Já não era sem tempo, Sarah Connor
Que a saga Exterminador Implacável sempre esteve à frente do seu tempo no que toca a apresentar heroínas em filmes de ação, não temos dúvidas. O filme regressa com três heroínas, interpretadas por Linda Hamilton, Natalia Reyes, e Mackenzie Davis.

O filme Exterminador Implacável - Destino Sombrio, do realizador Tim Miller, é o título da sexta longa-metragem da saga de ação e ficção científica. Sarah Connor (Linda Hamilton) regressa implacável como mãe do líder da Resistência Humana contra o domínio robótico, John Connor, e a soldado Grace (Mackenzie Davis). Arnold Schwarzenegger volta a interpretar o temido robô exterminador que entretanto se instalou com os humanos, adquirindo características como uma consciência ou sentimentos. Juntos enfrentam o novo exterminador, enviado para matar Dani Ramos (Natalia Reyes). O filme estreou em Portugal a 31 de outubro. Numa entrevista exclusiva à Máxima, as três atrizes de peso no elenco, Linda Hamilton, Mackenzie Davis e Natalia Reyes conversam sobre o projeto.
O que nos pode dizer acerca da sua personagem em Exterminador Implacável - Destino Sombrio?

Linda Hamilton: Bem, passaram-se 28 anos (desde que Sarah Connor esteve num filme do Exterminador Implacável). É muito tempo e muita coisa aconteceu (a Sarah). Na realidade coube-me a mim delinear a nova história e preencher esses 28 anos. Não é só uma questão de "oh, isto aconteceu" é preciso preencher todos os espaços em branco. De certa forma, a Sarah não mudou quase nada, mas se formos na direção em que ela estava no segundo filme e a expandirmos por 28 anos, muita coisa mudou. Ela continua a mesma, apaixonada, louca, selvagem - porque é assim que olho para ela; como uma coisa selvagem, mas a missão mudou. Ela é uma mulher sem país. O último filme acabou num lugar pacifico, com ela e o John na esperança de que tinham mudado o futuro desastroso que a que estavam destinados. Mas nesta altura ela não tem qualquer esperança. Por muito que continue a sua missão contra a tecnologia e as máquinas, ela não tem muita esperança ou amor pela humanidade, porque o homem é o verdadeiro responsável pelo seu declínio. Portanto Sarah não sente muito amor, mais raiva, motivação e necessidade de vingança, o que é uma nova posição na qual nunca a tínhamos visto. Esta é a Sarah, mas não como a conhece.
Natalia Reyes: A Dani é da Cidade do México. É uma rapariga jovem e feliz. É trabalhadora. Ama a sua família, o pai o irmão e o cão, é uma pessoa divertida. Mas também tem aquilo que desejou. Ela tinha o que achava ser uma vida simples, até sair do trabalho e perceber que há este novo Exterminador, uma máquina horrível, atrás dela. De repente, a Grace (Mackenzie Davis) e a Sarah (Linda Hamilton) aparecem, e têm de ajudá-la a escapar. É esse o caminho: três mulheres juntas, a ajudarem-se umas às outras, a escapar do Exterminador.
Mackenzie Davis: A Grace está lá numa missão, que é proteger a Dani Ramos. Talvez seja uma forma aborrecida de falar de alguém, mas é o núcleo absoluto de Grace. Ela sente-se concretizada e motivada por essa necessidade, por interpretar esse papel. Encontramos essa razão, as coisas pelas quais ela passou que a tornaram como é. Todas as coisas sobre as quais não posso falar são importantes, mas serão reveladas. O mais importante por agora é o facto de ela ser uma mulher incentivada por esse desejo de proteger, conduzida pela sua missão e extremamente focada no seu dever.

É fascinante ver a relação que as três têm ao longo do filme. Como é que construíram essa conexão no ecrã?
