Despe-te! A virtude e o pudor medem-se em centímetros de saias?
Sim e... não. A verdade é que a nudez já não é o que era.
A avó da minha melhor amiga de infância zangava-se com ela quando a via despir-se em frente à televisão. “Olha os senhores”, gritava-lhe, da sala, assustada com a possibilidade do apresentador do Telejornal espiar os joelhos à neta. Parece mentira, mas isto aconteceu, e não foi há 100 anos – foi há 30.
O avô da minha amiga só viu a mulher nua duas vezes na vida: a primeira quando entrou, a despropósito, no quarto, enquanto ela dava à luz; a segunda quando a encontrou, desmaiada, aos pés da cama, com a toalha de banho mal enrolada, no dia em que comemoravam as bodas de prata. Com os nervos, a senhora tivera uma quebra de tensão.
A mãe da minha amiga, essa, casou virgem e passou a noite de núpcias a tremer (tendo em conta que a boda foi em Julho, não creio que fosse de frio). Consta que só começou a despir-se à frente do marido – de candeeiro aceso – ao fim de dois anos de matrimónio e dormir sem camisa de noite, acho que só depois de ele a ter levado, à socapa, a Lisboa para irem ver O Último Tango em Paris.
R., a minha amiga, tinha truques incríveis para fintar o puritanismo da avó. Mal batia a porta de casa, enrolava a saia na cintura e, num ápice, a kilt por baixo do joelho transformava-se numa mini-saia irresistível, e ela numa lolita de Nabokov. Loura e tudo!
Não sei se R. compra a Playboy mas foi dela, e da sua avó, que me lembrei quando ouvi falar pela primeira vez de Bruna Real. Que diria a Dona Angélica se soubesse que há professoras que aproveitam os intervalos das aulas para posarem nuas para revistas? E que essas marotas respondem aos puxões de orelhas do Ministério com novas sessões fotográficas e grupos de apoio no Facebook? Acho que a dona Angélica morria se visse certas fotografias de miúdas de 12 anos no Facebook. Como é que se explica a uma mulher que se tapava toda para seduzir, que hoje a regra é andar nua – ou quase?
Não digo que o pudor tenha passado completamente de moda.
Conheço quem o utilize como armadilha. C. diz-me que quando está mesmo interessada num homem, faz-lhe o teste da gola alta. Vai ao armário buscar as peças menos excitantes que lá tem – saias compridas, calças largas e golas subidas – e apresenta-se assim no primeiro jantar a dois. Se ele não inventar nenhuma desculpa para ir pô-la a casa antes de chegar a sobremesa, passa à fase seguinte.
Pelo contrário, A. usa a roupa interior para se testar a si própria. Quando está a sair com alguém e tem dúvidas sobre o futuro da relação, combina encontros nos quais aparece com soutiens velhos e cuecas de gola alta. Tem tanta vergonha de ser vista assim, que já sabe que mesmo que a temperatura chegue aos 40 graus, não há sexo.
A P., o que o fascina é a possibilidade de lhe sair uma destas coelhinhas de Mirandela na rifa. Diz que está farto de ser enganado com soutiens de enchimento e calças de cintura descaída. “Assim não há como errar. Como dizem nos filmes americanos, ‘What you see is what you get’” (algo como “o que vês é o que tens”). Não está nada mal pensado.
A propósito, já alguém reparou na profusão de cursos de sedução vendidos como vouchers para o paraíso? Todos têm uma aulinha de striptease, com direito a varão ou dança da cadeira. Mas como em tudo, é preciso ter um certo jeito. E moderação. Já vi uma noiva abanar tanto a cabeça no varão, que saiu do workshop com um torcicolo valente. E outra que suou tanto para se ver livre das calças de velcro, que em vez de estar a fazer um striptease, parecia a ajudante do mágico a tentar libertar-se das correntes.
Acho que se a Dona Angélica viesse cá abaixo, teria muito dificuldade em entender que a nudez já não é o que era. Como convencê-la de que uma rapariga que use mini-saias de um palmo pode ser mais casta que a minha amiga da gola alta? (Essa nem enfaixada, tipo múmia, passa mais de três meses sem contacto físico). E explicar-lhe que é normal que algumas mulheres usem mais roupa para dormir do que para ir trabalhar?
Talvez a Dona Angélica fosse sensível aos argumentos da mãe da Bruna, que já garantiu que a filha é um exemplo de virtudes: não fuma, não bebe, não gosta de sair à noite e é muito responsável. Só se despiu para a Playboy. Mas isso até a Marilyn Monroe, caramba…
AS 10 MELHORES PLAYMATES DE SEMPRE
Marilyn Monroe foi a primeira, em 1954. Não se despiu nas páginas centrais, mas fez capa. Os americanos elegeram-na a melhor. Conheça as outras 10 e saiba como lidaram com a fama.
1. Marilyn Monroe (Dezembro de 1953)
Consta que foi depois de posar para a Playboy que conseguiu papéis nos filmes Some Like it Hot e How to Marry a Millionaire. A sua morte continua envolta em mistério: suicídio ou homicídio?
2. Anna Nicole Smith (Maio de 1992)
A modelo da Guess tornou-se famosa e rica – casou com o bilionário texano do petróleo Howard Marshall, 60 anos mais velho do que ela. Morreu de overdose acidental em 2007.
3. Pamela Anderson (Fevereiro de 1990)
Apareceu morena nas páginas da Playboy, mas foi já loira que se tornou famosa na série Marés Vivas. Conhecida pelas relações amorosas conturbadas, continua íntima do fundador da revista.
4. Betty Page (Janeiro de 1955)
Eleita como Miss Pin Up Girl por Hugh Hefner, foi um ícone fotográfico dos anos 50 e 60, mas nunca se afirmou no Cinema. Morreu aos 85 anos.
5. Shannon Tweed (Novembro de 1981)
Companheira de décadas do baixista dos Kiss, Gene Simmons, fez diversos thrillers eróticos mas dedicou-se, sobretudo, aos dois filhos.
6. Jenny McCarthy (Junho de 1994)
A ex-namorada de Jim Carrey (separaram-se em Março passado) começou como modelo, mas fez vários papéis no Cinema e participou em inúmeros programas de televisão.
7. Kelly Mónaco (Abril de 1997)
Nomeada duas vezes para os Emmys como a Samantha McCall da série General Hospital, é uma das poucas morenas que teve direito às centrais da revista.
8. Dorothy Stratten (Agosto de 1979)
Participou em dois filmes, no início da década de 80, mas foi a sua morte, aos 20 anos, que fez dela uma quase lenda. Dorothy foi assassinada pelo marido, Paul Snider, e a sua história contada no filme Star 80.
9. Jayne Mansfield (Junho de 1963)
Considerada uma versão mais exuberante (e mais roliça) de Marilyn Monroe, foi um sex symbol dos anos 50 e 60, sendo a primeira actriz a aparecer nua num filme (em 1963). Morreu de acidente de automóvel, aos 34 anos.
10. Shanna Moakler (Dezembro de 2001)
Modelo e ex-Miss USA, casou com o baterista da banda Blink -182, Travis Barker, e protagonizou com ele um reality show que passou durante duas temporadas na MTV.
