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Ser perfecionista é mau?

Irene, 30 anos, Setúbal

30 de setembro de 2015 às 12:36 Dra. Catarina Rivero

Desde sempre que fui muito organizada e perfecionista e sempre achei que era algo bom. Considero que é por ser assim que sempre consegui atingir os meus objetivos académicos e profissionais e até gerir de forma positiva a casa e a vida familiar. Ultimamente porém o meu marido começou a dizer que eu era exageradamente perfecionista, que não admitia falhas a ninguém, e que estava sempre mais preocupada com a casa arrumada do que com deixar-me estar com a família. É verdade que tenho alguma dificuldade em relaxar, e não cultivo muitas amizades, bem como lido mal quando as coisas não correm como planeei… mas será que ser perfecionista, querer o melhor para todos, é mau?

 

Cara Irene, desde já agradeço a partilha e a felicito pelo percurso que tem feito e com o qual parece estar satisfeita. Deixo uma reflexão sobre o perfecionismo, as suas potencialidades e limitações.

Ser perfecionista, como uma crença de que tudo o que fazemos deverá seguir padrões de excelência, com perfeição e sem falhas, poder ser positivo ou negativo e a conversa tida com o marido pode de facto mostrar esses dois lados.

O perfecionismo adaptativo ou positivo é aquele que nos faz querer fazer o melhor e com rigor, seja nas relações, gestão da casa ou no trabalho. Está relacionado efetivamente com um elevado desempenho, mais autoestima, mais resiliência, autoeficácia e mesmo satisfação com a vida. Nesta qualidade de perfecionismo, os resultados tendem a ser muito bons, e as pessoas celebram os seus sucessos. Têm prazer nos processos em que se envolvem e demostram flexibilidade em relação às expectativas ou planos.

O que pode ser mais penoso no perfecionismo, é quando entramos num campo mal adaptativo (considerado por alguns estudiosos da área como perfecionismo neurótico). Quando se passa o nível do perfecionismo ótimo, este pode comprometer o bem-estar das pessoas em diversas áreas das suas vidas. Nas relações pessoais, tende a haver nestes perfecionistas um aparente medo de relações de intimidade. Surge a crença de que se mostrarem as falhas, pensamentos ou sentimentos "inadequados", ou outro tipo de característica ou atitude menos positiva, deixam de ser amados. Podem assim correr o risco de maior isolamento, na medida em que não se ligam genuinamente a quem os rodeia e temem frequentemente a crítica dos demais. Pode ainda haver a tendência para crítica recorrente aos outros (e a tudo o que os rodeia), já que muitas vezes se associa a uma postura excessivamente crítica, e por vezes até sarcástica, o que pode afastar os demais. Por outro lado, estes perfecionistas tendem a ser muito autocríticos o que leva naturalmente a um sentimento de que nada do que fazem é suficiente, trazendo assim muitas frustrações e maior fechamento. Este nível de perfecionismo está comummente associado a questões de depressão e ansiedade, bem como diferentes problemas emocionais e mesmo físicos (alguns autores associam também ao alcoolismo, problemas sexuais, anorexia, síndrome de intestino irritável, dores de barriga, etc.).

A arrumação e organização é muito apreciada pelos perfecionistas. Tal pode ser muito positivo, se moderado. Contudo, pode ter um impacto negativo no bem-estar quando se eleva a um nível de rigidez em que as pessoas deixam de conseguir apreciar a vida e as relações.

Que fazer? Antes de mais, se a questão surge, pode ser tempo de parar e refletir. Até onde é que o perfecionismo tem tido um impacto positivo? Em que medida está a comprometer o seu bem-estar individual e relacional? Se considerar que pode estar a experienciar um perfecionismo excessivo, pode ser útil recorrer a um psicoterapeuta que a ajudará a desconstruir os padrões de perfecionismo e gerir emoções, de forma a encontrar o seu equilíbrio e bem-estar.

 

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