Coração Nas Mãos
Depois de uma longa e bem-sucedida carreira nas passerelles, Anna Westerlund descobriu a plenitude no seu ateliê de cerâmica. A Máxima foi conhecer o seu trabalho e, pelo caminho, tropeçou em memórias de infância.
A vida de uma modelo com carreira internacional tem altos e baixos, sendo que no topo da lista dos baixos estão geralmente as saudades da família e as horas infinitas de espera nos aeroportos. No entanto, se falamos de aviões falamos de viagens, e Anna Westerlund soube tirar partido disso como ninguém. “Sempre gostei de pintar e brincar com diferentes materiais, mas nunca me tinha passado pela cabeça que isso poderia vir a ser uma profissão”, revela. “No entanto, enquanto fazia a faculdade viajei muito como modelo e aproveitava para contactar com artistas e conhecer ateliês. A cerâmica acabou por chamar-me por acaso, quando me apercebi que, se havia outras pessoas a viverem disso, eu também podia fazer o mesmo.” Com a licenciatura em Marketing e Publicidade interrompida, Anna concentrou os seus estudos num curso da Ar.Co, tendo terminado a sua formação em 2006. Assim nasceu Anna Westerlund Ceramics.
De ascendência sueca, Anna Westerlund cria peças em grés (“porcelana parece demasiado industrial”, salienta), onde brinca com tecidos, contas ou madeira, conferindo às suas cerâmicas um toque rústico e elegante, digno da mesa de qualquer hot spot de Estocolmo. Na verdade, a ceramista ainda hoje recorda os seus verões passados no norte da Europa onde, talvez pelo clima e a maior disponibilidade financeira, existe “uma verdadeira preocupação na decoração e conforto dos ambientes”. “No Natal, por exemplo, as casas são todas enfeitadas com mil e uma luzes. Lembro-me de ser miúda e pedir ao meu pai para ir passear na rua para poder espreitar para dentro das casas. Sentia realmente a diferença.”
Ao contrário do que é o percurso habitual de uma marca deste género, que aposta na produção em série para assegurar a sua rentabilidade, Anna Westerlund Ceramics investiu no oposto. Por exemplo, as peças da coleção de inverno 2013, apelidada de Watercolour devido à sua paleta cromática, foram exclusivamente criadas à mão e apenas reproduzidas em séries de dez unidades. “Mesmo assim, criei estas coleções por necessidade”, comenta. “Inicialmente, fazia apenas itens únicos, mas fui obrigada a aumentar porque havia sempre alguém a pedir o tal bule que tinha visto uma vez.”
Numa época em que por comodidade nos rendemos às propostas massificadas de grandes marcas como Area ou Ikea, não admira que projetos mais de nicho acabem por gerar curiosidade, mesmo fora de portas. Especialmente quando falamos de objetos como os criados pela ceramista, que equilibram tão bem o seu lado funcional e o design. Não é de estranhar que o trabalho de Anna Westerlund tenha já estado exposto no conceito MoMA, de Nova Iorque, em 2010.
Com uma carreira sobre rodas – e três filhos pequenos fruto do casamento com o ator Pedro Lima –, não sobra tempo a Anna Westerlund para sentir falta do seu passado como modelo. “A minha reforma está muito bem resolvida e tudo aconteceu na altura certa”, responde quando indagamos se, por vezes, não batem as saudades das passerelles. “A moda alimentou a minha criatividade, mas levou exatamente ao lugar onde quero estar hoje. A criar no backstage.
