Estar entediado pode ser benéfico para a saúde. Saiba porquê
Tédio é um sentimento comum: já todos o experienciámos, pelo menos uma vez na vida. E apesar de ser mal visto pela sociedade, estar entediado tem as suas vantagens ao nível da saúde, segundo revela um estudo.

Experienciar uma situação de tédio não é uma novidade para nenhum de nós. Principalmente agora, neste período de isolamento social, em que não podemos sair de casa para estar com os nossos amigos e familiares. Ou simplesmente poder realizar alguma atividade diferente ao ar livre. Contudo, apesar de o tédio ser um "estado" comum, muitas vezes não o conseguimos definir ou compreender.
Segundo John Eastwood, investigador na Universidade de York, no Canadá, tédio é uma "experiência aversiva de querer, mas não conseguir, envolver-se numa atividade satisfatória". Existe uma enorme vontade de arranjar algo para fazer quando esse sentimento nos invade. Contudo, vários estudos revelaram que estar entediado pode não ser totalmente desfavorável, mas sim um benefício para a saúde mental.

Num artigo sobre o tema, a publicação Psychology Today explica que quando tentamos encontrar opções para camuflar o tédio, na verdade roubamos ao nosso cérebro tempo de inatividade, tempo esse, que está ligado à criatividade. Na realidade, o nosso cérebro está mais ativo do que nunca, porque permitimos que este aja por conta própria, sem ser estimulado por fatores externos. Segundo o site, alguns dos benefícios são:
- Recarregar. O cérebro está constantemente a ser bombardeado com estímulos externos. Este tempo de inatividade pode ser bom para recuperar e recarregar habilidades de funcionamento cognitivo. Contudo, percorrer o feed das redes socias pode não ser uma boa opção.
- Imaginação e criatividade. Um recente estudo mostra que o nosso cérebro está mais ativo, quanto não estamos focados em algo, comprovando que muitas vezes isso ajuda a que tenhamos novas ideias. Por exemplo, pequenas atividades como tomar banho ou passear o animal de estimação podem estimular a imaginação.
- Altruísmo. Segundo alguns pesquisadores na Irlanda, o tempo em que estamos entediados ajuda-nos a encontrar o significado para o que quer que seja que estamos à procura, seja um comportamento ou mesmo a vida no geral.
- Realizar metas. Em situações de tédio a nossa mente parece que "anda a vaguear". No entanto, é um tempo importante para o cérebro, comprovando que quando estamos "mais inativos" pensamos mais no futuro, ajudando assim, a estabelecer metas e objetivos.
Caroline Leaf, neurocientista cognitiva, explicou à Glamour Magazine UK, que ficar entediado ativa uma parte (à qual chama rede) essencial do nosso cérebro. "É chamada rede de modo padrão e é de vital importância para o cérebro", afirma esta neurocientista. Acrescentando que, "quando está sozinho com os seus pensamentos reinicia o seu cérebro, reativa essa rede e coloca a saúde do cérebro de volta ao cérebro. Essa rede nunca se desliga, mas exige que gaste esse tempo desconectado da tecnologia - para pensar profundamente - para prosperar."
Segundo Caroline Leaf, a tecnologia não tem sido uma ferramenta positiva em relação a este tema, reforçando que antigamente as pessoas preenchiam o tempo associado à sensação de tédio a ler livros, a ouvir música ou a tocar um instrumento. O facto de não haver redes sociais fortalecia a imaginação. Susan Greenfield, cientista neurológica, concorda e reflete que "as redes sociais estão a prejudicar-nos psicologicamente". Susan afirma que "quando éramos crianças, brincávamos usando nossa imaginação e isso era importante cognitivamente, porque estávamos a controlar a nossa ‘história’. Mas agora a estimulação externa da tecnologia está a impulsionar o funcionamento dos nossos cérebros, não sendo motivada internamente".
Caroline Leaf e Susan Greenfield vincam, assim a importância de tomarmos controlo do nosso cérebro. E usar o tédio, que vai persistir durante estes tempos de isolamento, através da sua melhor funcionalidade. Podemos utilizar os nossos telemóveis, mas também aproveitar o tempo para realizar outras atividades, ou apenas sentar no sofá e refletir. Sandi Mann, autora do livro The Upside of Downtime: Why Boredom is Good partilha da mesma opinião. A autora define tédio como: "uma busca por estimulação neural que não é satisfeita". Sandi Mann reflete que "se não conseguirmos encontrar isso, a nossa mente criará". No seu livro, podemos verificar que a autora descreve que sonhar acordado pode ser vantajoso para o cérebro. Além disso, menciona também que o tédio pode ser benéfico para a saúde mental, isto se nos afastarmos das redes sociais.
Resumindo: o importante é tentar evitar passar demasiado tempo nas redes quando a sensação de tédio nos invade, porque isso pode desencadear ansiedade e dissipar a criatividade. Ao invés, podemos usar esse tempo para respirar, refletir e estabelecer metas. Consequentemente, depois disso, novas ideias vão surgir, como ler o livro que estava na estante há dois anos, ou então fazer um curso online que estava na lista de espera há meses.

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