Doença inflamatória rara pode estar relacionada com o novo coronavírus

Um novo estudo analisa como os sintomas semelhantes ao síndrome de Kawasaki podem estar relacionados com o novo coronavírus nas crianças.

22 de maio de 2020 às 18:51 Mariana Dias

Numa das zonas de Itália mais afetada pelo novo coronavírus, um grupo de médicos do serviço de pediatria do Hospital Papa Giovanni XXIII, em Bérgamo, realizou um estudo que detetou em dez crianças, uma doença com sintomas semelhantes à síndrome de Kawasaki.

Segundo o estudo publicado na revista científica, entre 1 de janeiro de 2015 a 17 de fevereiro de 2020, foram diagnosticadas 19 crianças (sete rapazes e doze raparigas) com a síndrome de Kawasaki, todas com idade média de três anos. No entanto, entre 18 de fevereiro a 20 de abril de 2020, foram detetados 10 novos casos de crianças com uma idade média de 7,5 anos (sete rapazes e três raparigas) com uma síndrome semelhante à de Kawasaki.

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Os autores do estudo compararam estes dois grupos e comprovaram que houve um aumento em 30 vezes do número de casos registados, na altura em que o novo coronavírus surgiu nessa região de Itália. Ou seja, segundo o estudo, antes da covid-19, o hospital só recebia um caso da doença de Kawasaki a cada três meses.

Desde o início do surto da Covid-19 que as crianças são o grupo menos afetado pelo vírus. Contudo, sabe-se que 8 das 10 crianças hospitalizadas com o síndrome semelhante ao de Kawasaki (depois de dia 18 de fevereiro) foram diagnosticadas com o novo coronavírus. Tal começou a preocupar vários médicos europeus e norte-americanos, questionando-se se esta estaria relacionada com a Covid-19.

No estudo, os pesquisadores revelam que a síndrome afeta normalmente crianças com menos de cinco anos. Contrariamente aos dez casos detetados no início da Covid-19, que atingiram crianças mais velhas e com sintomas como inflamação e inchaço dos vazos sanguíneos, febre, olhos vermelhos, boca e lábios secos, e também irritações nas mãos e nos pés. Além disso, cerca de um quarto das crianças desenvolveram ainda problemas cardíacos. Por essa razão, apesar das semelhanças com a síndrome Kawasaki, os dez novos casos são considerados uma síndrome rara, referindo pelos autores como "uma reação anormal do sistema imunitário a uma infeção". Conlcuindo assim que os 10 novos casos não se tratam da sídrome de Kawasaki.

A partir do mês passado, médicos e investigadores de alguns países começaram a reportar casos de crianças com quadros clínicos semelhantes à doença de Kawasaki. Inglaterra e Espanha revelaram que várias crianças tinham sido internadas, apresentando manchas na pele e pressão arterial baixa, para além dos sintomas associados ao novo coronavírus. Nos Estados Unidos, segundo o The New York Times, 75 crianças foram diagnosticadas no passado dia 9 de maio, com uma doença rara, mas todas testaram positivo para o novo coronavírus. O governador do Estado de Nova Iorque, Andrew Cuomo anunciou que três delas acabaram por falecer.

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Em Portugal, a Direção Geral da Saúde (DGS) confirmou a existência de um caso em que a criança desenvolveu sintomas parecidos com os da doença de Kawasaki. Contudo, foi divulgado que a mesma já teve alta hospitalar.

"A doença do tipo Kawasaki descrita aqui é uma condição rara, que provavelmente não afeta mais do que uma em cada 1000 crianças expostas à SARS-CoV-2. Esta estimativa é baseada em dados limitados das séries de casos nessa região", explicaram os autores do estudo. 

Torna-se, assim, difícil chegar a uma conclusão devido ao número reduzido de casos analisados. Dessa forma, os autores explicam que é preciso confirmação em grupos maiores para verificar a ligação entre esta nova doença rara e o novo coronavírus.

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