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Jonathan Franzen: “Não ligo muito à divisão entre homens e mulheres, acho que todos temos os dois lados”
O escritor esteve em Portugal numa conferência organizada pela Fundação Luso-Americana, para falar sobre a América, de Trump à literatura, sempre com o sentido de humor on point que conhecemos dos seus livros.
Foto: Rui Ochoa/FLAD11 de outubro de 2017 às 18:34 Máxima
É o "grande romancista americano", o rótulo que a revista Time lhe colou, mas não gosta especialmente de falar para grandes audiências. "Prefiro estar a escrever, sou mais feliz quando sei que deixei uma frase a meio e que amanhã vou continuar a explorar aquela ideia. Não há nada melhor do que essa sensação", admite frente ao auditório quase cheio da Fundação Luso-Americana (FLAD), em Lisboa, que segue atentamente a conversa conduzida pela jornalista Isabel Lucas. O autor de Liberdade (2010) ou Purity (2016) regressa ao nosso país 30 anos depois ("Lisboa é Portugal, com respeito ao Porto ou a Coimbra, é aqui que está tudo a acontecer", comenta) para falar de literatura, da América de Trump, da sua relação com as personagens ou do amigo David Foster Wallace – só não lhe perguntem quem é o autor que mais o influencia. "É a resposta que mais odeio dar", diz.
Há qualquer coisa das suas personagens na forma como Jonathan Franzen se expressa, pela sua constante ironia, mas também pelas maneiras como as imagina, com todos os seus defeitos e contradições. "Uso muito daquilo que me acontece para escrever as minhas personagens, embora muitas vezes não o queira admitir", conta. "Tenho sempre medo de criar personagens femininas porque se diz que os homens não se devem meter nisso, não devem escrever sobre a cabeça das mulheres, mas na verdade ligo muito pouco a esta divisão do género, acho que tudo isso é fluido, todos temos os dois lados, menos, obviamente, do ponto de vista anatómico."
Descreve-se como "um escritor público", claro, porque tem opiniões, mas assegura que na América ninguém o ouve. Sobre Trump, Franzen faz questão de dizer muito pouco – não precisa, a sua expressão transmite-nos tudo o que queremos saber. "Preocupa-me o facto de ele ter os códigos nucleares e de ter escolhido uma pessoa tão perigosa para os assuntos do ambiente."
Jonathan Franzen nasceu em 1959, no Illinois, Estados Unidos, numa família que o próprio autor descreve como privilegiada. Publicou o seu primeiro romance, The Twenty-seventh City,em 1988, ao qual se seguiram mais quatro e vários ensaios. Em português, estão disponíveis os três últimos – Purity (2015), Liberdade ( 2010) e Correções (2001) e também A Zona de Desconforto, as memórias que escreveu em 2006. É nessas memórias que mais se nota a relação que tem consigo próprio, a origem da raiva que desde sempre o acompanha e que tenta explicar, mais uma vez, com sentido de humor. "Cresci zangado e com raiva, não tenho uma justificação para isso porque sempre tive uma vida privilegiada: tive uma boa família, saúde e sou branco, heterossexual, americano e andei numa escola de elite", ri-se. E conta como a sua relação com a estrada o convenceu definitivamente deste seu ‘problema’. "Há uns tempos cometi uma infração na estrada e tive de ter aulas sobre como ser melhor condutor, disseram-me que tenho road rage. Podia garantir que não, mas parece que é verdade. Há coisas que podemos fazer para controlar este sentimento. Mas sim, acho que sou alguém que tem muita raiva." Mas também é por isso que tem tanto sentido de humor, sublinha, porque, para entrarmos na cabeça das pessoas, "e a narrativa é isso mesmo, entrar na cabeça das pessoas e escrevê-las como elas são, é preciso termos um lado cruel".
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