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Mulheres que fingem ser homens têm mais visibilidade no LinkedIn

Utilizadoras que mudaram o seu perfil para género masculino e que usaram linguagem empresarial máscula, forte e proactiva viram o seu "engagement" disparar. A plataforma desmente as acusações.

Cena do filme "Outrageous Fortune" com Bette Midler e Shelley Long disfarçadas
Cena do filme "Outrageous Fortune" com Bette Midler e Shelley Long disfarçadas Foto: IMDB | Outrageous Fortune
28 de novembro de 2025 às 12:06 Madalena Haderer

Se já deu por si no escritório, a espreitar por cima do ombro do seu colega enquanto ele passa umas boas duas horas (do tempo da empresa) a gerir o LinkedIn – posts, respostas, reacções, comentários, mensagens, pedidos de contacto – enquanto você, tudo o que tem é um pedido de conexão da sua tia Ernestina, duas reacções da sua amiga do liceu e um comentário hipócrita de uma ex-colega de quem nunca gostou, então, saiba que não está sozinha. Outras mulheres já passaram pelo mesmo e começaram a fazer contas de cabeça. Algumas concluíram que lhes cheirava a esturro e decidiram mascarar-se do suspeito do costume – homem branco de meia idade – para testarem uma teoria que começou a desenhar-se nas suas mentes. E, tal como esperavam, alterar o perfil para o género masculino fez toda a diferença. Ou seja, o dá mais visibilidade a posts de homens. O LinkedIn nega as acusações, mas os testemunhos acumulam-se. 

Tudo começou quando uma série de publicações, que viralizaram nas redes sociais, deram conta de que, para algumas mulheres, mudar o género para “masculino” aumentou a visibilidade na rede. Pouco depois, dezenas de mulheres juntaram-se, na semana passada e organizaram uma experiência colectiva de “mudança de sexo”. Outras, de acordo com o jornal britânico The Guardian, deram-se ainda ao trabalho de reescrever os seus perfis para ficarem “bro-coded” – em “jargão de mano”, digamos assim – “inserindo palavreado empresarial cheio de ação como “impulsionar”, “transformar” e “acelerar”. Tudo verbos másculos, aparentemente. Certo é que as mulheres que encheram o seu perfil com este linguajar também viram a sua visibilidade aumentar.

Num texto publicado no blogue da empresa, o LinkedIn reconheceu a tendência, mas afirmou que não considera “informação demográfica” para decidir quem recebe mais atenção. Em vez disso, explicou, “centenas de sinais” influenciam o desempenho de cada publicação. “Mudar o género no perfil não afeta a forma como o seu conteúdo aparece na pesquisa ou no feed”, terá dito ainda um porta-voz.

As evidências, porém, parecem apontar no sentido oposto. Simone Bonnett, uma consultora de redes sociais em Oxford, contou ao jornal britânico que alterou os pronomes para “he/him” – “ele” – e o nome para “Simon E” no LinkedIn e o resultado foi o seguinte: “Os números que estou a ver são um aumento de 1600% nas visualizações de perfil, o que é absurdo tendo em conta o estado atual das redes sociais, e um aumento de 1300% nas reacções. Alcances completamente loucos.” E se uma consultora de redes sociais diz que os alcances são “loucos” é porque devem mesmo ser.

Também Megan Cornish, estratega de comunicação para empresas de tecnologia na área da saúde mental, relatou a sua experiência ao The Guardian. Começou a testar as definições do LinkedIn depois de notar que o seu alcance tinha caído drasticamente este ano, sendo que, primeiro mudou o género para “masculino”, e depois pediu ao ChatGPT para reescrever o seu perfil com “linguagem codificada como ”, com base numa publicação que sugeria que a plataforma favorece palavras como “estratégico” e “”. Não satisfeita, pôs ainda a plataforma de inteligência artificial a reescrever publicações antigas que tinham tido pouco desempenho, usando a mesma linguagem de macho empresarial proactivo. Como já deve ter adivinhado, o alcance de Megan disparou, com “um aumento de 415% na semana em que testou as alterações”. Como se não bastasse, “escreveu uma publicação sobre a experiência e esta tornou-se viral, acumulando quase 5 000 reacções”, conta o jornal.

Um responsável do LinkedIn fez uma publicação em que explicou que a empresa usa um sistema de inteligência artificial para classificar publicações e decidir como as distribuir, tendo em conta o conteúdo, a identidade profissional e as competências de quem publica, e que “não considera informação do utilizador como idade, raça ou género”. 

A ser verdade, significa isto que o sistema de IA do LinkedIn desenvolveu uma grande apetência por vocábulos másculos. Manias.

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