De 24 a 29 de novembro, estes signos vão viver um grande amor
Durante estes seis dias, o Grande trígono em Água vai deixar às claras quem encontrará finalmente o amor.
Primeiro, foi o The New York Times que alvitrou a hipótese. Aos poucos, a informação foi correndo as redacções, com o contributo especial de colegas cépticos que viram nisto (mais) um argumento que põe em causa a veracidade da astrologia e dos signos. Afinal, se os signos estão desatualizados – e logo 2000 anos, não é coisa pouca –, quão acertadas podem ser essas previsões que lemos todas as semanas horóscopo? Antes de tirarmos conclusões, convém perceber o que esta teoria é suportada pelo fenómeno do Movimento de Precessão da Terra.
De acordo com as explicações do físico Aatish Bhatia ao The New York Times: “A Terra tem uma oscilação. O Polo Norte traça um círculo no céu. São necessários cerca de 26 mil anos para completar um desses círculos inteiros. Isto significa que, da nossa perspetiva aqui na Terra, as estrelas estão a deslocar-se muito lentamente. Demora cerca de 72 anos para que as estrelas se desloquem um grau. Pode parecer insignificante, mas, ao longo dos séculos, o desvio vai-se acumulando e acaba por ter impacto.” O fenómeno está bem documentado e, do ponto de vista astronómico, faz todo o sentido. Relativamente à astrologia, Bhatia exemplifica: “Por exemplo, no dia do equinócio de primavera no hemisfério norte (20 de março), há 3000 anos, o Sol alinhava-se em frente à constelação de Carneiro; mas hoje, nesse mesmo dia, (devido a essa deslocação gradual), é a constelação de Peixes que está atrás do Sol.”
Se a astronomia e a física, ciências exatas, dizem que a precessão da Terra nos deslocou das constelações, isso significa automaticamente que toda a astrologia que consumimos deixa de fazer sentido? Quer dizer que passamos todos a ser o signo imediatamente antes ou a seguir? Antes de cedermos ao choque, decidimos perguntar à astróloga residente da Máxima, Andrea Pereira, que nos traz os horóscopos semanais. E a resposta é surpreendente. Andrea começa por dizer que "este tema não é novo, mas é muito interessante e de tempos a tempos regressa”, suscitando ainda mais curiosidade. A confusão, de acordo com a astróloga, nasce do equívoco que consiste em pensar que signos e constelações são a mesma coisa – não são.
Andrea explica, então, que o primeiro mapa astral aparece por volta do século IV a. C. e que consistia numa "roda zodiacal" que, "apesar de ser inspirada nas constelações, é uma imagem idealizada do céu". Essa roda, prossegue, "era um círculo de 360º dividido em 12, aparentemente por essa ser a média de lunações num ano, mas também por reproduzir a metade das 24 horas de um dia". Apesar de cada constelação ter o seu tamanho, "na roda zodiacal cada signo tem 30º, portanto, não corresponde à realidade natural". A astróloga diz ainda que "os arquétipos tal como os conhecemos surgem mais tarde, cerca do século I a. C. A partir daí a construção da significação pouco tem que ver com as constelações". A astróloga conclui sublinhando o seguinte: "Como havia já conhecimento da precessão da Terra e de que os dados não seriam fixos, surgem astrólogos que mostram preferência pelo desenho do mapa natal a partir de pontos fixos, ou seja o zodíaco tropical: os equinócios e solstícios, de onde advém muitos dos significados que damos aos signos na astrologia ocidental."
Vale, talvez a pena, clarificar a questão do zodíaco tropical. As astrologias modernas, esclarece a Andrea, "usam, principalmente, o sistema zodiacal tropical que tem como base os equinócios e solstícios nos zero graus dos signos cardinais, ou seja: no hemisfério Norte 0º de Carneiro marca o início da primavera; 0º de Caranguejo, o verão; 0º de Balança, o outono; e 0º de Capricórnio, o inverno)". Significa isto que o movimento de precessão da Terra "não afeta de todo [os signos de cada pessoa] porque o ponto de referência do zodíaco tropical não são as constelações, apesar dos símbolos terem origem nas constelações. Daí a confusão", conclui.
Perante as explicações da astróloga, torna-se evidente que a polémica relativa ao desfasamento de 2000 anos resulta de um desencontro entre duas lógicas distintas. A explicação sobre o fenómeno físico é correta do ponto de vista das disciplinas da astronomia e da física, mas a forma como a informação foi apresentada e colocada no enquadramento da astrologia está descontextualizada e é uma informação errada. Afirmar que os signos estão errados porque a posição das constelações mudou é, simplesmente, incorreto.
Antes de terminarmos, Andrea Pereira fez ainda questão de falar sobre o funcionamento e o papel da astrologia nas sociedades modernas. Por um lado, permite "enquadrar a realidade em padrões arquetípicos que trazem a possibilidade de previsão dos acontecimentos ao nível coletivo, que é a área da astrologia mundana", usando "todo o conhecimento que se foi acumulando ao longo de milénios". Por outro, é uma forma de comunicação com uma “consciência maior”, tal como acontece noutros sistemas esotéricos. E explica: "O inconsciente possui uma componente de coletividade em que os símbolos são coletivamente cultivados e isso torna a astrologia uma linguagem que nos influencia e que nós influenciamos.” Ou seja, a astrologia funciona como um “sistema de conhecimento” e “uma linguagem que nos ajuda a comunicar com o inconsciente através de símbolos e arquétipos”. Ao longo da história, o conhecimento acumulado tornou possível identificar padrões arquetípicos, que não só ajudam a interpretar questões pessoais como permitem observar tendências coletivas, explica.
No final, o sentimento é de que o tema é, de facto, fascinante, mas a astrologia não sai fragilizada desta discussão. Se há algo que esta conversa esclarece, é que a distância entre astronomia e astrologia não é uma falha, é precisamente o que permite que cada uma exerça o seu papel. A primeira observa o céu, e a segunda, o interior de cada pessoa – ou pretende fazê-lo, pelo menos. E talvez seja por isso que, apesar destas questões polémicas, que regressam ciclicamente, continuamos a recorrer aos signos não para saber o que está no céu, mas para perceber um pouco melhor o que está em nós.