o que se pretende. “Se olharmos para a pirâmide dos alimentos, vemos que não encontramos muitas privações”, diz Jorge Martinho. A palavra-chave é racionalizar. É preciso saber escolher o que comer e em que quantidades. De resto, não há nada proibido. A prioridade deve ser dada a alimentos com uma alta densidade nutricional, baixos em calorias e fibras, e as refeições deverão ser fraccionadas.
VANTAGEM DAS TERAPIAS NATURAIS
Jorge Martinho argumenta que estas terapias, porque recorrem a produtos naturais, são menos invasivas para o corpo do que os medicamentos. Para além disso, numa situação em que estamos a falar apenas de excesso de peso, o recurso a medicação vai mascarar um problema que pode voltar a surgir mais tarde. “É preciso uma mudança de hábitos alimentares e as terapias naturais vão ajudar-nos nessa aprendizagem”, refere o professor, sublinhando a acção destas terapias no controlo da ansiedade, da fome psicológica e no alívio da tensão corporal, por exemplo.
