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"A minha filha é homossexual e o meu marido é homofóbico. Como gerir?"

Catarina Rivero, psicóloga, explica como lidar com situações inesperadas da vida, abordando a questão da liberdade sexual.

Foto: Anna Shvets /Pexels
07 de agosto de 2020 às 10:52 Catarina Rivero
"Sou mãe de uma jovem, de quem me orgulho muito pelo ser humano fantástico que se tornou, sendo que é homossexual. Há uns anos, quando me revelou que tinha uma namorada, confesso que foi um choque, mas rapidamente me coloquei ao seu lado. Enquanto mãe, só quero que seja feliz e farei tudo por isso. Mas depois há o meu marido, a quem amo muito, mas que não é perfeito… uma das suas grandes imperfeições, aos meus olhos, é ser muito homofóbico. Ele é preconceituoso em relação a tudo o que é diferente, mas vamos brincando e desmontando… mas sobre este tema é diferente. Trata-se da nossa filha. Até hoje não quer conhecer a namorada da minha filha (outra miúda impecável, sua colega de faculdade) e recusa conversas. Com o atentado de Orlando, estoirou uma enorme discussão cá em casa. Cheguei ao meu limite. A minha filha também. Como resolver?" Amélia, 50 anos, Santarém
 
Cara Amélia, antes de mais, quero felicitá-la pelo orgulho que tem na sua filha, bem como pela atenção que está a dar à dinâmica familiar. 
A homofobia é ainda frequente e presente nos mais variados contextos. Estudos apontam para questões de ordem individual (traços de personalidade, falta de flexibilidade psicológica, uma rigidez que afeta a forma como as pessoas se relacionam com quem é diferente de si próprio e/ou dos que lhe são próximos), mas também questões de ordem social (a educação e a sociedade em que se integram, sistemas sociais mais ou menos abertos à diferença, maior ou menor contacto e tolerância face a quem é diferente de si próprio – repare, a titulo de exemplo no tocante a questões LGBT, como a diferença é tantas vezes pouco ou nada presente em histórias infantis, programas televisivos, etc.). Das múltiplas influências, a homofobia vai sendo alimentada em algumas pessoas, que podem despersonalizar uma pessoa, pelo facto de ser homossexual (ou bissexual, ou transgénero…), tornando-a em algo negativo pelo facto de ‘ser’, aos seus olhos ‘fazer parte de dado grupo’, neste caso da comunidade LGBT. Entre os múltiplos fatores que podem levar à homofobia, esta pode levar a situações de agressividade e extrema intolerância, como uma atitude de defesa face ao ‘ataque’ à sua noção do que é certo ou adequado.
Numa sociedade heterossexista como ainda é Portugal - piadas e reações hostis face à comunidade LGBT ainda são aqui muito praticadas e toleradas em diversas situações -, muitos pais irão idealizar o percurso relacional e afetivo de seus filhos de acordo com a ideia de uma relação heterossexual, como sendo o mais positivo ou mesmo "o certo". Se, quando os filhos optam por revelar a sua orientação sexual, muitos pais sentem um choque, em grande parte das famílias acabam por aceitar, fazendo o luto desse seu ideal heterossexual, e ajudando o seu filho a ser feliz e a lidar com o eventual preconceito dos demais. Este apoio será fundamental para o jovem, com impacto positivo na sua autoestima e bem-estar. A estigmatização, segundo a investigação, tende a levar a situações de depressão, baixa autoestima e isolamento social.
Não raras vezes as famílias passam por um período de crise depois da revelação da homossexualidade de um filho. Nesta crise poderá haver lugar para tristeza, medo e mesmo zanga. Conversarem sobre o tema, isto é, sobre o bem-estar da vossa filha, pode ser em tudo facilitador. As discussões e conflitos, que tantas vezes acontecem, não têm de ser negativas nem disruptivas, mas podem, pelo contrário, fazer parte do processo de se reencontrarem e reforçarem enquanto família, sobre o que é realmente importante para todos e como proteger e potenciar a autonomia de cada um, nomeadamente da vossa filha. Por vezes estas discussões podem tornar-se muito destrutivas e haver uma dificuldade em sair de um ciclo de conflitos. Nesse caso pode ser de grande ajuda recorrer a um terapeuta familiar, que vos poderá ajudar a lidar com esta situação e mesmo crescer enquanto família.
Relativamente aos pais, pode ser útil e protetor falar com outros pais que passaram por situações semelhantes. Em Portugal existe a AMPLOS: Associação de Mães e Pais pela Liberdade de Orientação Sexual (http://www.amplos.pt/), que tem sido um excelente recurso para muitas famílias.
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