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“O mais difícil é entrar na cabeça de uma personagem”

Conversámos com a autora do livro O Homem das Sombras, um thriller que se inspira no famoso caso do Tall Man, um perturbador fenómeno que ganhou proporções inimagináveis no mundo digital.

17 de julho de 2018 às 10:00 Rita Silva Avelar

Em 2014, quando uma criança de 12 anos, nos EUA, foi esfaqueada 19 vezes por outras duas crianças da mesma idade com o intuito de impressionar a lenda urbana do Tall Man,tomava-se consciência da gravidade (e do poder) desta personagem inventada no mundo cibernético. "Slender Man", como também é chamada esta figura fictícia, significa "homem esguio" e foi inventado em 2009 pelo usuário Eric Knudsen num fórum de discussão chamado Something Awful. Começou a ser associado a um perseguidor de crianças e à floresta, até que várias crianças adolescentes começaram uma série de desafios em género de sacrifício levado ao extremo, que terminou na morte de uma criança. Seguiram-se muitos outros incidentes graves, cometidos por crianças que se alhearam da realidade devido ao fenómeno. Autora de vários thrillers, a escritora inglesa Nicci Cloke interessou-se pelo fenómeno, estudou-o e inspirou-se nele para escrever O Homem das Sombras (The Tall Man, no original) sob o pseudónimo Phoebe Locke. Foi numa manhã de quarta-feira, no hotel Flórida, em Lisboa, que nos sentámos a falar com Nicci sobre o livro e sobre os mistérios por detrás da ideia de personagem irreal que tem tanto de mística como de perigosa.

Nicci, sempre quis ser escritora, à medida que ia crescendo?

Quando era pequena adorava escrever histórias e passava a vida na biblioteca a ler livros. Eu e o meu irmão costumávamos escrever as histórias juntos, naqueles computadores antigos que demoravam uma eternidade a ligar. Se acabássemos, por exemplo, de ver um episódio de uma série, era muito frequente irmos escrever o que achávamos que ia acontecer no seguinte. Quando me tornei adolescente continuava a ler mas não escrevia e, já na universidade, sabia que queria trabalhar com livros e acabei por trabalhar numa editora. Só depois percebi que isso não me satisfaria, que queria criar as minhas próprias histórias.

Nunca pensou seguir uma área diferente?

Ainda pensei em ser advogada (não sei de onde tirei essa ideia!), mas o meu pai disse-me: "Será mesmo isso que queres? Estar sempre a ver processos e a estudar?" E eu não queria, o meu pai estava certo.

Como nasceu a ideia para o primeiro livro?

Não me recordo de querer publicá-lo, mas da ideia, sim. Foi numa viagem de comboio. Foi o meu primeiro romance e só depois de muitos rascunhos e anos se converteu num livro.

O que despontou a história?

Nessa viagem de comboio, lembro-me de ver um cartaz e de imediato imaginar a histórias de duas personagens. A ideia para este thriller [O Homem das Sombras] também surgiu numa viagem de comboio. Deparei-me com um artigo que falava na lenda do Tall Man e fiquei mesmo interessada na história.

Quanto tempo levou a escrevê-la?

Quatro anos. Porque achava sempre que lhe faltava alguma coisa essencial.

Os adolescentes são um tema que lhe interessa?

Definitivamente. Há muita insegurança nessas idades, até porque não se sabe ainda quem se é. Neste livro isso é muito evidente porque a Sadie [uma das personagens] acredita de verdade na lenda do Tall Man. A Amber é uma adolescente insegura e está sempre na defensiva, porque a mãe a abandonou em bebé, e é uma personagem solitária.

Qual foi a parte mais difícil de contar a história?

Quis distanciar-me do que realmente aconteceu porque não quis explorar as vítimas da verdadeira história. O mais difícil foi entrar na cabeça da personagem Amber e, para isso, o meu editor enviou-me a um terapeuta para eu vestir a pele desta adolescente e falar da forma como ela era e porque agia de determinada forma.

Sentiu que estava na pele dela?

Sim, e é um lugar assustador para se estar. Mas acabei por percebê-la.

Com o filme Slender Man prestes a estrear, qual a importância de explicar o que é, de verdade, esta personagem?

O caso real do Slender Man cativou muitas pessoas, por ser tão assustador. É chocante que duas raparigas tão vulneráveis se tenham prendido a uma história de Internet que não tinha, inicialmente, ponta de verdade. E que as tenha levado a fazer algo tão horrível como matar uma pessoa. É muito importante que o fenómeno esteja a ser falado, até para se compreender que a história inicial era brincadeira, não uma ameaça.

É possível que o seu livro tenha uma continuação?

Sim, várias pessoas têm-me dito que gostavam de saber mais sobre a personagem Greta. E ela é a personagem mais doce, a que tem melhor coração. Talvez seja uma possibilidade: contar a história da Greta.

O livro O Homem das Sombras (Planeta), €18,85, já está disponível nas livrarias portuguesas.

Nota: No início deste ano, uma das agressoras foi condenada à pena máxima de 40 anos de internamento num hospital psiquiátrico. Inspirado neste livro, vai estrear o filme Slender Man produzido pela Sony, que passará nas nossas salas de cinema a 23 de agosto.

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