A casa "veio abaixo" no segundo dia da Convenção Nacional Democrata com os discursos de Barack e Michelle Obama. No seu estilo de oratória inconfundível e sentido de humor mordaz – ou wit, como dizem os anglo-saxónicos –, com aquela cadência e timbre que qualquer um seria capaz de reconhecer num mercado em Nova Deli, o ex-presidente norte-americano apontou o dedo a Donald Trump quase num tom de "o rei vai nu", de tão colossais e óbvios os defeitos que referiu. E Michelle Obama não lhe ficou atrás. No seu estilo mais terra-a-terra e um nadinha mais acutilante, a ex-primeira-dama denunciou a campanha de difamação que Trump lhes dirigiu e deixou um aviso: vai fazer o mesmo com Kamala Harris e, daqui até às eleições, vai ser cada vez pior.
A post shared by NBC News (@nbcnews)
Se houvesse um prémio para a gargalhada mais ruidosa da noite, é mais que certo que Barack Obama o teria levado para casa. No ponto alto dos seu discurso, que já se tornou viral nas redes sociais, disse o seguinte: "Aqui está um multimilionário de 78 anos que não parou de se lamuriar com os seus problemas desde que desceu a sua escada rolante dourada há nove anos. Tem sido uma constante enxurrada de queixas e reclamações que está a piorar agora que ele está com medo de perder para Kamala. Há as alcunhas infantis [que usa para denegrir os adversário, como 'Sleepy Joe', ou 'Joe Dorminhoco', nome que chama a Joe Biden], as teorias da conspiração lunáticas, a estranha obsessão com o tamanho das multidões [ao mesmo tempo que dizia isto fez um gesto com as mãos, dando a entender que a obsessão com tamanho podia ter outra origem]."
A post shared by The Guardian US (@guardian_us)
Já Michelle Obama avisou que Trump vai fazer tudo ao seu alcance para denegrir Kamala Harris e distorcer as suas palavras e os seus ideais, acrescentando que ela própria e o marido sentiram isso na pele: "Durante anos, Donald Trump fez tudo o que podia para que as pessoas tivessem medo de nós. A sua visão limitada e enviesada do mundo fê-lo sentir-se ameaçado pela existência de duas pessoas trabalhadoras, com elevada formação académica e bem-sucedidas, que, por acaso, são negras."
Referindo-se ao comentário amplamente criticado que Donald Trump fez, sobre imigrantes ilegais estarem a "ficar com os empregos dos negros", Michelle concluiu com uma pergunta retórica: "Quem é que vai dizer-lhe que o emprego que ele está atualmente à procura pode ser um desses empregos de negros?".
Numa nota mais positiva, e fazendo uma referência aos tempos do otimismo contagioso do slogan da primeira campanha presidencial de Barack Obama – Yes we can –, Michelle concluiu dizendo: "América, a esperança está de volta."