"Pode parecer ficção de nível paranóico, mas existem pessoas que sentem um medo irracional, pavor, pânico de se cruzarem com alguém que considerem feio."
Desconhecia, até há pouco tempo, que existia uma fobia a feios. Chama-se "unatractifobia", ou "cacofobia", e é o medo mórbido ou a aversão a pessoas feias. Pode parecer ficção de nível paranóico, mas existem pessoas que sentem um medo irracional, pavor, pânico de se cruzarem com alguém que considerem feio. Imaginemos a situação: uma pessoa sai de casa para mais um dia de trabalho, sabendo que vai ter de apanhar um transporte público. De que é que tem medo? De ver alguém que, no seu entender, é feio. Falamos, portanto, de um medo que nasce de uma análise do outro a um nível meramente superficial, estético. Alguém que sente pavor de ver uma pessoa fisicamente feia (seja lá o que isso for). Bom, a dita pessoa que sofre da tal fobia, ao encarar alguém "feio", sente consequências físicas como qualquer pessoa que tenha uma fobia: falta de ar, náuseas, palpitação, tonturas, mal-estar e suor excessivo, entre outros. O mais certo é que um "unatractifóbico" evite fazer percursos onde se possa cruzar com desconhecidos. Andar de transportes públicos deve estar fora dos seus hábitos diários. Deve apenas socializar com pessoas que já conhece e que, evidentemente, considera bonitas no seu barómetro de avaliação estética. As fobias são de facto limitadoras, e castram a possibilidade de se ter uma vida normal. Existem inúmeras e variadas: o medo de estar em espaços fechados, a claustrofobia; o medo de espaços abertos, a agorafobia; o medo de contrair alguma doença, a hipocondria. Enfim, são muitas, algumas bastante específicas, e estas são apenas as mais conhecidas. O medo das pessoas feias, apesar de bastante incompreensível, não deve ser ridicularizado. É uma distorção da realidade, e como todas as patologias do foro psiquiátrico, deve ser acompanhada por um especialista. É claro que aquilo que me apraz dizer é do nível da evidência: fobia a pessoas feias? Eu também tenho, quase todos temos, mas não são os feios que se distinguem à primeira vista. São os outros. Feiíssimos, execráveis, longe de acusarem feiura no radar dos espelhos. Esses, sim, são os que causam verdadeiro terror.
*A cronista escreve de acordo com o Acordo Ortográfico de 1990.