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É uma Pessoa Altamente Sensível? Este teste, feito por uma psicóloga, ajuda a saber

Em entrevista à Máxima, a psicóloga Elaine N. Aron explica que a sensibilidade deve ser normalizada, e ensina como enfrentar a vida quando tudo à nossa volta nos afeta.

Foto: Pexels / Maria Orlova
10 de maio de 2021 às 15:52 Rita Silva Avelar

Conhece alguém que fica instantaneamente sensibilizado com tudo o que se passa à sua volta? Que fica de lágrima do olho ao ver outros de semblante triste, mesmo que sejam desconhecidos, ou ao ouvir uma notícia menos boa no telejornal? Alguém que fica sobressaltado quando um colega da trabalho atende o telefone com um tom mais alto do que o normal? Que se isola com frequência para ficar em silêncio? Pode estar perante uma Pessoa Altamente Sensível (ou PAS) uma designação que a psicóloga Elaine N. Aron descobriu há um quarto de século. É sobre isso que trata o seu livro Pessoas Altamente Sensíveis: Como enfrentar a vida quando tudo nos afeta, um fenómeno literário em todo o mundo, agora editado em Portugal pela Lua de Papel.

É um livro que promete mudar vidas, sem pretensões de ser um guia aborrecido, mas sim de dar conselhos sobre como enfrentar os dias quando se é extremamente sensível. Ou ajudar quem se rodeia de pessoas com este traço de temperamento. Sim, além disso, ajuda a ver esta qualidade como uma virtude, explorando as suas mais-valias, deixando para trás as fraquezas. No primeiro capítulo, "A falsa sensação de ser fraco", a escritora começa precisamente por aí. 

Foto:

As pessoas continuam a associar a sensibilidade a uma fraqueza, é um traço de personalidade depreciativo ou negativo. Sentiu isso ao longo da sua vida?

O que eu descobri foi que há quatro características associadas às pessoas altamente sensíveis. A primeira relaciona-se com a tendência que temos para pensar de forma profunda sobre tudo, para processar todas as coisas de forma intensa. A segunda é que temos respostas emocionais fortes às coisas (o que se relaciona com a primeira). Ficamos estimulados de forma assoberbada com o "exterior", tudo é demais, tudo é demasiado longo. Notamos tudo o que é subtil, tudo o que normalmente as [outras] pessoas não notam. E há ainda uma quinta característica, que se relaciona com esse lado da fraqueza, que é a suscetibilidade diferencial. É o que nos torna mais vulneráveis às coisas más, mas também nos faz querer fazer melhor, quando expostos às coisas boas. Com os estudos que temos levado a cabo, estamos a ver cada vez mais as forças das PAS [Pessoas Altamente Sensíveis]. Eu acho que, em parte, ver-se a sensibilidade como uma fraqueza tem a ver com os homens, a sociedade espera deles que sejam fortes, machos… há uns que são, outros são mais emocionais e menos competitivos.

Da sua experiência, há muitos homens a disfarçar a sensibilidade?

Sim, alguns. Alguns prosseguem carreiras que se compatibilizam com essa sensibilidade, mas é difícil fazer generalizações. Há um artigo de John Hughes no LinkedIn sobre as capacidades das pessoas altamente sensíveis para serem líderes. O que sabemos é que há cada vez mais homens a discutir este tópico em fóruns na internet, o que já é um passo.

Começa tudo na educação?

Entre 20% a 30% das pessoas têm PAS, o que é uma minoria (e sabemos que temos tendência para julgar as minorias de alguma forma). É importante que os pais não forcem as suas crianças a ser como restantes 70% a 80% [se fizerem parte das PAS].

Descobriu por acaso que era uma destas pessoas. Foi por isso que começou a estudá-la?

Costumo sempre aconselhar as pessoas a ver o documentário Sensitive, the Untold Story. No meu caso, tudo começou quando um médico me disse que eu tinha uma tendência para o exagero nas reações, e que precisava de umas quantas sessões de psicoterapia para resolver isso. Fui, e a terapêuta disse-me: bem, você é uma pessoa altamente sensível. Ela nunca tinha usado o termo antes, mas disse-me: eu também sou uma pessoa altamente sensível, e o meu marido também. Isso levou-me a querer descobrir o que significava esse termo, psicologicamente, porque também eu era (sou) psicóloga. [Na altura] não encontrei informação, a não ser que o termo é usado em pessoas prodígio, e bons pais. A partir deste momento, o meu marido, que é muito bom investigador e trabalha com números, juntou-se à minha pesquisa. Nunca quis escrever um livro de autoajuda ou tornar-me famosa, mas tudo o que descobri está no livro.

