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Ella Nor: "Se pudesse voltar atrás, teria feito mil coisas diferentes, essa deve ser a maldição de quase todos os artistas"

Do palco do The Voice à Eurovisão, Ella Nor construiu um percurso marcado pela descoberta artística e pela vontade de explorar diferentes sonoridades. Agora, prepara-se para lançar um novo projeto com o coletivo MOGNO e continua a desafiar fronteiras entre géneros e campos artísticos.

Foto: Telmo Pereira
25 de fevereiro de 2025 às 07:00 Bianca Montez / Com Rita Silva Avelar

Com uma carreira que atravessa projetos a solo, bandas e colaborações diversas, Leonor Andrade, mais conhecida pelo seu nome artístico Ella Nor, nunca se limitou a um único caminho na música. A experimentação sempre foi uma constante no seu percurso, desde os primeiros passos na banda do irmão, Maria Caffe, até à afirmação enquanto artista independente.

Em conversa, reflete sobre as experiências que moldaram a sua identidade musical, o impacto do seu primeiro álbum, Setembro, e os desafios de encontrar o seu próprio som. Com um novo projeto a caminho e uma exposição-concerto que alia música e artes visuais, Ella Nor continua a reinventar-se, sem medo de arriscar.

Foto: Telmo Pereira

O seu percurso na música começou cedo, mas foi o acaso que a levou a ser vocalista. Em que momento percebeu que a sua voz era o seu verdadeiro instrumento?

Desde sempre que cantar foi uma consequência do que escrevo. A primeira vez que concretizei esta ideia foi na minha primeira banda "Maria Caffe" quando tinha 16 anos. Na verdade, a banda era do meu irmão e eles precisavam de um vocalista, então decidi candidatar-me.

Do The Voice à Eurovisão, passou por muitos momentos que marcaram a sua carreira. Como é que essas experiências moldaram a artista que é hoje?

Em retrospetiva, talvez por ser muito nova no momento do The Voice e [também no] da Eurovisão, sinto que ainda estava um bocado perdida artisticamente, não fazia ideia de qual seria o meu "sound" e essa pressão e ansiedade em fazer tudo muito rápido para fazer jus às expectativas foi, sem dúvida, o mais desafiante. No caso da Eurovisão, o impacto que teve em mim foi brutal. Acho que só me apercebi da dimensão quando pus os pés em Viena.

Foto: Telmo Pereira

O álbum Setembro foi um marco na sua trajetória: como é olhar para esse disco agora, quase uma década depois?

O disco Setembro foi o meu primeiro álbum a solo e, por isso, vou guardá-lo sempre com amor. Porém, sinto que se pudesse voltar atrás, teria feito mil coisas diferentes, mas acho que essa deve ser a maldição de quase todos os artistas.

Em 2025 vai lançar um novo projeto com o coletivo MOGNO. O que pode revelar sobres essas novas sonoridades?

Em 2025, este álbum de colaboração com os MOGNO vai ser o foco principal. Para além de sermos muito próximos e já termos abraçado vários projetos juntos (entre eles songwriting para outros artistas e termos feito o projeto "todas as cartas de amor são ridículas") esta junção das nossas sonoridades pareceu-nos o passo certo a dar.

Foto: Telmo Pereira

A exposição – concerto "Todas as cartas de amor são ridículas" alia música e artes visuais. Como surgiu esta ideia e que impacto quer que tenha no público?

Há dois anos recebi um telefonema do João Telmo a falar-me desta ideia incrível que depois se viria a concretizar nesta exposição-concerto. O João Telmo tem sido meu stylist nos últimos 10 anos e, além da enorme amizade que nos une, existe uma grande sinergia no tipo de projetos que nos cativa. "Todas as cartas de amor são ridículas" é um exemplo disso. Uma das coisas que mais me fascina nesta ideia é o facto de não estar centrada na obra de Pessoa a que estamos habituados, há até quem se refira a estas cartas que Pessoa escreveu a Ophélia como uma obra menor. O papel dos MOGNO na produção musical foi fundamental, explorámos um sound mais agressivo/industrial e foi a cama perfeita para poder interpretar a loucura e vulnerabilidade de Pessoa.

Este editorial visual junta referências de Almodóvar ao design português. O que a fascina no universo cineasta e como traduziu isso para este projeto?

Eu e o João Telmo temos sido, desde há uma década, companheiros de uma viagem artística. Novamente, foi o João que me propôs esta união: entre mim e Pedro Almodóvar. Na verdade, a ideia era unir o universo pop de Almodóvar com o meu background punk-rock, e refleti-lo num editorial. Por ser fã do trabalho de Almodóvar, não podia fazer mais sentido.

Foto: Telmo Pereira

É vocalista dos LEFTY, tem projetos a solo e colaborações diversas. De que forma equilibra estas diferentes facetas e o que cada uma lhe traz de único?

Sempre me senti tentada a expressar-me de muitas formas diferentes. Há uns anos, sentia que o facto de não me conseguir integrar numa gaveta só podia ser uma desvantagem, e cheguei a considerar que esta minha vontade de estar sempre a querer experimentar sons diferentes ia ser a minha âncora. Hoje, encaro essa minha faceta camaleónica de forma oposta. É super ok ter uma banda punk rock e lançar um projeto pop a solo de seguida.

A cena musical portuguesa está em constante evolução. Como vê o espaço para artistas independentes e que mudanças gostaria de ver no setor?

Sinto que, felizmente, hoje temos mais facilidade em divulgar o nosso trabalho do que há 20 anos, seja através de redes sociais ou editoras independentes. Sinto que tem existido cada vez mais intercâmbios criativos entre os próprios artistas, mais colaborações, entre-ajuda, e isso deixa-me feliz.

Foto: Telmo Pereira

Ao longo dos anos tem experimentado diferentes géneros e abordagens musicais. Há alguma sonoridade ou colaboração inesperada que ainda gostava de explorar?

Deve haver muitas que nem eu própria sei. Hei-de descobrir.

Se pudesse dar um conselho à Leonor que começou a tocar piano aos quatro anos, o que lhe diria hoje?

Dir-lhe-ia para não se preocupar absolutamente nada com que os outros podem achar da nossa arte, porque esse não é o ponto da questão.

Foto: Telmo Pereira

Créditos:

Direção Criativa: João Telmo

Fotografia: Telmo Pereira

Styling: João Telmo

Assistentes de Styling: André Falcão, André Sombreireiro e Rebecca Zola

Cabelo: Eduardo Eestevam e Eric Ribeiro

Maquilhagem: Margarida Caldeira

Agradecimentos: Maquinorma Lda., Jorge Gonçalino & João Mello

Vestuário

Ana Maricato

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Lidjia Kolovrat

Manel Baer

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