Sensíveis à forma de Jader Almeida

Do Salão do Móvel de Milão diretamente para Lisboa, Jader Almeida trabalha "no campo das emoções e sensações" para que cada peça transcenda o seu lado material. As novas criações do aclamado designer brasileiro chegaram a Portugal e a ‘Máxima’ foi vê-las de perto.

28 de maio de 2019 às 10:47 Aline Fernandez

"Empacotámos o stand do Jader Almeida no Salão do Móvel de Milão e trouxemo-lo num container diretamente para cá", conta Pedro d’Orey, sócio das lojas de design QuartoSala. A divisão onde estamos mostra o que é a experiência Jader Almeida com o foco exclusivamente nos móveis, mesmo que os olhos depois se virem para admirar o palácio onde está instalada a QuartoSala, na Casa Pau-Brasil, em Lisboa. Na área dedicada a Jader, há muita madeira e o forte design intemporal que também o define. Ao lado, e igualmente atraente, os nossos olhos encantam-se com uma cadeira de Flávio de Carvalho, um dos grandes ícones do design brasileiro, desenhada nos anos 30, que sobrevive lindamente até hoje. "Primeiro queremos criar experiências para as pessoas, independentemente de onde elas venham. Achamos que as lojas são um modelo de negócio antiquado. As pessoas têm de ter alguma emoção quando entram e a oportunidade de trabalhar com o design brasileiro foi um privilégio", explica Pedro, que juntamente com Clemente Rosado, também sócio da QuartoSala, uniu o saber fazer com a curadoria, estimulando os portugueses a comprar design além fronteiras sem a dor de cabeça das encomendas internacionais. A QuartaSala é distribuidora exclusiva de Jader em Portugal. "Nós temos esse cuidado também de misturar coisas muito diferentes para que se entende que é possível, dentro do mesmo lugar, construir ambientes únicos em casa", reforça Clemente.

Aproveitamos as recém-chegadas peças de Jader Almeida para conversar com o designer sobre as suas técnicas, inspirações e como é fazer poesia e joia num móvel.

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O  seu trabalho para a marca Sollos, com quem está há mais de 15 anos, reforça uma estética sem tempo. A sua intenção é que as peças ultrapassem mesmo gerações?

A palavra que nos define é silêncio. Nossos produtos cumprem a função de maneira calma, harmónica. Não obstruem, agregam. Não gritam que são elegantes. Apenas o são. São o oposto ao descartável. Viajam pelo tempo, pegam a marca do local e das pessoas, quase se fundindo numa simbiose e, por isso, tendem a ser cada dia mais belos. Ou seja, são perenes.

A durabilidade é uma fator cada vez mais importante?

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Beleza, estilo, etc., são condicionáveis. No entanto, qualidade e proporções são universais e inquestionáveis. Logo, buscamos incessantemente a segunda sentença.

Para si o storytelling vale tanto ou mais que o conforto e a estética?

Hoje todos nós estamos mais sensíveis à forma. Atribuo isso ao apuro estético, à perceção de qualidade e ao amadurecimento da cultura material. Meus produtos têm uma referência ao campo emocional, ou seja, algo que as pessoas gostam e, muitas vezes, não sabem explicar o porquê. Em meus projetos, concentro a energia numa abordagem humana, tento me mover entre as fronteiras da forma e função de maneira a transcender o uso primário das peças a fim de promover função poética.

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A instalação Good news from Brazil na último Salão do Móvel de Milão teve um toque poético. Como se estimulam os sentidos através do design?

Coloco muita energia nos meus projetos. Trabalho no campo das emoções e sensações, pois acredito que é isso que levamos connosco de qualquer lugar que já estivemos. Somos sinestésicos. A tónica de nossos projetos de arquitetura de interiores está nas proporções, materiais, luz, espaço, etc. Nada é superlativo, tudo é calmo e aconchegante e costumam provocar frases do tipo "eu moraria nesse lugar". Este é o ápice de nosso trabalho: fazer com que as pessoas se sintam em casa, não necessariamente a casa delas, mas casa no sentido de se conectar com algo bom, transcender o material, sentir-se bem.

Já esteve seis vezes na Semana de Design de Milão. Como se sente antes da inauguração da sua instalação e como é o processo de montagem das peças?

O projeto é feito com cinco meses de antecedência, por isso uma certa ansiedade na qualidade da execução é normal. A montagem leva cerca de uma semana para estar concluída, e contamos com três profissionais internos para coordenar a execução dos projetos e mais seis montadores para a execução.

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Qual foi a ideia por trás da cadeira Windsor?

É uma interpretação contemporânea para as populares Windsor Chairs. O próprio nome revela a origem do estilo, a cidade inglesa homónima. A data de criação da primeira cadeira é incerta, no entanto remonta ao século XVI. Dita como uma das primeiras peças de mobília a ser confecionada nas colónias inglesas da América do Norte, foi representada em muitas obras de arte, como em figuras da independência americana na Filadélfia. Um estilo icónico, que está atravessando séculos e ganhando impulso em interpretações contemporâneas. Na minha interpretação para essa cadeira, criei uma profunda conexão com peças do portfólio, evidenciada pelas curvas, conexões precisas e instigantes que marcam o conjunto formado pelo assento e pela base da peça. O encosto, clássico pelos varões esguios e torneados, fazem um contraponto à massa da base, em delicadas junções entre os torneados e o assento.

Como integrar a habilidade manual com a tecnologia avançada ao fazer uma cadeira, como por exemplo a Bone?

Acreditamos que o equilíbrio entre tecnologia e A tradição manual é a melhor maneira de criar produtos com individualidade e qualidades marcantes. Confecionamos nossas peças por meio de máquinas com tecnologia de CNC (computer numeric control), combinando as tradicionais técnicas do feito à mão por pessoas que se dedicam inteiramente ao ofício. Para nós, é importante que essas duas características sempre caminhem juntas. Queremos perfeição nos detalhes e a melhor maneira de conseguir isso é por meio da combinação da tecnologia e da tradição manual.

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Um móvel pode ser considerado uma joia?

O detalhe nos interessa de forma significativa. Somos obstinados e vamos até ao menor deles para encontrar a melhor solução construtiva que resultará numa estética agradável e precisa, delicada como em peças de joalheria.

Se tivesse que escolher um objeto de cada tipo da nova coleção ou da sua marca, qual seria?

Uma das peças de que eu mais gosto é o cabideiro Loose. Gosto muito também da cadeira Easy e da poltrona Mirah. Não temos, na cultura brasileira, o hábito de usar cabideiros ou mancebos dentro de casa, então, para mim, o Loose foi algo interessante, já que agora vejo ele em uso em muitas casas. E gosto dele não só por seu aspeto funcional, de atender a uma necessidade, mas, também, por ser um objeto instigante, com um apelo estético que transcende seu uso.

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