É a Retail Manager portuguesa à frente da gigante sueca e uma das responsáveis pelas novas políticas de sustentabilidade, igualdade e inclusão da organização.
08 de março de 2020 às 07:00 Rita Silva Avelar
Ainda não existe representatividade feminina em cargos de liderança suficiente em Portugal. Mas há empresas que dão um passo na direção certa, como é o caso da IKEA. À frente do departamento de Retail desde 2017, está a Manager Helen Duphorn, que chegou à gigante sueca há mais de vinte anos, e já deu "a volta ao mundo" passando por filiais da empresa em países como a Índia, Paquistão, Bangladesh, França ou Áustria – até chegar a Portugal. Ao longo dos anos, Helen também foi facilitadora e coach de negócios em diversos programas de desenvolvimento de lideranc¸a, tendo sido responsável pela criac¸ão da IKEA Women Open Network (IWON) – uma rede de desenvolvimento e capacitação de mulheres. Além de ser uma embaixadora dos valores humanísticos da empresa, Helen é apaixonada por decorac¸ão, pela visão do design democrático e desde sempre tem assumido um compromisso diário com a igualdade de oportunidades de crescimento (pessoal e profissional) de homens e mulheres dentro da IKEA. Em entrevista à Máxima, revela o seu percurso, a experiência de viver em Portugal e as inovações futuras da empresa sueca.
Helen, como se deu o seu percurso até chegar a uma posição de liderança na IKEA?
A maior parte do meu percurso profissional foi em retalho. Em marcas e áreas de negócio diferentes, mas sempre ligadas à compreensão do consumidor e das tendências, mas principalmente das pessoas, das operações e do trabalho árduo que fazem com que os grandes retalhistas tenham sucesso. Antes da IKEA, trabalhei 9 anos na empresa de retalho de moda sueca KappAhl, tendo iniciado a minha carreira em recursos humanos e, mais tarde, assumi posições de liderança em Vendas e Compras.
O que é que sabia sobre a empresa, antes de se juntar a ela?
Para mim a IKEA foi sempre símbolo de soluções práticas e da possibilidade de criar uma casa bonita. Os meus pais eram pessoas práticas, com formação, mas com poucas possibilidades, e para eles a IKEA era uma escolha inteligente. A nossa casa estava decorada principalmente com móveis da IKEA, misturados com algumas peças herdadas.
Que papel desempenhou nos primeiros anos? Era aquilo que esperava?
Comecei em Älmhult, na Suécia - o coração da IKEA - como responsável de Compras da Suécia e Países Bálticos. Foi uma ótima introdução para a empresa pois o nosso design, valores e princípios de negócio são realmente construídos sobre a cultura e o senso comum suecos. Alguns anos depois, fui para a Índia para liderar as nossas operações de compra na Índia, Paquistão e Bangladesh. E como a IKEA aprecia líderes com amplo entendimento de negócios, mais tarde recebi formação para ser Retail Manager e voltei para a Europa. Após os cargos de Retail Manager em França e na Áustria, fui convidada a desenvolver a Função de Comunicação Corporativa do Grupo e tornei-me membro do nosso Group Management - uma posição que ocupei por 6 anos.
Hoje em dia é Country Retail Manager na IKEA Portugal. O que a fascinou no nosso país?
Depois de fazer parte do Group Management da IKEA, alguns amigos perguntavam-me se eu não devia desacelerar e pensar em trabalhar por conta própria. Mas eu adoro esta marca e senti que era demasiado jovem para deixar o trabalho operacional. Então, pela primeira vez na minha carreira, solicitei uma posição específica que foi a de liderar a IKEA Portugal. Acho que a empresa me quis mostrar algum apreço porque aqui estou eu... muito feliz! Existem muitos denominadores comuns entre Portugal e a Suécia – a maioria das pessoas é prática, humilde, trabalhadora e sincera. É fácil sentir-me em casa aqui. E temos tantas possibilidades de negócios em Portugal – há muitas pessoas que precisam de móveis bonitos e funcionais, a preços acessíveis.
Como mulher numa posição de liderança numa empresa gigante como esta, nunca se sentiu discriminada?
Acho que a maioria das mulheres está muito consciente do facto de que não vivemos num mundo igualitário. Felizmente, isso também é entendido pelos homens da nossa empresa e trabalhamos juntos para garantir a igualdade de oportunidades para homens e mulheres. Desde sempre que assumi um papel de liderança neste tema, pois sinto que tenho uma grande possibilidade, e também responsabilidade, de usar a minha plataforma de liderança para contribuir para um mundo mais igualitário. Estou muito orgulhosa do facto da IKEA ter um bom equilíbrio entre homens e mulheres em posições de liderança, bem como da inexistência de diferença salarial entre géneros quando falamos de posições iguais. Em Portugal, a média de diferença salarial entre homens e mulheres é de 16 a 24%, dependendo das estatísticas que consultarmos. Desafio todos os líderes das empresas portuguesas a aderirem ao movimento por salários iguais!
