Check-in Livros: Pequenas revoluções
Grandes mudanças. Hoje, como ontem, é preciso determinação, talento e coragem para devolver à mulher a igualdade que é um direito.

Helena Matos
Escritora
A autora assina, em parceria com o jornalista e escritor José Manuel Fernandes, Este País Não é Para Jovens (Esfera dos Livros), livro onde se traça o perfil socioeconómico do Portugal dos últimos anos, analisando os motivos que nos levaram à crise e refletindo sobre uma questão que se tornou essencial: a equidade entre gerações.
Compreender onde estamos e porque aí chegámos. Depois de três anos de crise, este é o livro que vem sistematizar informação?
Mais do que sistematizar informação, procurámos cruzá-la. Por exemplo, não se pode falar do endividamento das famílias sem falar do congelamento das rendas. Por causa dessa legislação que durou mais de um século, as gerações mais jovens endividaram-se para comprar a casa. Ainda mal tinham entrado na idade adulta e já tinham uma dívida para a vida.
Lê-se na contracapa que, depois da manifestação de 2013, o país mudou para sempre. Mudou mesmo?
O discurso contestatário ganhou um lado etário nessa manifestação: os mais velhos reivindicavam os seus direitos, organizavam-se para defender o que não queriam perder. Simultaneamente, uma frase banaliza-se na boca dos mais novos sempre que se fala daquilo que agora é o chamado universo de direitos adquiridos, nomeadamente no que respeita às pensões ou reformas: “Eu já não vou ter nada disso.”
O envelhecimento da população é uma das variantes mais importantes nesta equação da crise?
Temos uma boa notícia: vivemos mais. E vivemos mais com mais qualidade de vida. Folheiem os romances de Camilo ou Júlio Dinis e constatarão que, aos 40, sobretudo se fosse mulher, já se era considerada velha. As heroínas românticas tinham entre 14 a 20 e poucos anos. Portanto, é claramente uma boa notícia o facto de se viver mais e melhor. Mas viver mais implica mais anos a receber pensão e mais anos a fazer mais exames e tratamentos médicos que são também mais caros. Há não muitas décadas os exames médicos resumiam-se a umas radiografias e as pessoas que tinham direito a reforma usufruíam dela pouquíssimo tempo. Hoje, não é assim. E isso é determinante na despesa ou, se quiser, na “equação da crise”.
Há esperança para os mais jovens?
Os mais novos são, por si mesmo, um sinal de esperança. Convém que, além de esperança, também tenham muita atenção ao que é decidido de modo a que os seus interesses sejam tidos em conta. Por exemplo, que não se discutam apenas os cortes que estão a afetar os atuais pensionistas mas também os cortes que vão afetar as reformas daqui a dez, quinze ou vinte anos.
