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Para quê a procura de um guru?

Muita gente me pergunta porque é importante ter um guru? Na verdade nunca fui do género do filme Kumaré (se ainda não viu recomendo vivamente!), e até perceber o efeito guru, também teve o seu processo.

30 de maio de 2015 às 07:00 Filipa Veiga

Muita gente me pergunta porque é importante ter um guru? Na verdade nunca fui do género do filme Kumaré (se ainda não viu recomendo vivamente!), e até perceber o efeito guru, também teve o seu processo. Hoje não passo um dia sem pensar na inspiração que são para mim. 

Há quem passe uma vida inteira sem se conectar com o seu lado mais espiritual, nunca procurando um guru, que significa professor em sânscrito. De facto foi na Índia que percebi o real significado do que é ter um. Lá aprendemos que o nosso primeiro guru é a nossa mãe. É ela quem nos dá os primeiros ensinamentos e nos mostra o que é o amor e orienta e nos protege.

É sempre uma experiência diferente para cada um. Um orientador espiritual pode tratar-se de alguém que pouco nos fala, mas cujo olhar basta para entendermos o que nos quer dizer e transmitir. Um olhar que nos faz ir ao nosso íntimo e nos tira da zona de conforto e revela o que está escondido e, por vezes, não queremos enfrentar. É esse o crescimento que se ganha. Nem sempre o que mais queremos mas o único que nos faz ir ao fundo para depois do confronto podermos evoluir no processo de estabilizar a mente. 

Com o meu professor de yoga é assim, até porque ele diz muito poucas. Sempre que Sharath Jois diz qualquer coisa toda a gente apressa-se a querer interpretar, dar sentido. E logo tiramos consequências, para seguirmos desta ou daquela forma. 

Assim é porque na Índia se usa o sistema de transmissão de conhecimento entre discípulo e guru, o parampara, de geração em geração. Para além de ser um método eficaz de partilha de conhecimento, é uma forma de nos tocar o coração que nos livros pode perder a mesma inspiração. 

E quando sabemos que estamos perante um guru? Durante anos pedi para que me chegasse o tal guru. Pensei várias vezes que estaria perante ele. E por diversas vezes me desencantei. 

Acho, hoje, que são precisas duas circunstâncias essenciais.

A primeira é que a conexão venha do coração. Que haja uma ligação que se sinta, que venha de dentro, verdadeira e clara.

A segunda razão é que temos de estar preparados para ter um. Penso que foi por isso que tive muitos e bons professores pelo caminho, mas o guru chegou mais tarde. Eu precisava daquela preparação para depois me entregar com a fé necessária para que a relação dê os frutos que pretende.

Porque quando sentimos que o guru está ali, depois é segui-lo com fé. Porque não vai ser sempre fácil, nem nos vai fazer ouvir o que queremos ou dar o que desejamos. Bem pelo contrário. Sharath disse um dia que «um guru é aquele que nos acorda, não nos mima, não esperem disso de um guru, ele acorda-nos para o verdadeiro conhecimento, o caminho espiritual». Como um sadhana diário, a prática espiritual diária. Porque yoga é isso. Não é apenas uma ginástica bonita que nos faz o corpo lindo. É uma prática que nos acorda para o facto de que tudo cresce dentro de nós, tudo acontece dentro de cada um. E conta a história do escultor que todos os dias e com precisão, foco e magia esculpe e de uma pedra transforma-a numa linda escultura. «Precisa que não o perturbem, pois apenas quer fazer a sua arte, cada minuto é importante, cada passo é decisivo», conta.

A construção da escultura é como o yoga. Para esculpir temos de enfrentar o sacrifício, deixar de fazer muita coisa, perceber o caminho, perceber a mudança que acontece, entregar-nos. Tal com o escultor que passou horas esculpindo a pedra, o yogi segue o seu caminho de descoberta.

É nesse processo de experiência e de entendimento de como tudo funciona que reside a importância de um guru. Like that, diria ele. Por isso, sempre que acordo, faço a minha meditação e prática e, por fim, agradeço, a ele e a todos os gurus antes dele. Vande gurunam.

 

Namaste tribo saudável

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