15 minutos com…os criadores da Carpet Diem
Carmo Mexia e Nuno Benito, amigos em primeiro lugar e sócios em segundo, partilham o privilégio de fazer o que mais prazer lhes dá: desenhar tapetes. Porque mais do que nunca é preciso aproveitar o momento!
Uma carpete interrompe a calçada portuguesa, duas plantas fazem-lhe companhia e um elegante toldo preto sobressai na fachada do n.º 74 da rua D. Pedro V, em Lisboa. Lá dentro, a generosidade do espaço, de pé-direito e arcos em pedra imponentes, dá protagonismo aos tapetes. No chão definem os ambientes, na parede assumem-se como murais, numa pilha podem ser “folheados” como um catálogo real. É difícil resistir à tentação de tocar-lhes e pisá-los. Carmo Mexia, pianista, e Nuno Benito, formado em design de moda, são os responsáveis pela marca Carpet Diem. Amigos desde sempre, assumem múltiplas afinidades e até o que os distingue resulta numa complementaridade.
O que cada um faz está bem definido? Carmo: Nuno:
SE ESTES TAPETES VOASSEM...
... em que local público gostariam que aterrassem?
N: Um dos meus arquitetos preferidos é Mies van der Rohe e não me importava nada de ter um tapete no pavilhão de Barcelona.
C: Num filme do Almodóvar!
N: No outro dia, a Rossi de Palma, atriz fetiche do Almodóvar, revelou-se apaixonadíssima pelo tapete Dragão. E eu muitas vezes quando faço um desenho penso numa pessoa e quando isto aconteceu foi uma feliz coincidência.
... onde vos levariam de férias?
N+C: Bali, 15 dias, já!
O jeito para desenhar é puro talento? C:
N: A Carmo é autodidata. Eu venho do design de moda, por isso estava mais do que habituado a tratar de padrões e lidar com desenhos. Por isso, passar de uma área para a outra foi um pulinho. Desenhar um padrão têxtil é quase igual, apesar de as coisas funcionarem de outra maneira no chão.
E desenham juntos, no mesmo espaço? C:
N: Enquanto um está com as canetas, o outro com as lãs e as referências, depois um de nós passa o desenho a limpo.
E como é isso de desenhar ao telefone? N:
O que vos influencia e inspira? N:
C: Gostamos cada vez mais das mesmas coisas.
Como foi o dia em que decidiram arrancar com este projeto? N:
Qual é o vosso conceito vencedor? N:
Começaram por produzir em Portugal e depois rumaram à Índia. Porquê? C:
N: Era a única maneira de ter o preço que temos. Tínhamos de reduzir custos. Na Índia, a mão-de-obra é muito mais barata e o trabalho altamente especializado. Por que não aproveitar essa situação?
Gere-se bem à distância? C:
N: Claro que em termos logísticos é mais complicado, mas tivemos a sorte de encontrar um fabricante muito honesto, com uma empresa familiar. Conseguimos chegar a um produto muito digno. Não são preços fora do normal, temos margens reduzidas, eliminámos intermediários. Por outro lado, a loja online permite-nos isso mesmo.
Confiam que não há exploração de mão-de-obra infantil? C:
N: Uma percentagem das nossas vendas reverte a favor dessa associação. Cada um dos nossos tapetes tem uma etiqueta que garante que não há exploração de mão-de-obra infantil.
FICHA TÉCNICA
Composição:100% lã
Tamanhos e preços140x200 cm: €336
180x240 cm:€518
200x300 cm: €720
Rua do Salitre, 138, Lisboa
Tel. 93 557 48 69
A viagem de um tapete começa no papel? N:
C: O que conseguimos desenvolver bem é a capacidade de transpor um qualquer desenho para um tapete, porque isso é que nem sempre é fácil. E nem sempre resulta no chão.
Só desenham o que gostam? N:
C: É pessoal e partilhamos.
Qual é o conceito da base da coleção? C:
N: A primeira coleção em que assumimos o shop online partiu de um patchwork, de unir padrões no mesmo desenho e por aí chegámos a outras coisas que nada tinham a ver, mas foi o início.
C: Não havia nada do género em tapetes, só mesmo em roupa, era o caso da Custo, com mistura de padrões e texturas.
Não trabalham encomendas específicas, não há margem para personalização? C:
N: Assim de repente, parece que desenhar um tapete é algo muito fluido e fácil. Mas não é. Sabemos de muitos designers que não conseguem mesmo desenhar tapetes. Quando um cliente de repente aparece entusiasmado com as lãs e quer alterar uma determinada cor, pode resultar numa borrada… Mas há exceções, por exemplo, quando percebemos que do outro lado está alguém que realmente tem know-how. A Christian Dior, em Madrid, pediu-nos e nós fizemos porque eles sabiam bem o que estavam a pedir. Esperar quatro meses por um tapete que depois não vai ficar bem não merece a pena. Temos a certeza que funciona como planeámos. Também ninguém vai à Zara dizer que quer um blazer com as mangas mais curtas...
Estão a celebrar 10 anos. Este showroom inaugurado recentemente assinala um marco no vosso percurso? N:
Quais os mercados que mais compram Carpet Diem? C:
N: Vamos tentar este ano minimizar os elevados custos de transporte transatlânticos que põem um preço final mais alto.
O nome, tal como o desenho, é o que testemunha o que cada tapete tem de cada um de vocês? C:
N: É uma mulher indiana lindíssima e quando fizemos este tapete alusivo a Bollywood tínhamos de lhe dar o nome dela.
C: Foi um tapete feito para vender outros.
N: Quando desenhamos um tapete destes sabemos que não será o que mais se vende, mas também acontece connosco o que se passa nas coleções de moda. É algo de passerelle, que acaba por afirmar um conceito. Por exemplo, o Dragão custa a chegar a um maior número de pessoas, mas sabemos que chega.
Há um tapete para cada tipo de casa ou estilo de decoração? N:
C: Os portugueses optam pelo seguro, pelas cores lisas e desenhos com relevos.
Há cores, motivos que sejam proibidos num desenho? N:
C: Sim, isso é obrigatório. Da lã só para a seda.
O tapete termina a sua viagem quando chega a casa do cliente? N:
