Preta Gil, sem medo
Falava abertamente de qualquer temática. Na autobiografia lançada há um ano, dissertou sobre cancro, infância e traição. Revelando a maturidade plena, confessou também que se terá arrependido de posar nua no disco de estreia. Assim era Preta Gil, a liberdade em pessoa.

Era preta e lutou contra o racismo, era gorda e lutou contra a gordofobia no Brasil, um país profundamente misógino onde a discriminação racial faz parte do quotidiano. Era bissexual e não tinha medo de assumi-lo ao microfone. Chamava-se Preta Gil, morreu ontem em Nova Iorque, vítima de um cancro nos intestinos, tinha 50 anos. Faltavam apenas 18 dias para completar 51. Negra, mulher, gorda, bissexual, a artista e apresentadora ultrapassou todos os obstáculos que a sociedade lhe foi impondo. A sua última batalha foi o cancro, que assumiu publicamente, ajudando mais uma vez a desmistificar uma doença que ainda é alvo de estigma.
Anielle Franco, ministra da Igualdade Racial, lembrou que "Preta Gil foi e será sempre potência. Uma mulher que enfrentou o racismo, o machismo, a gordofobia e a doença sem nunca perder sua ternura, nem sua voz. Lutou muito por sua vida e por tudo em que sempre acreditou. […] Perdemos um símbolo de força, liberdade e amor pela vida". Preta era tudo isso. E muito mais. São muitos aqueles que lhe prestam homenagem hoje. Filha do compositor Gilberto Gil e de Sandra Gadelha, cujo nome ficou imortalizado na canção Drão.
Preta era a personificação da alegria de viver e da liberdade. Um bom exemplo dessa liberdade foi o disco de estreia Prêt-à Porter, de 2003, onde se mostrava em nu integral na capa. O disco deu que falar não apenas pelas faixas de música, mas pelas fotografias arrojadas. A pedido da editora discográfica, Preta tapou o peito. Fê-lo com fitinhas do senhor do Bonfim. Mas mesmo assim não se livrou de ataques misóginos, racistas e gordofóbicos, que revelaria mais tarde ter recebido. Foi também no início da carreira que assumiria ser bissexual, história que confirmou no ano passado no seu livro autobiográfico Preta Gil – Os primeiros 50. Opção sexual de que terá falado abertamente ao longo das várias entrevistas que deu a vários meios de comunicação social brasileiros.
Curiosamente, começou a debater-se com o preconceito com poucos dias de vida. O pai quis batizá-la de Preta e o notário contrariou que "não era nome de gente". O acordo ali selado foi que para ser Preta teria que ser batizada com um nome católico e assim ficou Preta Maria, nome de que a cantora se orgulhava muito. Muitas outras histórias de vida podem ser descobertas na autobiografia que foi lançada a 8 de agosto – no dia do seu aniversário – de 2024. O livro arranca com a hemorragia grave que a fez descobrir, no princípio de 2023, que estava doente. Operada de urgência, descobriria pouco tempo depois a traição do marido Rodrigo Godoy. "Ela adoeceu, ele foi embora", acusam algumas contas de Instagram.
Filha do grande compositor da Música Popular Brasileira, Gilberto Gil, Preta diria que as primeiras memórias que tem da infância são em cima dos palcos do Brasil. Nascida com cabelo liso e familiarizada com as luzes da ribalta, nem esta condição a impediu de ter que lidar com o racismo no seu dia a dia. Em criança, no colégio, ouviu: "filha de macaco não entra no meu carro", como reviveu no programa de Pedro Bial. Ainda nesse programa lembra que aquilo que poderia ter sido um bullying considerou ser a sua estreia. Vinda da Baía para o Rio de Janeiro não deixou que seu sotaque nordestino afetasse a sua autoestima natural.
Mais recentemente, em 2016, Preta foi protagonista de ataques racistas. A cantora não só fez queixa como sugeriu a outras vítimas que também se defendessem, denunciando este tipo de ataque. Em 2020, no Dia da Consciência Negra, Preta Gil lembrou a importância do papel da sociedade no combate ao racismo. "Nós (negros) não inventámos o racismo, foram os brancos. Eles têm que ser os responsáveis por romper e acabar com isso", alertou. Nessa altura disse ainda que esse tipo de ataques só a deixavam mais forte.
Preta era forte. Literalmente forte, e sem ser literalmente também. Ao colaborar numa coleção de moda de praia a cantora incluiu tamanho grandes para representar a diversidade que há nos corpos. "Quando as mulheres dizem que puseram um biquíni por minha causa, isso é libertador, porque sinto que compensa cada crítica com gordofobia, com racismo, com machismo que eu recebo", afirmou no portal Terra.br
Preta era forte. Foi forte ao mergulhar no mar baiano quando estava a recuperar de uma cirurgia, em março passado, e quis ir buscar o axé de Iemanjá. Quando subiu ao palco e cantou Drão, com o pai Gilberto. Preta foi forte ao rumar aos EUA, em maio, quando os médicos brasileiros esgotaram as possibilidades de terapia na terra natal. Sempre com esperança, integrou um programa experimental em que não havia qualquer garantia de cura.
Como diz a canção, "quem poderá fazer aquele amor morrer /se o amor é como um grão / morre, nasce, trigo, vive, morre pão". Preta não morre. Que viva entre nós como exemplo quando entrarmos no mar orgulhosas dos nossos corpos e das nossas cicatrizes.
Preta Gil preparava-se para regressar ao Brasil, mas o seu corpo sucumbiu a caminho do aeroporto. Já a sua alma viverá para sempre em cada um de nós.

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