Hamilton: Quando a Natalia fez a audição comigo, alguma coisa fez sentido. Nem foi uma decisão consciente, acho eu. Foi algo dentro de mim. Algo que senti. Eu disse "Posso votar? Porque se sim, é esta. Bingo!". (Quanto a liderarmos as três o filme) bem, eu gostei da ideia de mudar um pouco, claro! Mas depende muito das atrizes com quem se trabalha, não? Para ser credível e ter bons resultados. E tivemos sorte. Tivemos muita sorte, quer dizer, tenho duas atrizes extraordinárias ao meu lado. E nós as três não somos os Anjos de Charlie, com um objetivo em comum. De momento, elas são as minhas pessoas favoritas no mundo. Sinto-me tão abençoada por tê-las. Cada uma tem os seus pontos fortes e as suas vulnerabilidades; é muito característico e humano. Porque entre as três, preenchemos todos os requisitos. Seja o que for que achemos que as mulheres conseguem fazer, é verdade, nós fazemo-lo. Adoro mesmo o poder de ter estas duas mulheres a meu lado.
Davis: Honestamente, passar a quantidade de tempo que a Linda, a Natalia e eu passámos em condições extremas – cada minuto de cada dia - num ambiente onde todos trabalham tão arduamente, sempre a correr, não seria de esperar que fosse uma forma tão alegre e descomplicada de fazer um filme no qual tenha tido o prazer de participar. Acho o elenco genial. Éramos todas diferentes e a interpretar personagens bem diferentes, a trabalhar no duro, pelo filme e umas pelas outras. Acho que se procurarmos uma razão específica, talvez tenha sido o facto de a Linda ter uma história com o franchise. Quer dizer, a Linda tem filhos "daqui" - ela estava a amamentar no início do "Exterminador Implacável 2"! Marcou a sua vida inteira desta forma mesmo significativa. Por isso, para entrarmos nisto enquanto ela regressava quase 30 anos depois, há uma reverência quanto ao que isto significa na vida de alguém. Eu senti isso durante algumas semanas, mas depois tornamo-nos só um grupo de pessoas a fazer um filme juntas. Quando nos habituamos, só esperamos que as pessoas não sejam estúpidas e devo dizer que trabalhei com duas das pessoas "não estúpidas" mais trabalhadoras na indústria.

Reyes: A relação entre as três foi uma das principais razões pelas quais quis fazer este filme. Esse tipo de dinâmica é algo demasiado raro, por isso quando a encontramos temos de agarrá-la! E realmente quando se tratou disso (no estúdio) acho que estávamos só a reagir, porque a relação era real. E isso não acontece com frequência. (…) Trabalhámos juntas, mas também passávamos muito tempo juntas fora do trabalho. Gostámos de passar tempo juntas, jantar juntas, falar das personagens. Nós as três viemos de lugares diferentes e temos idades diferentes, mas tornámo-nos numa família. Foi muito interessante desde o início ter esta relação incrivelmente próxima com a Linda. Acho que ela foi uma parte essencial da decisão de me colocar no filme. Ela aprovou e votou a meu favor. Na minha audição, ela foi muito encorajadora. E eu admirava-a mesmo pela atriz incrível que ela é. Ela esteve sempre lá no estúdio ao meu lado, a dar-me a mão e a abraçar-me. Eu pedia-lhe sempre por conselhos porque esta história é uma extensão da dela, como Sarah. Por isso ela foi como uma mãe, amiga e treinadora. Ela foi tudo. Foi muito importante para mim.
Porque quis fazer este filme?
Hamilton: O facto de termos o Jim (Cameron) no comando, mesmo como produtor. Eu reconheço mesmo que o Jim foi a maior força criativa nos primeiros dois filmes e que a sua liderança, o conceito geral do franchise, é muito importante. Mas mais do que isso, foi o facto de ter passado tanto tempo e de a situação ter mudado, mesmo que a minha personagem se mantenha a mesma. Havia coisas novas com que brincar. É isso que me intriga, como atriz: o tempo que passou e o potencial para explorar muito mais. Eu nunca quis continuar a fazer a mesma coisa, com uma recompensa diminuída. E neste caso foi diferente.

Davis: Eu ouvi falar do material e aprendi as relações (na história) – e cada peça nova que descobri prendeu-me. E depois havia o Tim (Miller), que é tão inteligente e sensível que eu soube que ele ia fazer algo realmente único neste género de filme. Não imaginava que o realizador (de um filme do "Exterminador") fosse tão sensível como o Tim, e quando finalmente li o guião, guardado a sete chaves, amei-o. Depois, claro, quando descobri que tinha conseguido o papel, tive um pequeno ataque de pânico! Pensei, "Eu não sou a pessoa que devia interpretar este papel! Não sou boa a karaté! Eu não consigo fazer acrobacias!" isso durou durante um bocado… Mas, falando a sério, tem sido uma honra tão grande fazer algo que está tão longe da minha zona de conforto. O Tim em particular acreditou que eu o conseguia fazer.
