Sentidos proibidos

Existem alguns terrenos onde não se deve entrar, mas a tentação, às vezes, fala mais alto.

Sentidos proibidos
22 de abril de 2010 às 16:29 Máxima

Dizem que não se escolhe a família mas é mentira – e posso prová-lo.

D conheceu J através de uma amiga e duas semanas depois de assistirem a um filme alternativo no cinema King, estavam a dormir juntos. A relação durou uns bons quatro meses, ao fim dos quais o sexo esmoreceu e a sujidade de relações anteriores começou a vir ao de cima, qual saco de plástico a boiar no Pacífico. Nessa altura, D conheceu N, irmão de J – através da mesma amiga – e uma noite, após animado serão patrocinado pela Moskovskaya (marca de vodka que estava na moda), barricou-se com ele na casa de banho e fizeram sexo em pelo menos quatro posições. Obviamente que D não foi capaz de evitar as comparações entre ambos. Começando pelo clássico tamanho da pilinha, e acabando na habilidade para escrever poemas, mania que ambos partilhavam.

PUB

Se a história já era constrangedora – porque os dois irmãos viviam juntos e, apesar de passarem pouco tempo em casa, aconteceu cruzarem-se os três na sala em roupa interior – imagine-se quando D e N se cansaram um do outro e a irmã mais nova de D, L, começou a sair com N!

D, que se tinha queixado inúmeras vezes do fraco desempenho do rapaz – consta que a coisa melhor que fazia com as mãos era escrever e os seus poemas eram pouco mais do que sofríveis –, começou a ficar irritada com o relato constante de noites escaldantes. Resultado. Zangou-se com a irmã.

A competição sexual no seio das famílias é tão velha como o mundo.

As monarquias estão cheias destas histórias de alcova, que na maioria das vezes serviam mais para satisfazer os propósitos da sucessão do que os prazeres da carne.

PUB

Henrique VIII explorou bem a consanguinidade na sua relação com as duas Bolenas, Maria e Ana, esta última transformada em sua segunda esposa, mas que acabou executada por alegadamente tê-lo traído com… o próprio irmão.

Outro fetichista do amor fraternal é o realizador Woody Allen, que aborda a temática em mais de um filme. Nas Faces de Harry, por exemplo, Harry Block, um escritor de meia-idade e pouca imaginação, enfrenta a fúria da ex-mulher ao descrever de forma exaustiva uma cena de sexo na cozinha.

A recriação é de tal forma perfeita que às primeiras linhas ela percebe que foi traída pelo marido e pela irmã, que eles fizeram “aquilo” em cima da sua bancada, e que a mulher cega que os surpreendeu em pleno acto é a sua avozinha. O realizador de Hanna e as suas Irmãs é tão bom a estabelecer ligações perigosas como os seus heróis a debitar paranóias no sofá do psicanalista. O romance com a sul-coreana que passou de enteada a legítima esposa diz tudo.

Claro que a revolução sexual trouxe outros constrangimentos. Agora, já não é só o namorado da amiga que se deve evitar; o namorado do amigo também. E o chefe, e o colega do lado, até mesmo o sogro, que antes chegava aos 60 anos podre e agora se apresenta com a sabedoria dos ‘entas’, o charme dos cabelos grisalhos e, se a coisa falhar, uma embalagem de Viagra no bolso.

PUB

Por tudo isto, as mulheres reclamam uma nova cartilha do sexo civilizado. Um guia do que se pode e não se pode fazer na cama, sem pisar a vizinha, a irmã e a amiga. Antes de mais, é preciso identificar os sentidos proibidos. São cinco. Evite-os.

 

Sogros(as), genros e noras

PUB

É melhor não. A não ser que seja o Woody Allen ou a Carla Bruni, que por motivos distintos – ela por ser gira, ele por ser genial – conseguiram sobreviver à condenação pública quando trocaram os parceiros pelos… filhos deles. No caso do realizador americano, a rapariga em questão, filha adoptiva da actriz Mia Farrow, então mulher de Woody Allen, continua a aturar-lhe as crises existenciais ao fim de 18 anos de vida em comum e de duas crianças adoptivas (quero ver como estas vão acabar).

 

Já a nova Madame Sarkozi, começou por ser namorada do intelectual Jean-Paul Enthoven, para acabar mulher do seu filho, Raphael Enthoven, que entretanto era casado com a filha do famoso filósofo Bernard Henry-Lévy. Tanta erudição não impediu o quadrilátero de ir parar à imprensa cor-de-rosa, sobretudo quando o pai traído e a mulher abandonada resolveram retratar Carla Bruni como a bruxa má e perversa, em dois livros que, tal como os romances de Harry Block, tinham mais semelhanças com a realidade do que duas gémeas uma com a outra.

 

PUB

Alheios à escandaleira, Carla e Raphael fizeram um filho e permaneceram juntos seis anos. O resto, já se sabe.

Namorados(as) ou maridos de amigas(os)

Muito tentador mas demasiado arriscado. Pense bem: quando o sexo arrefecer e os temas de conversa se esgotarem, com quem pensa que vai sair para tomar chá? Pior do que isso: os homens odeiam ir às compras.

