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Perdi toda a alegria de viver. O que faço?

Tive um casamento de 16 anos que terminou quando nada o fazia prever.

18 de março de 2015 às 08:00 Dra. Catarina Rivero

Tenho 45 anos, dois filhos de 14 e 10, e tive um casamento de 16 anos que terminou há dois por opção dele, que saiu de casa quando nada o fazia prever… Descobri mais tarde que teve uma amante durante muitos anos, possivelmente depois do nascimento do meu filho mais novo. Foi viver com ela e segundo os meus filhos esta feliz. Até hoje choro muito e sinto muita raiva. Grito com os meus filhos e pais. Não consigo concentrar-me no trabalho. Perdi toda a alegria de viver… o que faço? Ana Fonseca, Porto

Cara Ana, no momento de tanta dor manifesta, é de louvar a coragem que está a ter para parar e reconhecer como todo o turbilhão emocional que está a sentir acaba por ter impacto em várias áreas da sua vida. Naturalmente que aqui não poderei dar uma solução específica, mas tentarei ajudá-la a refletir sobre o que se está a passar consigo e sobre possíveis caminhos para mais serenidade e bem-estar.

Dezasseis anos de casamento com dois filhos terá certamente trazido uma vida preenchida, com os bons e maus momentos inerentes à vida conjugal. Entre trabalho, gestão da casa, educação e apoio aos filhos, muitas vezes os casais afastam-se sem se darem conta… ainda assim, mesmo que tenha sido esta a situação, compreendo que a Ana mantivesse um forte compromisso e sentido para o seu casamento. O facto do ex-marido ter saído de casa parece ter provocado um choque emocional e parece até hoje não ter aceite esta realidade. Esta é uma realidade que não escolheu, que não quis, pelo contrário queria manter a sua família unida. Sentiu assim uma grande perda e o que poderá estar a acontecer é de algum modo estar num impasse no processo de luto que terá de fazer. Tal como quando perdemos alguém por morte, também temos de fazer lutos quando perdemos relações, ou quando nós próprios mudamos de forma de vida, seja por escolha ou não. É uma grande mudança: neste momento está divorciada, e o seu ex-marido seguiu uma vida com outra pessoa. A dor é inerente a este processo.

Muitas vezes, face a mudanças drásticas tendemos a entrar em negação, a não querer aceitar ou lidar com a realidade. É muito comum em processos de luto e, nalgumas situações, esta fase pode durar mais do que um par de semanas ou meses. A raiva é também um elemento que se manifesta com frequência nestes processos. Há um sentimento de frustração quando estamos a viver o que não escolhemos e não queremos. Quando o divórcio é seguido de uma situação de infidelidade, pode haver uma raiva acrescida pelo eventual sentimento de rejeição. Muitas vezes esta raiva passa a ocupar os pensamentos no dia-a-dia, ficando refém desse sentimento, como se mais nada fosse importante. Como a Ana refere, esta revolta pode tomar conta de nós e acaba por ter impacto nas múltiplas relações pessoais e profissionais e, naturalmente, na forma como enfrentamos a vida. Viver a tristeza, chorar, sentir a dor pode ser uma ajuda para nos reencontrarmos na nova realidade e de algum modo nos libertarmos para aceitarmos o que não depende de nós, e agirmos sobre o que é a nossa área de influência. A aceitação será assim o último passo de todo o processo de luto e que permitirá abraçar e celebrar de novo a vida e a mulher que é.

Como fazer? Como referi inicialmente, não há uma receita que possa dar. Algumas pessoas sentem que é útil escrever sobre a história que viveram e sobre os sonhos e objetivos que têm para as suas vidas. Encontrar harmonia na nossa história de vida, aceitando que muitas coisas acontecem sem escolhermos, mas tantas outras podem depender das nossas ações. A partir daí ver o que depende de si, e o que sente disponibilidade emocional para iniciar. Quando surgem momentos de tristeza, estes terão de ser vividos, pese embora não sobre-alimentados. Assim, quando estamos em processo de luto, pode ajudar deixarmo-nos ficar alguns momentos sós, a chorar, mas aproveitar os momentos de mais esperança e ânimo para avançar com o que consideramos ser verdadeiramente importante para a nossa vida e para os nossos. Celebrar cada pequena etapa e permitirmo-nos voltar a sorrir, a ter gosto em nos arranjarmos e sair à rua. Olhar à volta e ver e sentir quem nos rodeia. Que momentos positivos promove com os seus filhos? E com a restante família? Mantém relações de amizade? Que assuntos, para além do divórcio, ocupam as vossas conversas? O que gosta no seu trabalho? Que hobbies mantém? Faz exercício físico (ginásio, natação, corrida, bicicleta ou caminhadas)? Quantas vezes por semana? É religiosa? Se sim, tem frequentado a sua igreja? Quais os seus maiores objetivos de vida? O que pode fazer para os alcançar? O que mais gosta na sua vida atual?

Quando sentimos que há um bloqueio num processo de luto, pode ser de grande ajuda recorrer a um psicoterapeuta de modo a ter um acompanhamento que facilite este processo de mudança. Os ganhos poderão ser a vários níveis: para a Ana, os seus filhos, restante família e, claro, a nível profissional.

 

Envie as suas dúvidas para catarina.rivero@gmail.com

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