"Surpreendentemente honesto e zangado", escreveu o The Washington Post sobre Love and Trouble, o novo livro de Claire Dederer. A jornalista do New York Times assinou-o aos 40, altura em que passava por uma fase que descreve como "muito difícil, com momentos de desleixo e impaciência, enquanto vivia o despertar de sentimentos inconvenientes e do desejo sexual".
Agora, conta à Máxima como fez sentido comparar-se à miúda inexperiente que foi com 18 anos, à procura de sexo e amor, presa numa intensa montanha-russa emocional que viria a repetir-se mais tarde, quando já era mãe.
Porquê escrever as suas memórias agora?
Quando fiz 45 anos comecei a pensar de uma forma quase obsessiva sobre a minha idade, sobre as minhas experiências e os problemas todos em que me tinha metido. Esta fase começou, em parte, porque a minha filha estava a entrar na adolescência e preocupava-me que fosse uma miúda tão difícil e mal comportada como eu tinha sido. Comecei a escrever sobre esse período da minha vida, quando era rebelde, infeliz e tinha uma enorme curiosidade sexual. Eventualmente cheguei à conclusão de que estava a passar pelas mesmas situações agora, aos 40. Percebi que tinha voltado a ser a mesma miúda.

Fala das suas experiências como adolescente e como mulher adulta. O que muda com a idade?
Quando era uma miúda o amor e o sexo eram o mais importante para mim – bem, além de ler. Pensava que estava aqui para amar. Quando chegamos aos 40 parece que aprendemos tudo sobre a nossa própria resiliência, as nossas capacidades e forças. Aprendi que era mais complexa e competente, que tinha mais poder do que alguma vez imaginei.

Se pudesse voltar atrás no tempo, à adolescência, o que diria a si mesma?
Eu estive com muitos rapazes, mas não queria ter vivido de outra maneira. Acho que aprendi muito com todas essas experiências sexuais. O que diria a mim própria, se pudesse, era para ser uma amiga melhor. É tudo o que importa nesta vida – a amizade entre mulheres.

Mas mais interessante ainda é a pergunta contrária, ou seja, o que é que a minha versão adolescente me pode ensinar agora? De alguma maneira o meu livro é uma tentativa de resposta a esta pergunta. Quando era adolescente sabia exatamente que importância tinha o amor, a beleza, o sexo, o desejo, a diversão. Mais tarde esqueci-me de que tudo isto é fundamental durante a vida.
Será que com a idade ficamos mais conscientes do nosso corpo e da nossa sexualidade?

Usei a imagem de uma espiral no livro porque para mim faz todo o sentido. A sexualidade é como um sentimento e essa consciência vai e vem. Parece que vem com intensidade de tempos a tempos no meu caso; mas também desapareceu quando os meus filhos eram crianças, por exemplo.
Concorda que as mulheres ainda se sentem, de alguma forma, inibidas em relação à sua própria sexualidade?
Sim! E têm razões para se sentirem assim – as mulheres ainda são avaliadas, criticadas e julgadas pela sua sexualidade. Aqui, nos Estados Unidos, o meu livro saiu esta primavera e eu cheguei a receber e-mails e cartas de ódio. Cheguei a receber mensagens no correio de minha casa a questionar o meu atrevimento em falar sobre estes temas. É por isso que é importante contar estas histórias e tentar lutar contra estes preconceitos e contra a tentativa social de fazer com que as mulheres se sintam envergonhadas por falar sobre sexo.
Será que há uma idade específica que assinala um ponto de viragem na forma como olhamos para nós próprias, como olhamos o nosso corpo e as nossas relações com os outros?
Nunca pensei sobre isto. No meu caso, o maior ponto de viragem aconteceu no momento em que fui mãe. De repente, tinha uma nova função, completamente nova. Depois de ser mãe a sexualidade deixou de ser a primeira função do meu corpo, que se tornou uma máquina capaz de cuidar de outra pessoa.
Muitas mulheres disseram que nunca tinham pensado sobre estas questões até lerem o seu livro. Como é que se apercebeu de todos estes temas?
Foi muito difícil! Vivi uma fase muito complicada durante os meus 40 anos. Sou uma pessoa extremamente analítica (e autoanalítica) e não podia deixar de me questionar sobre o que me estava a acontecer, porque é que estava a sentir que esta experiência era tão dura. Tentei ler sobre o assunto, mas não encontrava livros que falassem do que eu sentia. Então comecei a escrever, imaginei que me podia dar algum conforto. Na verdade, saber que ia ajudar outras mulheres incentivou-me a continuar a escrever quando, por vezes, o livro me parecia demasiado pessoal ou honesto.
Sente que este livro mudou, de alguma forma, a sua perspetiva? Será que escrever as suas próprias experiências foi libertador, no sentido em que a ajudou a superar uma fase difícil e a compreender melhor a situação que estava a viver?
Não é bem dessa forma que olho para o livro. Acho que os livros que ajudaram os autores a superar os problemas, como uma espécie de processo de cura, são terríveis de ler para nós, leitores. É importante compreender as nossas experiências pessoais e eu recorro muito à escrita para me ajudar a fazê-lo, mas guardo esses textos para mim. O resultado deste processo de tentar descobrir-me e compreender o que me está a acontecer através da escrita são papéis que vou deitar depois para o lixo. O livro divertido e com sentido de humor que vai ser útil para quem o compra só pode ser escrito quando já ultrapassámos o processo de autoconhecimento.
