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As novas musas dos museus

Enquanto mantêm as portas fechadas, muitos museus e instituições estão a expandir-se para outro tipo de cultura: a dos influencers.

Foto: Instagram @yvane_j
30 de abril de 2020 às 07:00 Vitória Amaral

Esqueça o lifestyle e a beleza. A nova tendência das redes sociais são os chamados influencers da cultura, a quem os museus e instituições recorrem para criar conteúdo que os ajude a renovar a sua imagem. Numa altura em que as visitas físicas são impensáveis, não faltam soluções online que mantenham o público envolvido. No Reino Unido, o British Museum investiu na plataforma Google & Arts, que permite aos curiosos uma visita virtual às galerias disponíveis. Já em Portugal, o Millenium BCP acaba de anunciar a sua Agenda Cultural Virtual , que oferece uma multiplicidade de opções para toda a família, desde atividades a monumentos. No entanto, o Instagram surge como uma potência dinâmica que pode ser a nova ponte entre este tipo de instituições e o público geral.

A chamada "cultura dos influencers" é uma realidade que, embora fluida, tem um impacto significativo em todos os participantes nas redes sociais, com mais prominência no Instagram. Pelo seu carácter visual esta é uma das redes sociais mais rentáveis não só para as marcas, mas também para os seus utilizadores mais populares, que podem assim contar com eventuais patrocínios e colaborações com as mesmas. O emprego destes influencers, ou "criadores de conteúdo", como muitos se autointitulam, é criar um feed que mostre uma vida ideal, cuidadosamente desenhada. Os mais bem-sucedidos concentram-se nas áreas de lifestyle ou beleza.

Independentemente do que a maioria publique, num Instagram hoje desprovido de novos conteúdos no exterior, incluindo visitas aos museus e galerias, o conceito de influencing é obrigado a uma adaptação e expansão de matérias. Uma vez que muitos dos seus eventos ou exposições não chegaram a ser vistos pessoalmente pelas massas, muitas instituições e museus recorrem a bloggers já dedicados à cultura e arte (ou até moda) que por sua vez usam essa presença online como meio de dinamizar e, claro, promover as agendas online.

No Instagram da Biblioteca Nacional da França, no Grand Palais ou da Philarmonie de Paris, há um nome que surge com frequência: @la.minute.culture. Por detrás desta conta está a blogger de 30 anos, Camille Jouneaux, que assinou uma parceria com estas instituições para mostrar algumas das suas exposições. Na sua conta pessoal, criada em 2019, Jouneaux mostra e comenta algumas obras primas, reunindo mais de 60 000 seguidores que observam os seus conteúdos diariamente.

Outro caso de sucesso é a conta @sapecommejadis (com 10 000 seguidores), de Yvanne Jacob, cujo hobby de eleição é a moda. Em parceria com o Grand Palais, em Paris, fez parte de uma retrospetiva da exposição dedicada ao artista renascentista El Greco. O resultado? Jacob esteve encarregue da conta do museu durante um dia em que explicou, numa insta story descontraída, a história por detrás das roupas e cores utilizadas nas obras do pintor.

As galerias e empresas mais pequenas também não se deram por vencidas, como se comprova no perfil da empresa de novos media ArtDrunk, que hoje reúne mais de 50 000 seguidores no Instagram. Fundada em 2015 por Gary Yeh, tem como objetivo mostrar o maior número de exposições possível pelo país, e acaba de construir a sua própria plataforma editorial de forma a manter este contacto com os seus seguidores. O mesmo se aplica a Sarah Andelman, proprietária da concept store Colette, responsável por diversas colaborações entre a arte e o mundo da moda. Em dias de isolamento, Andelman continua a ser um ícone criativo online que fotografa galerias e showrooms de todo o mundo (como as cadeiras robóticas de Urs Fischer na Gagosian), ou o mundo dos bastidores da Semana da Moda de Londres.

Mesmo que estes influencers prefiram o termo de "criador de conteúdo", já que preferem concentrar-se nas suas criações em vez de no tamanho das audiências, o seu público é precisamente o que interessa aos museus ou fundações. Numa entrevista da revista Madamme Le Figaro, Claire Séguret, responsável pela gestão das redes sociais da Biblioteca Nacional da França, revelou que "não é tanto o número de seguidores que importa para nós, mais sim a taxa de participação". Trata-se assim de um serviço mais qualitativo que quantitativo, em que a arte é traduzida e comunicada na perspetiva do blogger dentro de uma comunidade muito específica, desinibindo tanto o público como a instituição, além de facilitar o contacto entre ambas as partes.  

 

Publicação de La Minute Culture a promover a exposição dedicada a Kiki Smith na Monnaie de Paris
Foto: Instagram @la.minute.culture
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Yvane Jacob, autora de Sapé Comme Jadis, fotografa arte de rua
Foto: Instagram @yvane_j
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Publicação de Gary Yeh, criador da Art Drunk, na Kukje Gallery em Seoul
Foto: Instagram @artdrunk
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Quadro "O Espólio", de El Greco, no Instagram do Le Grand Palais para anunciar a sua colaboração com o blog Sapé Comme Jadis
Foto: Instagram @sapecommejadis
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