Reyes: Já fiz filmes; já fiz televisão. Mas nunca fiz um filme tão grande como este. Isto foi a uma escala completamente diferente. É o James Cameron. E o Tim Miller. E estou a contracenar com o Arnold Shwarzenegger e a Linda Hamilton! Por isso, foi um desafio de todas as maneiras. Temos de dar o nosso melhor, mas também, cada segundo aqui vale ouro. Temos mesmo de aproveitar este tipo de oportunidade. Por isso havia pressão, mas acabou tudo bem. Estou mesmo orgulhosa disto. E isso nem sempre acontece. Eu digo sempre "é preciso tanto esforço para fazer um filme mau como para fazer um filme bom". Às vezes trabalhas tanto e não dormes de tanta preocupação com a personagem e tentas e tentas, e depois, no fim, vês o filme e pensas "Oh, aquilo não resultou muito bem". Mas neste caso, graças ao empenho de todos, este é um filme mesmo, mesmo bom. Estou mesmo muito orgulhosa do que fizemos.
Fala muito bem de Tim Miller. Porquê?
Hamilton: Claro que sim! Eu adoro o Tim. Ele é um homem fantástico, um líder silencioso. Ele manteve-se firme, e isso é algo que aprecio muito. Ele é um realizador de ação, e teve um começo difícil, por acaso, por causa das nossas abordagens diferentes - um pouco em estúdio onde nos tínhamos de autocorrigir, eu e ele. Ele tinha um pouco de medo da minha bravura durante algum tempo. Mas isso são coisas que duas pessoas criativas têm de resolver… Afinal de contas, eu amo-o, assim como toda a gente. Havia sempre duas de nós (atrizes) à sua volta. E se houvesse espaço para uma terceira, ainda melhor. Gostamos assim tanto do Tim. Ele é uma pessoa verdadeira, com grandes ideias. Eu decidi há alguns anos que o meu trabalho é fazer o realizador feliz. É isso. Portanto encontrámos a nossa própria língua e eu amo-o para sempre.
Reyes: O Tim Miller tem um historial na banda desenhada, o Deadpool e o mundo da ação. E ele tem o que quer de uma forma muito clara na sua cabeça. Ele é um criador. Mas não há um super-herói ou herói de ação como a Dani. Acho que é por isso que o casting para este filme foi tão difícil. Porque eles não precisavam de nada que tivessem visto antes. O tom era "aqui está alguém do México, uma rapariga normal, da porta ao lado, que de repente se vê a ser perseguida por este exterminador." Por isso foi muito difícil arranjar referências para isso. Ele estava realmente a tentar encontrar essa personagem. Ela é nova.
Davis: Ele é um verdadeiro amante da banda desenhada, mas também é apaixonado pelas histórias. Ele tem estas histórias enormes para tudo e para todos, mas também reconhece que a fantasia é apenas uma forma de miragem dentro de histórias pequenas e verídicas. E ele focou-se tanto nesta história. Há tanto espetáculo relacionado com estes filmes – no que ele é excelente, já agora - mas eu não esperava que ele fosse tão bom com atuação, nem de termos conseguido gostar de fazer o filme. Estivemos ali para contar uma história, e eu amei-o.
Como foi a pressão de entrar no universo do Exterminador?
Hamilton: Num nível geral de bem-estar, eu tinha-me afastado. Vivo em Nova Orleães agora. Não tenho a vida de Hollywood. Nunca o quis na verdade, mas saí de Los Angeles há cerca de sete anos. Arranjei uma quinta em Virgínia, deserta, real. Não havia ar condicionado e nunca estava quente o suficiente no inverno. Vivi de forma muito autêntica, até à morte dos meus pais, e aí quis experimentar Nova Orleães, porque queria tentar algo de novo e sabia que nunca ia regressar a LA - eu nunca ando para trás, vou sempre para algum lugar novo. Portanto quando se tratou desta decisão, não sabia se queria trazer tudo isso de volta ao meu mundo. Eu estava a viver feliz para sempre, de certa forma parecia tão autêntico. E há uma parte de mim que sente que o que me tirou de Los Angeles foi uma rejeição a Hollywood e a toda a grandiosidade, aos egos insuflados, peitos insuflados e lábios insuflados. A autoestima inflacionada. Se você visse a minha quinta isolada, pensaria "wow, ela foi mesmo na direção oposta!" (risos). E em Nova Orleães encontrei um equilíbrio muito bom. E não tinha a certeza de que queria trocar isso por mais 15 minutos de fama. Mas senti que havia algo de novo a dizer.