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O que é que caracteriza o cliente português, e o que é que o distingue ou aproxima do sueco?
Na verdade, os pontos em comum são maiores do que as diferenças, sendo que a maioria das pessoas sente que a casa é o lugar mais importante da sua vida. Os aspetos práticos, tanto aqui como noutras dimensões, parecem ser cada vez mais importantes, pois todos temos muitas coisas para arrumar e organizar. Além disso, muitas pessoas, tal como eu, precisam de dormir mais e melhor. Vemos um grande interesse na nossa ampla gama de camas, colchões e almofadas ergonómicas aqui em Portugal. Também vemos a sustentabilidade como uma preocupação comum. A principal diferença que notamos é que os consumidores portugueses estão conscientes e preocupados, mas a maioria das pessoas não pode pagar preços premium por soluções mais sustentáveis. É por isso que o papel da IKEA na democratização da sustentabilidade é mais relevante do que nunca no mercado português.
Quais são as qualidades essenciais a um lar?
Eu sou uma pessoa prática que adora olhar para coisas bonitas. É por isso que eu e a minha família vivemos em Alcochete, que deve ser um dos lugares mais bonitos de Portugal. É aqui que descanso, socializo e – frequentemente – trabalho. Apesar da nossa casa ser muito, muito pequena, temos um espaço bom e confortável para dormir, e também um bom espaço para cozinhar e fazer refeições com amigos. Eu não decoro demasiado, mas coleciono algumas peças de vidro escandinavas e obras de arte portuguesas – adoro ver coisas bonitas…
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Quais são as maiores novidades no que toca à inovação, agora? E o que traz o futuro em termos de medidas sustentáveis?
Sabemos que os portugueses estão mais preocupados com as mudanças climáticas do que a maioria dos europeus, e que estão dispostos a mudar os seus comportamentos, mesmo que a maioria não esteja disposta a pagar mais por isso. O mais interessante da nossa oferta é que é possível poupar dinheiro e ajudar o planeta se utilizar produtos da IKEA. Ao usar as nossas torneiras de poupança de água, as luzes led, os tecidos que preservam o calor ou o frio, bem como todas as nossas soluções para minimizar o desperdício de alimentos etc., uma família média consegue poupar cerca de 500 euros por ano. Além disto, estamos atualmente a testar e a desenvolver serviços que prolongam a vida útil dos produtos, tal como serviços de "segunda vida" ou de "reparação". Ao mesmo tempo, continuamos a trabalhar para que as nossas operações sejam circulares e amigas no ambiente, através de medidas para tornar a energia e a água dos nossos edifícios mais eficientes, minimizar o desperdício, produzir a nossa própria energia ou investir em energias renováveis, como fizemos ao adquirir um Parque Eólico no Nordeste de Portugal.
Falando de diversidade e inclusão, quais são os planos da IKEA para estas áreas?
Somos uma empresa humanística e é natural que lutemos pela igualdade em todas as dimensões. E isso também é bom para o nosso negócio, pois sabemos que empresas com equipas de liderança equilibradas são mais lucrativas. Como já garantimos a igualdade de género, eu e a minha equipa estamos agora concentrados em tornar as nossas equipas mais diversas nas dimensões étnica, cultural, orientação sexual e capacidade de trabalho. Queremos representar o nosso mercado e trabalhar para ter equipas de gestão mais diversas aqui em Portugal.
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Se pudesse eleger um produto preferido, qual seria?
Porque é que muitas pessoas dizem que passear pelos corredores das lojas IKEA surte um efeito relaxante e descomprime o stress? É uma espécie de terapia para o caos da vida diária?
Muitas pessoas vêem a visita à IKEA como um "dia divertido para a família", e claro que nós fazemos o possível para tornar isso realidade. Mas honestamente sabemos que uma visita à IKEA também pode ser stressante e, portanto, perguntamos constantemente aos nossos clientes como é que podemos tornar as visitas ainda melhores. Melhorámos as possibilidades de descansar, de passar por atalhos ou de fazer uma boa refeição. Além disso, procuramos constantemente aperfeiçoar a nossa oferta de serviços para que as pessoas tenham o suporte certo no processo de compra, se assim o desejarem.
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Praticamente vinte anos a trabalhar nesta área, o que é que a continua a motivar?
Aprendo muito com os meus colegas e com os nossos clientes todos os dias. Adoro especialmente visitar as casas dos clientes e entrevistá-los sobre seus desafios e sonhos. Já aprendi que somos mais fortes juntos – se os líderes empresariais portugueses se juntarem e se concentrarem em tópicos importantes como a remuneração igualitária, Portugal pode dar um grande passo à frente. A nível pessoal, estou muito feliz por me tornar mais sénior. Sinto-me muito mais confiante e calma do que quando era mais jovem, mesmo ao assumir riscos nos negócios. Aprendi a confiar no meu próprio julgamento e a persistir, mesmo quando os outros não têm a certeza. E esta é uma sensação muito boa.