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Françoise Bettencourt-Meyers. Quem é a herdeira discreta do grupo L’Oréal?

Filha de Liliane Bettencourt, célebre socialite da elite francesa, Françoise viveu na sombra da mãe até um escândalo familiar estalar de forma muito pública em França. A herdeira do império de beleza francês esconde-se das luzes e prefere viver rodeada das suas paixões: a família, os livros e a música.

Foto: GettyImages
30 de abril de 2025 às 18:49 Maria Salgueiro / Com Rosário Mello e Castro

Pode uma grande fortuna conviver com uma vida recatada? Esse parece ser o caso quando falamos de Françoise Bettencourt-Meyers, a mulher mais rica de França, protagonista de uma história marcada por tensão familiar. Filha única de Liliane Bettencourt, socialite que, durante várias décadas, foi cartão-de-visita da L’Oréal e ícone da elite francesa, Françoise percorreu um caminho no sentido oposto — da exuberância para o recolhimento, do glamour para a sombra. A herdeira do império reformou-se a 29 de abril, aos 71 anos, deixando o conselho de administração do grupo francês ao fim de 28 anos como vice-presidente.

Em dezembro, Bettencourt-Meyers tornou-se a primeira mulher do mundo com uma fortuna avaliada em mais de 100 mil milhões de dólares (cerca de 88 mil milhões de euros). O seu estilo de vida, no entanto, desde cedo contrastou com estes números. Numa rara entrevista à Le M Magazine, revista do jornal Le Monde, afirmou com serenidade: "Como pode ver, não uso joias, não vivo numa mansão." A conversa aconteceu em sua casa: uma construção moderna de dois andares com janelas grandes, onde leva uma vida discreta, silenciosa, rodeada dos seus livros.

Nascida em 1953 em Paris, Françoise cresceu entre figuras ilustres da classe política francesa. O avô, Eugène Schueller, fundou a L’Oréal em 1909, depois de descobrir uma fórmula revolucionária de tinta capilar. O pai, André Bettencourt, foi ministro nos dois governos de Charles de Gaulle e amigo íntimo de Georges Pompidou. A infância de Françoise foi marcada por um isolamento protegido. Estudou num colégio de freiras anglo-saxãs, Marymount, em Neuilly-sur-Seine. Foi lá que, como relataria anos mais tarde, aprendeu a manter um semblante imperturbável perante a vida.

Foto: GettyImages

Esse traço reservado acompanhou-a ao longo dos anos e acentuou o contraste com a personalidade da mãe, exuberante, uma borboleta social. Liliane, que morreu em 2017, era presença assídua nos desfiles de alta costura, dona de um gosto refinado pelo luxo e conhecida por se rodear de companhias excêntricas. Françoise, por seu lado, preferia os livros, a música clássica e a solidão. Gosta de começar o dia a tocar piano, atividade a que dedica, por vezes, mais de três horas por dia. "A música é meu oxigénio", confessou à mesma revista.

As fissuras da relação conturbada com a mãe viriam a ser reveladas com o estalar de um escândalo público que abalou a família, o país e, eventualmente, o mundo — acabando por inspirar o documentário da Netflix O Caso Bettencourt: Escândalo com a Mulher Mais Rica do Mundo. Em 2007, Françoise acusou o fotógrafo François-Marie Banier de se aproveitar da fragilidade de Liliane, então com 87 anos, para receber mais de 1,3 mil milhões de euros em presentes, incluindo obras de Pablo Picasso, Henri Matisse e Piet Mondrian. O caso, que também envolveu a classe política francesa, incluindo o então presidente Nicolas Sarkozy, arrastou-se por uma década, e culminou na decisão jurídica de colocar Liliane sob tutela da filha e dos netos.

A lealdade de Françoise transpareceu então, pela primeira vez, na imprensa francesa. Depois de décadas em que a sua imagem pública — tímida, sisuda — era alvo de troça em revistas cor-de-rosa, que a acusavam de viver na sombra da mãe — brilhante, carismática — Françoise era agora notada, compreendida. Esse valor, a lealdade, parece também transparecer na sua vida privada. Casou com Jean-Pierre Meyers em 1984, ao fim de dez anos de resistência por parte da família Bettencourt, principalmente pelo facto de Meyers ser judeu. Continuam juntos até hoje. Tiveram dois filhos, Jean-Victor e Nicolas. Discretos como a mãe, integram a gestão da L’Oréal, de cujas ações a família detém uma percentagem de cerca de 33%.

Foto: GettyImages

O casamento com Jean-Pierre, neto de um rabino morto em Auschwitz, levou Françoise a mergulhar nos estudos inter-religiosos, sobre os quais escreveu uma obra monumental de cinco volumes. O seu universo parece girar em torno de poucas coisas: a família, os livros, a música, os amigos de longa data e as viagens silenciosas, preferindo Megève como destino de ski aos mais badalados Gstaad ou Saint-Moritz.

O estilo de Françoise surge como personificação desta personalidade aparentemente sombria. Roupas sóbrias, óculos de armações grossas e um lenço enrolado à volta do pescoço. Uma das maiores fortunas do planeta, mantém-se discreta, como já o era na infância.

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