Em Paris com a Veja. Bastidores, sustentabilidade e inovação
Em plena cidade das luzes, fomos até à sede da marca em Paris para descobrir de perto a essência sustentável e inovadora que transformou o mundo dos ténis. Entre conversas com a equipa, visitas ao showroom e a descoberta das suas práticas únicas, conhecemos as raízes de uma marca que vai muito além da moda.

"Para as mulheres que estão grávidas, temos três meses de licença de maternidade [em França], mas na Veja dão-nos um mês extra, totalmente pago. É o mesmo para o pai; com a Veja, ele também recebe dois a três meses, mais do que o Estado oferece." Assim começa a nossa conversa com a equipa da Veja, enquanto nos acomodamos nos sofás do escritórios da marca, em Paris, sobre políticas laborais.


Depois de uma manhã a explorar a Basílica de Sacré Cœur, o icónico Café des Deux Moulins de Amélie em Montmartre e o Moulin Rouge, iniciámos a caminhada até à sede da Veja em Paris. Situado num edifício histórico que já foi a casa de editoras como as Éditions Sociales, Éditions Messidor, Livre-club Diderot ou Cahiers du communisme, o escritório abriga cerca de 300 colaboradores distribuídos por cinco pisos em 4200 metros quadrados. À entrada, deparamos-nos com um espaço amplo e acolhedor que convida à convivência: à direita, o restaurante Café 146, com um chai latte e um almoço irresistível.

Após atravessarmos o café, somos recebidos por prateleiras repletas dos modelos da Veja – incluindo alguns modelos ainda por lançar. Este showroom ocupa o lado esquerdo do espaço que é decorado de forma aconchegante com várias "ilhas" perfeitas para pequenos meetings, ou simplesmente para relaxar. A Veja fez questão de explicar que quase todos os móveis, tal como outros objetos de decoração ao longo dos pisos, são vintage e comprados em segunda mão. O compromisso com a sustentabilidade está presente até nos detalhes: os tapetes que revestem os pisos superiores são feitos de poliéster reciclado, e os azulejos das áreas comuns vieram do sul de França.


Em 2025, a Veja celebrará o seu 20º aniversário. A marca nasceu em 2005, fruto da visão de Sébastien Kopp e François-Ghislain Morillio, que, ainda com 25 anos, ousaram reinventar o conceito de produção de calçado, optando pelo comércio justo. "Eles perceberam que era possível fazer as coisas de uma forma diferente (…) e escolheram os ténis porque, naquela época, este era o símbolo da sua geração," conta-nos a equipa. No início do século XXI, os ténis estavam em todo o lado, tornando-se ícones culturais.


A Veja distingue-se também pela ausência de investimento em publicidade, redirecionando esse orçamento para produção e matérias-primas. Este compromisso levou os fundadores ao Brasil, país abundante em recursos naturais, onde as condições de trabalho em fábricas são, muitas vezes, semelhantes às da Europa. Sébastian e Ghislain viajaram até à Amazónia para conhecer os seringueiros – trabalhadores que extraem borracha das árvores, utilizando uma técnica ancestral. Esta borracha constitui entre 20% e 40% da sola dos ténis Veja, combinada com borracha sintética para evitar que fique pegajosa. O algodão usado vem do nordeste do Brasil, um local histórico na produção de algodão desde o século XVIII, e do Peru, e é cultivado de forma agroecológica, promovendo a biodiversidade e evitando monoculturas. Para a produção do couro, a marca utiliza peles provenientes do desperdício alimentar do Brasil e do Uruguai, dando-lhes uma nova finalidade. Além destes materiais, a Veja desenvolveu uma alternativa sustentável feita a partir de garrafas recicladas, recolhidas por catadores no Brasil.

Muitos membros da equipa da Veja já tiveram a oportunidade de ver a produção no Brasil. Um dos membros, que também visitou as instalações, destaca que uma grande parte da equipa brasileira é composta por mulheres: "Elas tratam de tudo, são muito poderosas." Esta valorização das mulheres em cargos de responsabilidade também é visível na sede parisiense, onde há uma representação equilibrada entre géneros. A equipa garante-nos que na Veja a igualdade salarial é uma realidade.

Para além das iniciativas no Brasil, a Veja desenvolve ações inclusivas em Paris. Desde 2004, confia a sua logística a pessoas vulneráveis, com deficiências ou em situação de exclusão social, através dos armazéns Log’ins. Estes armazéns são responsáveis pela gestão das encomendas da Veja e pelo manuseamento dos contentores provenientes do Brasil, abastecendo as seis lojas europeias. O objetivo é proporcionar uma experiência de trabalho que sirva de trampolim para um emprego estável, tendo já ajudado cerca de 700 pessoas.


Há três anos, a Veja começou a diversificar a produção, escolhendo Portugal como uma nova base de fabrico, focada exclusivamente no mercado europeu. "A ideia é ter uma produção local para a Europa," explicam. Até ao momento, esta nova linha produz apenas o modelo V-90, que foi lançado discretamente no último ano.

A nossa visita a Paris também nos deu a oportunidade de conhecer o projeto Clean, Repair, Collect, desenvolvido pela Veja. "O ténis mais ecológico que se pode ter é aquele que já se usa", afirma a Veja, resumindo o propósito deste trabalho. A iniciativa visa reduzir o desperdício, criando espaços como a Veja General Store em que qualquer pessoa pode levar os seus ténis, sejam da marca ou não, para os reparar e prolongar a sua vida útil. Esta área de reparação já se encontra em algumas lojas da Veja, com planos de expansão para todas as lojas no futuro.

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