Como é ser mãe de sete crianças? Mariana D’Avillez, veterinária de profissão e autora do recém-lançado livro Mãe de Sete, sabe-o certamente. Leia a entrevista.
03 de maio de 2017 às 07:00 Rita Silva Avelar
Logo a seguir ao título de Mãe de Sete pode ler-se: "O livro que não tenho tempo de escrever!" Ao longo de 197 páginas, Mariana D’Avillez relata, com humor, o dia a dia da família e partilha truques para manter a sanidade mental como mãe de Leonor (12), Miguel (11), Vasco (8), Marta (5), Pedro (4), Francisco (2) e a recém-chegada Teresa. Em entrevista à Máxima revela alguns dos momentos mais caóticos (e também os mais tranquilos) dessa experiência e traça dez mandamentos para sobreviver à maternidade. Para sempre.
Confesso que nunca sonhei muito em ser mãe, mas sempre sonhei ser veterinária. Ser mãe para mim era óbvio. Só bastante mais tarde, nos meus vintes e poucos, é que comecei a idealizar a minha família, dois rapazes e duas raparigas, os tais quatro para poderem jogar cartas e futebol e ainda terem com quem falar quando estivessem zangados e para poderem partilhar quartos e ter sempre alguém com quem conversar até tarde. Às tantas percebi que era uma excelente triagem de potenciais namorados. Fala-se em querer casar e ter quatro filhos, acrescentando um "pelo menos, claro" e desaparecem os pretendentes num ápice! Os sete chegaram um de cada vez e foram recebidos com o espanto natural de quem testemunha o milagre fenomenal que é a vida.
Como descreve a sensação de ser mãe pela primeira vez, como experienciou com a Leonor?
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Como veterinária já tinha assistido e prestado cuidados em todo o género de partos de várias espécies. Encarei a gravidez e o parto com naturalidade e algum interesse clínico. Claro que havia uma grande emoção de vir a ser mãe também. A gravidez correu bem, fora ter engordado imenso, e o parto foi longo, lento, doloroso e nada daquilo que eu tinha imaginado. As 48 horas no hospital pós-parto foram um confronto brutal com a realidade de ser mãe... Eu estava cansada e dorida e assolada constantemente por dúvidas e, quando já só me apetecia fugir para o colo da minha própria mãe, deram-nos alta e de repente o Miguel e eu estávamos a atravessar a Ponte, de Almada para Lisboa, com a nossa bebé num ovinho (demorou 15 minutos a percebermos como metê-lo no carro), ainda incrédulos por nos terem permitido sair do hospital com ela. E depois foi preciso muita coragem para enfrentar as opiniões todas que cada visita decide partilhar connosco e, acima de tudo, conseguir desbravar, juntamente com o Miguel, o nosso próprio ethos de parentalidade.
Se pudesse descrever as personalidades de cada um dos seus filhos numa palavra, qual seria?
Leonor: drama queen
Miguel: calmo
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Vasco: confiante
Marta: ex-Gremlin
Pedro: meigo
Francisco: terrorista
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Teresa: feliz
Qual é o momento mais caótico do vosso dia?
A hora de deitar – acabam de jantar e começam a dispersar. Estão cansados e embirram, outros estão elétricos e chatos. O Francisco foge quando estou a tentar pôr-lhe o pijama, a gritar "corrida de nus" pelo corredor, a Marta queixa-se que os outros fazem barulho e ela não consegue dormir. O Miguelinho já está na cama mas deixou tudo desarrumado e tem de se levantar para meter ordem nas suas coisas senão de manhã não se despacha a tempo. Entretanto, a Leonor sai do quarto com um ar de quem, se fosse ela a mandar, metia isto tudo na ordem num instante, vê o mano mais novo a passar-lhe num sprint pelado e grita: "Francisco! Que falta de vergonha!" O Francisco olha para trás mas continua a correr para a frente e choca contra a ombreira da porta da casa de banho. É mais ou menos assim. Felizmente, não é assim todas as noites e às vezes só acontecem partes desta cena e com frequência suficiente para me levar a acreditar que possa passar um dia a ser normal…
E o mais sereno?
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Se disser que é quando estão todos deitados é um bocado batota, mas, em dias especialmente caóticos, é esse o meu momento para descomprimir. Mas também temos momentos serenos em família – tardes de fim de semana com bom tempo em que estamos todos no jardim, nas nossas redes sociais (três redes penduradas entre três árvores, que formam um triângulo), a trepar as árvores, a brincar. Ou com mau tempo, em que se preparam pipocas e, durante a sesta do bebé, vemos um filme em família. Basicamente qualquer momento que leve o nosso Pedro a espreguiçar-se e dizer com um longo suspiro: "Isto é que é vida."
Um pensamento positivo de ‘emergência’ para manter a sanidade mental em momentos mais difíceis?
Respirar fundo e lembrar-me que no fundo, no fundo, os amo.
É possível ter tempo para cada um deles? Como consegue gerir esse tempo como mãe?
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É possível sim, às vezes com um pouco de ginástica, mas acima de tudo com sentido de oportunidade – quando tenho necessidade de falar com um ou dois à parte posso chamá-los para me ajudarem nalguma tarefa ou então aproveitar momentos mais naturais que surjam na rotina normal da semana – à espera de apanhar irmãos da escola ou atividades, numa ida a compras, numa tarde de estudo ou apoio de trabalhos de casa. É importante referir que diferentes idades precisam de um tempo diferente e de uma atenção distinta. A recolha faseada à tarde (Jardim de Infância às 15h, Escola Básica às 16h, Secundária às 17h) dá para ir tirando o pulso aos dias de cada um e ao temperamento geral. Depois é perceber quem precisa de mais atenção, porquê e se é conversa, mimo, desabafo… ou só fome.
Mãe de Sete, de Mariana D’Avillez, €16,60 (Livros Horizonte)
1 de 11 /“Mãe de Sete”, de Mariana D’Avillez, €16,60 (Livros Horizonte)
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2 de 11 /1. Inspirar e lembrar que metade dos genes desta criatura são meus – a bem ou a mal.
3 de 11 /2. Peça ajuda, delegue tarefas – mesmo os mais pequeninos podem sentir-se úteis a levar coisas para o lixo.
4 de 11 /3. Responsabilize-os. Não só pelos erros mas pelo que fazem bem.
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5 de 11 /4. Seja justa mas firme na condenação de asneiras e aplicação de castigos.
6 de 11 /5. Não deixe perguntas sem resposta. Se não souber o que dizer (e são muitas as perguntas que nos deixam assim) diga que tem de pensar na resposta e volte a falar nisso mais tarde. Se deixar sem resposta eles vão achar que é um assunto tabú.
7 de 11 /6. Ria-se sempre das piadas deles. Mesmo que já as saiba de cor e salteado!
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8 de 11 /7. Faça castelos de areia na praia, caia nas “armadilhas” que eles fazem, brinque com eles ao nível deles.
9 de 11 /8. Dê-lhes colo e abraços e mimo mas deixe-os crescer
10 de 11 /9. Fale dos seus sonhos, os possíveis e impossíveis! Nunca somos velhos demais para sonhar!
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11 de 11 /10. Não disfarce tristeza ou sentimentos mais escuros, senão eles vão achar que estes não devem ser partilhados.