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Assédio no futebol feminino. "Estou sempre a receber fotografias de homens nus", desabafa Giulia Gwinn

No passado dia 21, a atleta alemã lançou uma autobiografia onde, além de falar sobre o seu percurso como jogadora profissional, aproveitou para desabafar sobre as desvantagens de ser mulher no mundo desportivo e o recorrente assédio online que recebe.

Jogadora Giulia Gwinn
Jogadora Giulia Gwinn Foto: GettyImages
29 de maio de 2025 às 14:52 Inês Henriques / Com Rosário Mello e Castro

A futebolista Giulia Gwinn lançou no passado dia 21 de maio uma autobiografia intitulada Write Your Own Story. Para além de falar sobre o seu percurso como jogadora profissional de futebol a médio do Bayern Munique aproveitou para desabafar abertamente sobre as desvantagens de ser mulher no mundo desportivo. Escreve a Tua Própria História (tradução livre, uma vez que não existe ainda edição portuguesa) fala sobre o processo de desenvolvimento de Gwinn como desportista e sobre como superou as adversidades de juventude. No livro, aproveitou igualmente para se abrir sobre alguns momentos difíceis, como o processo de recuperação das duas roturas de ligamento que sofreu e como estas a ajudaram a amadurecer e a tornar-se numa profissional melhor.

No entanto, o tema que se destacou foi o assédio que a mesma diz receber todos os dias nas suas redes sociais. "Estou sempre a receber fotografias de homens nus, ou como conhecemos, 'nudes'. Este tipo de conteúdo aparece constantemente nas minhas DM (mensagens diretas) do Instagram. As fotos e as mensagens são sempre de contas anónimas. Apago-as e denuncio as contas. Isto é assédio!”, disse Giulia. A jogadora afirmou que esta é uma das principais desvantagens de ser mulher no futebol mas que não deixa que este tipo de comportamentos a afetem. O seu principal objetivo é inspirar jovens raparigas e mulheres que não existe apenas um caminho que devem seguir. “Devemos ser sempre corajosas, acreditar em nós próprias, para depois podermos escrever... a nossa própria história", frisou durante apresentação do livro.

Revelou ainda já ter recebido diversas propostas da Playboy, revista de entretenimento erótico direcionada principalmente para o público masculino, para fazer sessões de fotografias. "São bonitas e boas do ponto de vista estético, sem dúvidas, mas não é para mim... Publicar uma fotografia de biquíni na minha conta está 'ok', mas tudo o resto ultrapassa os meus limites pessoais", acrescentou.

Entre os 350 convidados para o lançamento do livro estava o presidente do Bayern de Munique, Herbert Hainer, este dirigiu algumas palavras ao público onde disse "Esta foi uma noite extremamente bem-sucedida. Giulia não só deu às pessoas uma melhor compreensão do futebol feminino, mas também chamou a atenção para a forma como as mulheres jovens, em particular, podem afirmar-se no mundo de hoje. Ficou claro quanta força ela precisa para seguir seu próprio caminho. Ela inspira e transmite que tudo é possível."

São cada vez mais os casos trazidos a público sobre o assédio às mulheres no desporto. Um caso que teve um grande impacto em 2023 foi o de Jenni Hermoso, depois de Luis Rubiales, presidente da Federação Espanhola de Futebol, ter forçado um beijo com esta durante a final do Campeonato do Mundo Feminino. No entanto, quando pensamos que as reações negativas seriam dirigidas ao presidente, a verdade é que foi Jenni que sentiu as consequências deste ato e chegou a sofrer ameaças de morte e pressão para gravar um vídeo onde desmentisse o carácter forçado do beijo. Em Portugal um exemplo claro foi o caso de assédio sexual denunciado por várias futebolistas do Rio Ave, entre 2020 e 2021, por parte do ex-técnico do clube de Vila do Conde, Miguel Afonso. O treinador terá "trocado mensagens íntimas com várias jovens entre os 18 e os 20 anos do plantel do futebol feminino.”

Jenni Hermoso e Luis Rubiales.
Jenni Hermoso e Luis Rubiales. Foto: GettyImages

Os casos de abuso de poder, discriminação e cultura de silêncio, não só no futebol mas em diversas outras modalidades desportivas, persistem e realçam um problema muito real. Até quando as mulheres continuarão sem poder frequentar em paz os mesmos ambientes que os homens?

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