A arte da vida de Yoko Ono em Serralves
A exposição dedicada a Yoko Ono no Museu Serralves estava, inicialmente prevista para abrir ao público a 2 de abril, mas foi colocada em espera devido à atual pandemia. A reabertura do museu levou à retoma da agenda e Yoko Ono: O Jardim da Aprendizagem da Liberdade abriu no passado dia 30 de maio e pode ser visitada até 15 de novembro.

"A vida é como uma mala de viagem, pode-se apertar muita coisa lá dentro", disse Yoko Ono (Tóquio, 1933) em entrevista ao jornal britânico The Guardian, e a dela tem, certamente, muita bagagem. Nasceu numa família com posses, mas com os bombardeamentos de Tóquio em 1942 viram a vida tão abalada como a própria cidade e a menina de bem que estava proibida pela mãe de ouvir as conversas dos empregados chegou mesmo a passar fome. No rescaldo da II Guerra Mundial a família mudou-se para Nova Iorque e nos anos seguintes também viveu em Londres e regressou a Tóquio.
Yoko Ono tem construído uma carreira, na arte e na música, a par das reflexões de uma história de vida recheada de contrastes onde se inclui também o internamento numa instituição psiquiátrica após uma tentativa de suicídio, o assassinato do terceiro marido (há precisamente 40 anos) mesmo à sua frente e o facto de ter estado 27 anos sem ver a filha que, aos oito anos, foi raptada pelo pai e criada em cultos religiosos. A artista foi pioneira da arte conceptual e da performance e teve um papel percursor também no desenvolvimento do filme experimental. Nos primeiros trabalhos Neo-Dada notam-se as influências de Marcel Duchamp (artista dadaísta) e John Cage (músico, artista e filósofo).

A arte de Yoko Ono é, muitas vezes, um reflexo do sentido de humor e postura crítica da artista, mas também apela à participação do público. Logo no início da carreira, em 1960/61, na obra Painting to Be Stepped On pedia ao público para caminhar sobre uma tela no chão (questionando a separação da vida do dia a dia e a arte). Mas a performance de referência é Cut Piece, de 1964, colocava-se a si própria à mercê do público para lhe cortarem as roupas aos pedaços. Muitas das suas obras têm como ponto de partida as suas Instructions (Instruções), que são as diretrizes do papel ativo que o público deve ter nas obras. Em 1964 lançou um livro só com Instructions, chama-se Grapefruit e foi disruptivo para a época.
A artista de nacionalidade japonesa e americana é a protagonista da exposição Yoko Ono: O Jardim da Aprendizagem da Liberdade, que de 30 de maio a 15 de novembro estará patente no Museu Serralves, no Porto. Esta abrangente exposição reúne objetos, obras em papel, instalações, performances, gravações em áudio e filmes, e ainda materiais de arquivo raramente vistos. Assim como a instalação Arising também pede a participação do público e o site do museu convida mulheres, de todas as idades e nacionalidades, que tenham sido prejudicadas por serem mulheres, a entregar o seu testemunho escrito com uma fotografia dos olhos e o seu nome. A instalação Evento da Água também convida artistas portugueses a participarem numa escultura composta por recipientes de água. Conhecida na cultura popular como a mulher do ex-Beatle John Lennon, Yoko Ono tem despertado ao longo de décadas paixões e ódios, mas é, acima de tudo, uma artista em nome próprio.
Yoko Ono: O Jardim da Aprendizagem da Liberdade

Onde? Museu Serralves, Porto
Quando? De 30 de maio a 15 de novembro de 2020

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