
MARIA GADÚ | Discurso direto
Mais maduro e íntimo que os seus últimos trabalhos, Guelã é o novo álbum de estúdio de Maria Gadú. A cantora e compositora brasileira, autora de êxitos como Shimbalaiê, dará dois concertos em Portugal – a 4 de março no Centro Cultural de Belém e a 6 de março na Casa da Música.
O que há de diferente neste novo disco?
A diferença é que o tempo passa. Muita coisa divide este do meu último trabalho: a minha idade, as minhas responsabilidades… Nestes últimos cinco anos, pude percorrer bastante mundo, conhecer outros músicos, outras culturas sonoras, sobretudo de África. Fui ouvindo canções, lendo livros, e tudo o que absorvemos vai mudando a nossa forma de colocar para fora. Eu dei um tempo para conseguir absorver coisas e agora tive oportunidade de as expor.
Guelã significa gaivota. Este disco traduz o seu desejo de liberdade?
Acho que é mais do que um desejo, é ser livre mesmo. Eu não desejo ser livre, eu sou livre. Acho que quem deseja ser livre é preso. Para mim, a liberdade é isso. Escolhi esse nome e essa capa [com asas], porque senti que ali eu estava alçando mais um voo, importante, solitário. A gaivota faz isso, atravessa oceanos. E reli, depois de muitos anos, um livro chamado Fernão Capelo Gaivota, que tem muito a ver com este voo solitário, com o autoconhecimento. O autoconhecimento é muito bonito e tem a ver com a liberdade – acho que é sobre isso que fala o disco.
Embora seja um "voo solitário", o disco conta com algumas colaborações.
Eu não compus muito ao longo destes anos todos – quatro anos separam um disco do outro. Tinha poucas canções e respeitei: fiz o disco do tamanho que eu tinha para dar. Foi gravado a pouquíssimas mãos, somos só cinco músicos, executando todos os instrumentos. Produzi o disco em casa, não foi difícil, foi fluido, fiquei muito tempo maturando as ideias.
Há uma pequena participação da Mayra Andrade neste último disco [no tema Sakédu]. Como é a sua ligação com ela?
A Mayra é uma grande amiga, tenho-a no coração. Eu tenho pouquíssimas amigas mulheres, tenho mais amigos homens e a Mayra é uma das poucas mulheres da minha vida. Tenho um respeito muito grande por ela, pela pessoa que é, pela musicalidade que tem. É uma pessoa muito ampla, muito múltipla, que vem do tempo em que esteve em França, das influências crioulas de Cabo Verde e da sua costela meio lusa – agora até está a morar em Portugal. A Mayra transporta-me para diferentes lugares, apresenta-me coisas – para mim ela é um portal.
Que experiência lhe trouxe poder tocar fora do Brasil?
A experiência é incrível, o mundo é lindo. Eu já venho de um país que tem uma multiplicidade cultural muito grande. O Brasil é muito rico em quantidade de coisas diferentes e é muito bom poder sair e continuar a surpreender-me. Claro que temos a música americana, que o mundo inteiro consome, mas eu acho que o Brasil é pouco ligado ao resto do mundo. É por isso que me sinto privilegiada por poder sair do país e consumir essas preciosidades da cultura. Estar ali a absorver tudo, só aprendo.
O que podemos esperar dos seus concertos em Portugal?
Muita alegria. Estou muito feliz por poder fazer mais uma vez um show em Portugal. É como se estivesse voltando a casa, sinto-me muito confortável e grata, acho o público português muito interessado. Nós seremos quatro em palco, vai haver um cello [violoncelo] ligado com pedais e vamos tocar músicas dos outros discos só que com uma sonoridade diferente. Acho que vai ser um show intrigante, mas a gente faz com a maior alegria do mundo.
