Constança Entrudo, Ricardo Andrez e Maria Carlos Baptista. Designers portugueses encantam Paris

Os designers portugueses entraram no calendário da semana de moda de Paris e apresentaram as suas coleções para a primavera/verão 2022 de forma híbrida, entre desfile e instalações criativas. A Máxima acompanhou as exibições e falou com os três designers.

04 de outubro de 2021 às 08:00 Rita Silva Avelar

No Marais, em Paris, a energia que paira no ar é de positividade e alegria pelo regresso quase normal ao formato que conhecemos das semanas da moda. Constança Entrudo e Ricardo Andrez, que chegam pelo calendário de desfiles da associação ModaLisboa, e Maria Carlos Baptista, que vem pelo Portugal Fashion, apresentam na Galerie Joseph, e a sala enche-se de expetativa e do frenesim habitual num happening de Moda como este. 

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Entrudo é a primeira a abrir o evento. "O ponto de partida foi um livro N. H. Pritchard, um livro de poesia visual. Os poemas são todos desenhados nas páginas de uma forma bastante autêntica, a preto e branco. Comecei a pensar como podia desconstruir as peças, e se antes tinha usado sempre estampados a partir de imagens que já tinham as cores, o facto de ser a preto e branco foi muito desafiante" começa por contar à Máxima a jovem designer.

"De acordo com os materiais, comecei a fazer combinações de cor, associadas ao fresh do verão, voltar à normalidade. Este pop de cor está em mim, e se me contive na coleção passada, nesta voltei à cor e às combinações improváveis". A coleção resgata a técnica das linhas - uma assinatura pessoal da designer -, das camadas e dos "buracos" nas peças. "Desta vez o trabalho manual foi mais intenso, é mesmo isso que eu gosto de fazer. O facto de termos voltado à normalidade fez-me querer voltar ao atelier." Estar em Paris é importante. "Já vivi aqui, já trabalhei aqui, é uma cidade que me diz muito."

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Maria Carlos Baptista também regressa a Paris para apresentar a sua coleção Mátria, continua a mostrar a sua relação com o vestuário masculino e como este pode ser fundido em vestuário feminino. "Comecei por ver os materiais que tinha em casa, e perceber o que podia fazer com eles, e surgiu o primeiro vestido, um vestido preto de renda com cauda vermelha. O preto é a cor predominante, depois brinco com as rendas e os plissados" conta-nos, depois da sua exibição.

"A minha mensagem anda sempre à volta da polaridade homem-mulher, feminino-masculino, austero-frágil, celebrar a mulher e a sua força, a nossa dinâmica, e a nossa proatividade. Mátria representa o matriarcado, a força. E eu acho que essa manifestação visual é sempre precisa." Maria Carlos dá sempre primazia a dead stocks, materiais que à partida estão inutilizados e a que dá uma nova vida nas suas coleções.

"A primeira coleção que eu apresentei no Bloom, quando ganhei o concurso, trabalhei muito a questão da sustentabilidade. Como designer emergente, tento ter sempre isso em conta. Há materiais que eu já tenho há alguns anos em casa que eu fui buscar para fazer a coleção".

Ricardo Andrez também voltou a apresentar em Paris, uma coleção ligada ao digital, um universo que tem levado para as suas peças. "Quis reforçar a hiperrealidade que estamos a viver hoje. O digital, os NFT's, a modelagem 3D, é tudo o futuro da indústria têxtil" começa por explicar. "Tudo isso se reflete em peças com referência aos pixels, com QR Codes, para dar todo esse ambiente do digital. Em termos de design, é o meu ADN, é o que eu tenho vindo a fazer."

A coleção privilegia dead stock de fábricas, por uma questão de sustentabilidade, mas também um material térmico que muda de cor quando o vestimos. Achei super inovador e que se enquadrava com o universo que queria transmitir." Depois de uma pandemia, que também foi difícil para os designers, para Ricardo é um alívio apresentar em Paris, fisicamente. "É muito bom chegar ao fim e ter feedback real, e já fazia showroom em Paris, e sinto que é fundamental por ser a cidade que é a montra da Moda."

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