Mas começou tudo porque querer perceber o que se passava consigo.

Sim, eu queria muito perceber. A Psicologia usa o termo sensibilidade, e as pessoas também, mas o que é que significa isso? Era sobre esse significado que estava curiosa.

Como podemos inverter essa associação negativa às PAS?

Continuar a pesquisa, e falar muito sobre o assunto. Há 25 anos que falo nisto às pessoas, mas sem grande "publicidade". Hoje em dia, na Europa há mais investigação sobre o tema do que nos EUA. O tempo fará com isso aconteça…Sabemos que as PAS sofrem com frequência porque acham que há algo de errado com elas.

Quem pode dar este diagnóstico na comunidade médica?

Há um teste no livro que qualquer pessoa pode fazer. Em relação aos homens é sempre mais difícil, porque alguns deles aprendem, ao longo da vida, a disfarçar esta sensibilidade. Perguntar aos pais ajuda, especialmente se a criança for tímida. Mas atenção, 30% das PAS são pessoas extrovertidas, e muitas delas são mesmo high sensation seekers [pessoas que tendem a procurar adrenalina e experiências intensas], e essas são as mais difíceis de diagnosticar.

Qual foi a última grande descoberta que fez nas suas investigações?

Há inúmeras. Estamos a rever a escala que caracteriza uma PAS. Há um estudo que envolve o cérebro, velocidade e literacia, mas sobre o qual não posso ainda falar. Posso dizer que continuamos a encontrar diferenças nos cérebros das pessoas altamente sensíveis. Estamos a fazer uma outra experiência visual, que consiste em identificar com mais ou menos rapidez determinados objetos num cenário (as PAS tiveram melhores resultados, mas sentiram-se mais stressadas após a experiência).

Foto: Licia Sky

Escreveu o livro há 25 anos, mas tornou-se um fenómeno recentemente.

Sou muito introvertida, e reconheço que me custa responder a todas as pessoas e dar entrevistas. Sei que as pessoas adoram quando dou workshops, mas fico muito exausta logo a seguir. Seria mais fácil se fosse uma PAS extrovertida. No meu caso, como introvertida, penso sobre as coisas de forma muito profunda e consciente, e preciso de me isolar, afastar-me da minha vida social, de vez em quando.

É mais difícil reconhecer um extrovertido que seja uma pessoa altamente sensível?

Sim. E ainda sobre os extrovertidos que são high sensations seekers, aborrecem-se facilmente, gostam de fazer coisas novas, pode fazer com que seja difícil perceber que são pessoas altamente sensíveis. É difícil encontrar um lifestyle para estas pessoas. Uma solução para eles é o que você faz, entrevistar pessoas de diferentes áreas, estar sempre a conhecer gente diferente. Uma PAS nesta área conseguirá certamente ter uma sensibilidade maior para saber o que os leitores mais gostam de ler. Nas relações, estes tipos têm alguma dificuldade em ter um/a parceiro/a à altura.

Qual é o lado mais difícil em ser-se uma PAS?

Ser-se demasiado estimulado/a. Ser obrigada a estar num avião durante 24h, por exemplo. Algo assim é terrível. Geralmente não gostam de violência ou terror nos filmes, tudo o que é negativo nos afeta. Até os high sensations seekers não gostam de perigo verdadeiro.

Acredita que estas pessoas têm uma capacidade maior de sentir as emoções dos outros?

Sim, inclusive há estudos sobre o cérebro que mostram que isso é verdade, que essas pessoas sentem mais empatia (essas partes do cérebro ficam mais ativas). Ou quando vêm uma pessoa com um semblante triste, ficam também [tristes], sejam estranhos ou próximos. Há também uma associação a um lado sobrenatural, mas eu não gosto de falar sobre isso.

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