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O poder das mulheres: As rainhas consortes de Portugal

Em 18 volumes, o poder das mulheres nas cortes reais ou a força e o prestígio das rainhas consortes, o seu jeito e engenho para seduzir, ordenar, influenciar a corte e o mundo do seu tempo. No espaço da casa e no enredo político. Três historiadoras, sábias e catedráticas, coordenam esta coleção.

O poder das mulheres: As rainhas consortes de Portugal
O poder das mulheres: As rainhas consortes de Portugal
27 de setembro de 2012 às 05:06 Máxima

Cúmplices no estudo da condição das mulheres na Idade Média, as professoras da Universidade de Lisboa, Manuela Santos Silva e Ana Maria Rodrigues, e a professora Isabel dos Guimarães Sá, da Universidade do Minho, reuniram-se para propor e coordenar um projeto editorial sugestivo, singular e inovador. Assim, os espaços privado e público ou a casa e o poder de 32 rainhas consortes é o tema da coleção Rainhas de Portugal, do Círculo de Leitores, ou 18 volumes, escritos por 28 historiadores, com a coordenação de Ana Maria, Isabel e Manuela. Nas cortes reais, o poder das mulheres passava pela força do sangue, pela diplomacia, pela sedução, pelo ordenamento e pela escolha de séquitos e servidores em suas Casas. Os filhos de bons partos eram prestígio e força, os interesses políticos eram engenho, a inteligência exigia discrição, no tempo em que as rainhas se ocultavam em véus de segredos e sombras. Tecendo interesses políticos, mentalidades, tratados e alianças de paz e de guerra, elas exerciam o seu poder. Dos reis de Portugal se tem feito história e perfil, em trabalhos, títulos, teses. Das rainhas consortes publicam-se agora as biografias e nelas se divulgam os passos de estudiosos que entendem o passado como alquimia de ciência e arte. Isabel dos Guimarães Sá estreou a coleção, com o livro D. Leonor de Lencastre – De Princesa a Rainha Velha, em setembro. Seguiram-se oito volumes já publicados, com as biografias de 12 rainhas. Sábias, firmes, entusiasmadas, as três coordenadoras falaram sobre os factos e feitos desta obra. Entre mestres e estudantes em movimento, a Faculdade de Letras de Lisboa foi justo encontro marcado.

Rainhas de Portugal é um exclusivo do Círculo de Leitores, compreende 32 biografias de raiz coordenadas pelas três historiadoras entrevistadas e 28 investigadores.

Nos últimos anos, cada vez mais a História tem inspirado livros de êxito em Portugal… 

Isabel – Porque esses livros representam o culto das celebridades e as pessoas gostam de História.

Ana Maria – As pessoas leem biografias porque querem modelos e leem o romance histórico porque querem afastar-se da realidade presente, sem deixar de procurar coisas que podem ter acontecido no passado.

Manuela – Isso é uma traição! Eu compreendo que se inventem personagens numa área que se conhece bem, numa realidade que tenha sido comprovada. Mas pegar em personagens que existiram é traiçoeiro. Não querendo personalizar, há um romance histórico em que uma personagem, D. Filipa de Lencastre, não tenho ideia de que ela tenha sido como esse romance a dá. Nesse livro, ela aparece não propriamente como uma figura inventada, mas distancia-se da realidade.

Nem sempre o êxito significa que sejam bons livros…

Manuela – A culpa é de parte a parte. Se por um lado os editores não querem fazer cedências, por outro lado há um facilitismo dos media em relação aos livros sobre temas históricos. Em vez de esperarem, como o Círculo de Leitores, desde 2006 até agora, pensam que podem publicar imediatamente livros baseados em fontes disponíveis de fácil leitura.

O tempo de preparação significa então que…

Ana Maria – Esta coleção é uma publicação de alta qualidade, não inclui livros de síntese, é o resultado da investigação mais recente, dirigida para um público alargado.

Que proporção de historiadoras?

Manuela – Dois terços dos autores que escreveram os livros desta coleção são mulheres.

Como surgiu o projeto?

Manuela – Tanto a Ana Rodrigues como eu estudámos a temática das rainhas, não como biografia mas como poder. Investigámos a história dos espaços. A Ana Maria estudou Torres Vedras e eu Óbidos, que eram duas das terras das Rainhas, terras que se destinavam a sustentar as suas cortes, e em que os direitos e autoridades pertenciam às rainhas. Em 2002 apresentámos à Fundação Ciência e Tecnologia a ideia de uma obra sobre o poder e a casa das rainhas, mas nada daí resultou. Quatro anos depois, trabalhámos as Rainhas de Portugal já com o Círculo de Leitores.