Reyes: Foi divertido… (risos) Eu estava, e ainda estou, extremamente grata. Mas também foi um pouco assustador! Foi muita pressão. Mas essa pressão vem de mim, não dos outros. Eu estava fora do meu país, a gravar em inglês, que não é a minha língua materna…
Davis: Foi angustiante, de certeza. Mas também entusiasmante! Eu vi os primeiros dois filmes porque queria pertencer àquele mundo. Assegurei-me de que estava bastante consciente do mundo que ia ocupar – esta dimensão e tom. Eu adoro pensar no tom do que estou a fazer. Para mim, tentar elevar a minha atuação para operar a esta escala foi muito importante. Estou a interpretar tudo a um nível tão intenso - literalmente a vida e a morte. Seria bizarro estar neste mundo e interpretá-lo à estilo Mumblecore, muito calma e casual. Este a dimensão dita uma atuação maior. E há algo bastante mágico que acontece, estar neste mundo onde tudo é possível, e tudo pode acontecer.
Como foi o reencontro de Linda com Arnold nos bastidores?
Hamilton: Sempre tive um carinho pelo Arnold, e sei que ele é um amigo espetacular, excecionalmente leal. Eu estive cá para a sua inauguração (quando foi eleito Governador da Califórnia) e estava tão feliz por estar lá e testemunhá-lo. Mas, sabe, as nossas vidas levaram-nos em diferentes direções - ele frequenta os seus grupos e eu realmente não tenho muitos amigos famosos. É só a forma como a vida se desenvolveu. Portanto, tinham-se passado anos - desde a inauguração, por acaso - desde que o tinha visto. E foi chocante o afeto que senti por ele. Acho que estamos mais próximos que nunca. Há muito amor entre nós. E éramos só nós. Sabe, não olhámos um para o outro e pensámos "wow, dois ícones do cinema estão de volta!". Quer dizer, algumas pessoas podem vê-lo assim, mas eu não. Para os outros, podemos ser as duas personagens mais icónicas dos filmes, mas para mim ele era apenas o Arnold. Ele é muito divertido e ao mesmo tempo tão forte. (…) Divertimo-nos. Mais do que nunca, em termos do que pudemos fazer juntos.
Reyes: Foi muito entusiasmante. Mesmo entusiasmante. Vê-los a trabalhar juntos foi só incrível, mas também foi ótimo poder vê-los juntos por detrás das câmaras pela primeira vez. Eles não se viam há muito tempo, por isso vê-los reencontrarem-se e ver a Linda abraçar o Arnold foi lindo. Ao fim destes anos, eles tinham feito coisas diferentes. Ele tornou-se Governador (da Califórnia) e ela mudou-se, por isso vê-los juntos foi fantástico.
Davis: É engraçado. Por acaso eu vi esses filmes (1 e 2) à volta de seis meses antes de conseguir o papel neste (filme), completamente à parte. Só me disseram para vê-los porque eram um grande vazio no meu conhecimento! São filmes tão icónicos dos quais eu sabia por ter crescido nos anos 90, mas nunca os tinha visto. Por isso fazê-lo foi completamente emocionante e familiar. Mas quando se está a fazer o filme não se pensa "De repente, estes dois ícones entram no estúdio…" é muito menos dramático do que isso! Mas eu estava lá quando eles se reencontraram nas roulotes. Eu estava com o Arnold, vi a Linda entrar e foi mesmo adorável ver estas duas pessoas cujas vidas inteiras foram marcadas por este franchise enorme que fizeram há 28 anos voltarem a encontrar-se. Vê-los a ser amigos que se amam - foi um momento espetacular. Senti que aí fazíamos parte desta família maravilhosa, também. Foi tão bom trabalhar com estas duas pessoas que ainda se amam tanto.
