Da rua para a casa, Vhils une-se à Bordallo Pinheiro para fazer uma peça irrepetível
Para assinalar o 135º aniversário da fábrica de faianças da Bordallo Pinheiro, nas Caldas da Rainha, o artista criou um prato de parede de grandes dimensões pintado à mão. Uma edição limitada a apenas 135 unidades.
Alexandre Farto, mais conhecido como Vhils, tem apenas 32 anos, mas há muito que desenvolveu uma linguagem visual singular reconhecida pelo público. A sua arte tem com base a remoção das camadas superficiais das paredes e outros superfícies através de ferramentas e técnicas não convencionais. O sucesso fê-lo dar à volta do mundo em exposições e eventos – das favelas no Rio de Janeiro, passando pelo Centre Pompidou, em Paris, até à Central Academy of Fine Arts, em Pequim. A sua mais recente empreitada foi a criação de Quimera, um prato de parede de grandes dimensões (61 centímetros de diâmetro) em parceria com a Bordallo Pinheiro.
O artista aplicou a mesma técnica desenvolvida no âmbito da série Scratching the Surface, que consiste na gravação de superfícies em baixo-relevo através da remoção parcial das camadas superficiais. Nesta peça usou-se o recurso ao jato de areia, que desbastou o vidrado artístico cerâmico – o vidrado foi uma das técnicas aplicadas nas primeiras peças produzidas pela fábrica Bordallo Pinheiro, que completou a 30 de junho deste ano 135 anos desde a sua fundação. A parceria com Vhils vem, assim, celebrar o aniversário numa edição limitada a 135 exemplares numerados. Escusado será dizer que cada uma é única, já que a pintura manual faz destes pratos obras irrepetíveis.

"A ideia da Quimera foi quase a história real da fábrica e da obra do Bordallo. Da perseverança e da reinvenção da fábrica. Foi fazer uma obra de algo que renasce do próprio barro e surge dele na sua essência, tentando, de alguma forma, prestar uma homenagem também às pessoas que o fizeram este renascer da fábrica e da marca e dessa construção de uma nova fase. E também de puxar os limites e tentar reproduzir também parte da obra do Bordallo", declarou Alexandre.
O toque do artista surge no formato de um rosto no centro do prato. O perfil é anónimo e representa os trabalhadores da fábrica da Bordallo Pinheiro ao longo dos últimos 135 anos. "O rosto surge de uma série de desenhos que fiz quando visitei a fábrica. A ideia foi criar um rosto anónimo, mas que ao mesmo tempo conseguisse refletir as pessoas que fizeram a fábrica. A ideia foi criar a partir do barro e chegar à essência de peça, que nasce no meio da própria técnica quase como uma fénix que surge das cinzas", explica.
A técnica usada permitiu assegurar um grande grau de detalhe, expondo diferentes camadas de complexidade, quase uma metáfora perfeita para o ofício realizado pacientemente e com atenção aos detalhes pelos artesãos da marca. "A palavra "impossível" não fazia parte do léxico do nosso fundador", lembra Nuno Barra, administrador da Bordallo Pinheiro. O que faz desta união um casamento que demorou a acontecer.
"Encontrar a minha linguagem, e a sua relação com o universo do Bordallo, foi desafiante. São processos que eu não conhecia, não tinha noção como é que funcionavam, mas encontrei uma equipa superaberta a novas ideias. Explorámos novos caminhos e conseguimos chegar, acho eu, a um trabalho que traz um bocadinho do meu universo e o junta ao universo da Bordallo", conta Vhils, sugerindo uma possível colaboração para outras peças no futuro.
Quimera é a terceira peça da coleção WWB – World Wide Bordallianos, iniciada em 2017, com Figo de Paula Rego, seguindo-se, em 2018, Banana Prata Madeira, da autoria de Nini Andrade Silva. Prevê-se a continuação desta série com um lançamento anual e sempre com nomes nacionais e internacionais ligados às áreas criativas das artes plásticas, do design e da moda.
