
Taj Mahal um poema de amor escrito em mármore, o mais belo edifício arquitectónico que a humanidade conheceu, o mais importante monumento da história identitária da Índia.

O que me trouxe à Índia, pela primeira vez, foi o chá. A Rota do Chá. Gosto de viajar a partir de um tema e explorá-lo intensamente. Procuro, assim, assuntos, que me possibilitem entrar o mais profundamente na geografia e cultura das regiões, países e povos.
O chá, na Índia, é um tema de eleição. Por um lado, leva-nos a percorrer uma Índia urbana, como Nova Deli ou Calcutá, mas, transporta-nos, ao mesmo tempo, para zonas rurais, onde a paisagem, as infra-estruturas produtivas, e o tecido social são geralmente desconhecidos da maioria dos visitantes. Neste caso, viajamos até ao ponto mais a norte da Índia, já a fazer fronteira com a China, o Nepal e o Butão. A Rota do chá permite-nos assim, conhecer, uma Índia multicultural e multiétnica.
Geograficamente, o itinerário da Rota do Chá leva-nos a Nova Deli, Gangtok, Darjeeling e Calcutá.
Ora, se olhar para um mapa da Índia, Agra, a cidade onde fica localizado o Taj Mahal, não faz parte natural do Itinerário desta Rota.
Mas, como seria possível visitar a Índia e não olhar, tocar ou sentir, o mais belo poema de amor escrito em mármore, transformado, pela força do amor, na peça arquitectónica mais perfeita da história humana? Não, não é possível nenhum ser humano dar-se a esse luxo.
Agra, foi então, a primeiríssima estação e o Taj Mahal o meu primeiro destino. Saí do aeroporto, ainda de madrugada, meti-me num autocarro e quatro horas depois, quando o sol já despontava, vi ao longe, a bola branca de luz, na qual se transforma o Taj Mahal durante o dia. Esperei em Agra, num Hotel, até que o sol começasse a baixar, a magnífica cúpula a despontar, e a mesquita, ao lado do Taj deixasse identificar as suas cores ocres.
Se quer tirar fotografias, explicaram-me, espere pelo pôr- do- sol, senão, as lentes das máquinas, não conseguem captar com definição o templo do amor, mas apenas, a bola de luz que vê, daqui, de Agra. E assim foi. Entrei no Taj Mahal às cinco da tarde. Os meus olhos foram as lentes permanentes com que durante os primeiros minutos fixei para sempre esta bela história de amor, escrita em mármore, que começa assim:
Era uma vez um rei mogol, Shah Jahan, Imperador da Índia entre 1628 a 1658, que durante vinte anos viveu loucamente apaixonado pela sua mulher, a quem chamava Mumtaz Mahal, a jóia do palácio, da qual resulta a abreviação Taj Mahal.
Mumtaz Mahal morreu em trabalho de parto ao dar à luz o seu 14 filho pedindo ao Imperador, como último desejo, que mandasse construir um monumento em memória do amor eterno que ambos tinham vivido.
O Imperador nunca mais deixou de perseguir esta tarefa, até à sua edificação, a qual, valeu, aliás, o declínio do seu Império, um dos mais ricos e cultos da Índia, submetendo, o resto do seu reinado à tirânica missão de construir o Taj Mahal, o templo do amor, revestido a mármore branco, incrustado com peças semipreciosas como o lápis-azul e, com uma cúpula, costurada a fios de ouro, materiais, trazidos de vários lugares do mundo, como a Arábia Saudita, o Egipto e Tibet, bem como de vários lugares da Índia.
O Imperador mandou ainda que o «templo do amor» fosse ladeado por duas mesquitas, raramente visíveis nas fotografias dos turistas, e cercado por quatro miranetes.
O Taj Mahal resulta assim da vontade de dois seres humanos perpetuarem um amor eterno, algo absolutamente original na cultura indiana, para quem o Amor, tal como o Ocidente o vive, não é um conceito aplicável ainda hoje a duas pessoas, mas apenas a Instituições como, por exemplo, a família.
Shah Jahan, o Imperador, gastou tudo o que tinha e não tinha, submetendo o seu povo a uma grave crise de fome, ao recolher todo o trigo que o Império cultivava para o distribuir apenas pelos vinte mil homens que trabalhavam no monumento, acabando por ser deposto pelo seu 14 filho, aquele, justamente, que nunca conheceu a mãe.
Mas, Shah Jahan, ainda assim, não se afastou da sua amante. Acabou os seus dias prisioneiro no Forte de Agra, na outra margem do rio Yamuna, olhando até à morte o Taj Mahal, esse poema de amor escrito em mármore, como escreveu Tagore, um dos maiores escritores indianos, e prémio Nobel.
A imensidão do Taj arrebata-nos pela simbólica, arquitectura, e geografia.
Aquele que é o mais simbólico e imponente monumento material da História da Índia, e do mundo, não tem dentro, senão, um pequeno caixão, também ele em mármore. Este caixão, pequeno, é o centro gravitacional do edifício. Tudo o resto é um silencioso vazio. O poema edificado está escrito nas paredes do monumento em árabe, através das letras sagradas do Corão, nas flores desenhadas no mármore, formando um maravilhoso jardim esculpido na pedra.
O rio é a moldura que envolve o Taj Mahal na intensidade pacifica das suas águas, onde a obra se reflecte em espelho, como se tratasse de dois corpos humanos, envolvidos um no outro, e desenhados no céu.
Taj Mahal o poema, a obra, e a vida.
Por Ana Paula Lemos
