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Estarei deprimida?

Sandra, 42 anos, Faro.

09 de março de 2016 às 15:04 Dra. Catarina Rivero
Sem ter motivo aparente, tenho vindo a sentir-me muito desligada e angustiada. Poucas coisas me interessam e sinto tristeza. Só me apetece dormir. Tenho tudo o que é suposto: casamento estável, filhos saudáveis, emprego simpático, estabilidade financeira e até ia ao ginásio com regularidade. Mas parece que de há algum tempo para cá, tenho dificuldade em apreciar seja o que for, que nada faz sentido… e eu era uma entusiasta com a vida… estarei deprimida? 
Cara Sandra, desde já a felicito pelas relações e atividades que mantém, bem como pela capacidade de assumir e procurar compreender a tristeza que sente nesta fase da vida – será um caminho importante para maior bem-estar.
A tristeza é parte integrante do nosso reportório emocional e é fundamental encará-la, mais do que negá-la. Compreender as nossas emoções é essencial se queremos cultivar o nosso bem-estar. A tristeza pode de facto surgir em diferentes fases da vida, não sendo sinónimo de depressão, mesmo quando objetivamente parece que tudo está "certo". Tal prende-se com uma das mais importantes dimensões da nossa felicidade (ou bem-estar subjetivo) que é o sentido da vida. Se bem que para muitos, tal possa parecer algo de menor imporAtância ou longe do seu quotidiano, para o nosso equilíbrio emocional, necessitamos de sentir que a nossa vida faz sentido, que tem um propósito e/ou que está de acordo com os nossos valores ou com o que acreditamos. O questionamento sobre este sentido pode trazer alguma angústia, mas tal pode não ser negativo, pois irá permitir que se encontre um caminho ou sentido para os dias. A felicidade ou bem-estar depende assim de um equilíbrio entre as emoções positivas experienciadas (felicidade hedónica) e o sentido atribuído à vida (felicidade eudaimónica). Se é importante e de grande ajuda cultivar emoções e relações positivas no quotidiano, parece também ser fundamental que a forma de viver esse quotidiano acrescente significado. Sentir-se bem passa por, sobretudo e nesta perspetiva, olhar para a vida e sentir que esta está de acordo com os seus valores e causas em que acredita (seja a família, a ciência, a política, a participação cívica ou a religião), que tem um sentido de pertença e que olha para o futuro com confiança. Naturalmente que nem sempre esta dimensão estará sólida, já que vai sofrendo transformações ao longo da vida. Alguma tristeza pode surgir nos períodos de questionamento, sem com isso levar a uma depressão.
A depressão, por seu turno, será mais do que estar triste (por uma perda ou "crise existencial"). Esta é uma patologia bem identificada, cujos sintomas são intensos, prolongados no tempo e interferem nas atividades quotidianas. A depressão é hoje um dos grandes flagelos mundiais, afetando, de acordo com a Organização Mundial de Saúde, 350 milhões de pessoas em todo o mundo. O seu impacto é bem visível na esfera emocional do indivíduo, mas também tem implicações ao nível social: nas relações íntimas, profissionais e/ou comunitárias. Os indivíduos em depressão vêm ainda a sua capacidade de concentração e atenção diminuídas, tendo por isso um impacto social mais alargado, já que compromete a capacidade de manter o seu desempenho nas diferentes áreas de vida. Verificam-se ainda alterações ao nível do sono e apetite, podendo comprometer também a saúde física. A depressão é multifatorial, podendo advir de múltiplos desafios da vida, mas também de uma eventual predisposição genética. Todavia, é na forma de olhar para a vida, para si próprio e para o mundo que muitas vezes se percebe o impacto, bem como no ânimo para viver o dia-a-dia. A investigação tem sido grande nesta matéria, havendo resultados inspiradores da intervenção e tratamento com psicoterapia, podendo, em alguns casos, passar por apoio farmacológico, pela psiquiatria.
 
Desta forma, mais do que procurar um diagnóstico, deixo o convite a refletir sobre o sentido dos seus dias. O que a move? Quais os seus sonhos? O que mais celebra da sua vida? Como gere o seu quotidiano? Quais as atividades mais gratificantes? Quais as que lhe acrescentam mais significado? Que obstáculos tem vindo a gerir? Que forças e recursos tem utilizado nesse sentido? Naturalmente que, nos momentos mais frágeis, podemos ter maior dificuldade em encontrar respostas. Pode ser sempre tempo de recorrer a um psicoterapeuta que a poderá ajudar a encontrar um equilíbrio emocional desejado, com bem-estar pleno.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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