PUB

É verdade que é um clássico, mas se antes valia a pena estragar uma amizade de anos em nome de um amor para a vida inteira, hoje é difícil fazer contas tão definitivas. Um em cada dois casamentos realizados em Portugal desde 2005 acabaram em divórcio em 2008, segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE). Sendo assim, mais vale refrear a atracçãozinha e ir pedir colo a outra freguesia. A não ser que decida alinhar numa espécie de swing pré-histórico, tal como o fizeram R, MJ, F e A.

 

R e MJ eram casados e os melhores amigos de F e A. Faziam férias juntos, passavam os Natais juntos, e à medida que as crianças foram nascendo, foram-se apadrinhando mutuamente. Até ao dia em que MJ e F foram tomar um café sozinhos à pastelaria da Dona Alice, e quando deram conta estavam a gastar o subsídio de férias em quartos do hotel Ibis. Foi um escândalo quando R e A souberam de tudo. Insultos, ódios de morte, divórcios. Depois, um belo dia, R e A resolveram unir-se na vingança. Estão juntos e têm um filho em comum.

Chefes e estagiários

PUB

Há 20 anos as mulheres evitavam os chefes – hoje não se importam de os degustar à sobremesa. Não é difícil explicar a mudança de mentalidades: as pessoas trabalham cada vez mais horas; chegam à liderança cada vez mais cedo; e têm cada vez menos tempo, e disponibilidade, para estabelecer relações fora do escritório.

 

O velho clássico patrão e secretária passou a ter paralelo em diversos sectores profissionais. Prova disso é a maré de livros que chega regularmente ao mercado com dicas para gerir relações sexuais no escritório e conselhos para evitar armadilhas em viagens… de negócios.

PUB

 

Um estudo recente da edição brasileira da Playboy, feito com 10 mil homens e mulheres, revelou que elas tendem a envolver-se mais do que eles nestas relações. E preferem os estagiários: dois terços das que confessaram ter feito sexo no local de trabalho escolheram um estagiário para parceiro. E 46% envolveu-se com o chefe.

Uma outra pesquisa, da sexóloga americana Shere Hite, autora do livro Sexo e Negócios, feita com 790 americanos e europeus, revelou que sete em cada dez homens, e seis em cada dez mulheres, já tiveram um caso com um colega de trabalho. Mas aqui, é mais fácil. Não só porque as empresas adoptaram políticas mais brandas para com este tipo de relações, mas também porque os efeitos colaterais são menores para o próprio par. Se a relação correr mal com o chefe, a pessoa perde o amante e pode perder o emprego; se for com o colega, só tem de respirar fundo e ter paciência.

Vizinhos

PUB

H e P passeavam o cão à mesma hora. Ela tinha um Labrador, ele um Fox Terrier. Começaram por limitar-se a seguir o namorico dos seus animais de estimação e acabaram a jantar num restaurante chique no topo do Parque Eduardo VII. Tinham imensas coisas em comum: ambos gostavam de jazz, de cinema francês e de… sexo. Mas enquanto ela era divorciada, ele estava casado e tinha uma filha de 18 meses.

 

Os encontros decorriam quase sempre na casa dela, que ficava dois prédios acima da casa dele. Enquanto eles experimentavam o kamasutra na sala, na cozinha e no quarto – e não passaram a outras divisões porque ela vivia num T1 –, os cães ficavam a rosnar na marquise. Digno de um filme.

PUB

Mas ao fim de algumas semanas ela fartou-se das entradas dele à 007, e das desculpas para acabar com “um casamento terrível que só se mantinha por causa do bebé” – as desculpas nunca variam muito… –, e mandou-o embora.

Resultado: ficou uns bons meses a sofrer sozinha, enquanto ele desfilava, feliz, nas barbas dela, com a filha ao colo e a mulher pelo braço. Pior: quando finalmente ela arranjou um namorado, ele teve a ousadia de lhe telefonar a pedir justificações.

Ex-namorados e ex-maridos

PUB

Conhece aquela frase “não se deve regressar a um lugar onde se foi feliz”? É ideal para estas situações. E se não se foi feliz, pior ainda. Só volta para a cama do ex-amante sensaborão quem for muito masoquista.

Claro que é possível ele ter aprendido alguma coisa pelo caminho. Mas prepare-se. Depois da chama baixar, vão voltar os problemas do costume: a falta de iniciativa; o desconhecimento total do aparelho genital feminino; a roupa interior com ursinhos, etc., etc., etc.

 

Se o casal tiver filhos, não deve, de forma alguma, deixar as crianças perceberem o que se passa antes dos próprios saberem o que andam a fazer. É péssimo para a cabeça dos miúdos alimentarem expectativas sobre a reconciliação dos pais. O mesmo vale para as sogras – não aceitar convites para jantar nem perfumes antes da coisa pegar mesmo. Até porque tanta simpatia pode só querer dizer uma coisa: ela está farta de aturar o filho e quer despachá-lo. Nem que seja para a velha morada.

PUB

 

PUB
PUB