Isabel – Trabalhei sobre as Misericórdias e a rainha D. Leonor, que fundou a Misericórdia de Lisboa. Também trabalhei muito sobre crianças abandonadas na roda no Porto, para o segundo volume da História da Vida Privada. A partir de relatos de época, começou a interessar-me a identidade do género, quis saber o que era o homem e o que era a mulher.


O grande rigor da investigação não implica que as biografias das rainhas sejam livros densos…

Isabel – Sou uma leitora de romances, leio tudo o que apanho. Continuo a ser investigadora, mas acho que é bom usar técnicas narrativas. A biografia ajuda, é um trabalho de investigação que tem uma trama.

Ana Maria – É verdade que o próprio género facilita. O problema é tapar as lacunas porque a base tem de ser real.

De que maneira o vosso trabalho ganha um sentido maior?

Isabel – Este trabalho incentiva o gosto pela leitura, propõe que as pessoas leiam coisas diferentes daquilo a que estavam habituadas, versões de historiadores e historiadoras que não são maçadores.

Ana Maria – Uma das nossas intenções é demonstrar que é possível fazer investigação sobre as rainhas.

Manuela – Uma aluna que preparava uma tese de mestrado sobre D. Leonor Teles, uma mulher de poder, foi orientada para que descobrisse além daquilo que se sabe pela Crónica de Fernão Lopes. A maior parte das pessoas dizia que não havia nada, além disso.

Ana Maria – Há fontes históricas, noutras perspetivas.

Manuela – É muito interessante ver que a caminhada para a emancipação das mulheres não é linear, foi sempre ascendente. Houve mulheres poderosíssimas nos séculos XII e XIII, como se demonstra pela forma e transmissão do património. Pelas alterações em pé de igualdade, elas perderam algum poder porque tiveram outros meios. A rainha reinante tem um poder “masculino”, as consortes têm outros poderes diferentes.

Isabel – Quando iam para os conventos, não iam para freiras. Existia assim uma situação colateral, que lhes permitia manter corte, criadas e camareiras. Os conventos são cortes paralelas, nessas épocas.   

Uma espécie de matriarcados, pelo poder das mulheres?

Ana Maria – Matriarcados, não.

Manuela – É importante valorizar determinados comportamentos que nos moldes atuais não são “feministas”.

Isabel – As rainhas têm de se confinar a um modelo. Elas não podem ser amantes. Como Isabel, a Católica: “Eu tenho as qualidades dos homens mas sou pura, casta, devota.”

Ana Maria – A história das mulheres é recente. Durante muito tempo foram ignoradas, subordinadas.

Manuela – O papel delas era estarem na sombra. Basta pensarmos que quando os maridos morrem há sempre uma rival. Mesmo sendo rainhas regentes, o titular do reino já é o filho.

Isabel – Quando uma rainha casa, não tem direito à bastardia. Mas os filhos dos reis têm-no.

E o que podemos saber da vida privada, do amor?

Ana Maria – A vida na corte é coletiva, não se dorme isolado.

Isabel – Há um relato interessante em que D. Manuel manda despejar a sala e sai tudo. No 1.º volume da Historia da Vida Privada há um capítulo dedicado ao corpo. Quer os rapazes quer as raparigas eram preparados para serem reis e rainhas de maneira consciente.

Ana Maria – Sobre o amor pode saber-se por cartas e diários, a intimidade não é verdadeira. D. Afonso V e D. Isabel foram criados juntos.

Manuela – A maior dificuldade em estudar mulheres é a falta de fontes diretas e o esquecimento dos historiadores, atribuindo as suas ações a outros. Muitos acham que as mulheres não tinham acesso à cultura e ao poder, esquecem-se às vezes de citar a única filha de uma família, que pode ser a mais documentada.

O mundo académico é fechado? Como ter acesso a este gosto pela investigação histórica?

Ana Maria – Fizemos cursos abertos ao público aqui na Faculdade de Letras de Lisboa, em março, sobre as Rainhas de Portugal, do século XII ao século XV.

Historiadoras, como veem a crise?

Ana Maria – Há civilizações que declinam e há outras que são mais vigorosas. As grandes conquistas da civilização foram postas em causa, mas muito foi alcançado, como os direitos sociais das mulheres.

Realização: Joana Lestouquet

Maquilhagem: Sónia Pessoa

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