Casamentos: o novo protocolo digital

Uma vez passado o estado de puro prazer que o pedido de casamento provoca, a sensação de levitação acaba com um estrondoso aterrar na realidade e a ilusão de melodia romântica acaba com uma invasão de perguntas, dúvidas e afazeres. Nesse instante tem início uma verdadeira odisseia que implica meses de preparação. Há quem chame especialistas, quem encare cada dúvida como a decisão mais importante da sua vida, quem reúna um autêntico "conselho de estado da noiva" e quem encare como lema de sobrevivência a velha máxima "este é o dia mais importante da tua vida". Chegado o tal dia, o casamento torna-se um evento e, como em todos os eventos, os convidados reúnem-se munidos de uma ferramenta indispensável: o telemóvel.

Embora o fenómeno das redes sociais esteja muito estudado, não conseguimos ainda prever o seu futuro e próximos efeitos. Sabemos no entanto que as regras básicas que serviam como uma espécie de guião a uma festa de casamento tiveram de se adaptar a esta realidade. Além do fotógrafo oficial, cuja função é fazer um registo visual de todo o acontecimento, os convidados deixam-se levar pelo velho slogan "para mais tarde recordar" e assumem também para si o um pouco do papel de fotógrafo. Segue-se a publicação nas redes sociais e, como sabemos, um post é como um rastilho que quando aceso nunca sabemos onde vai parar de arder. Além das comuns plataformas de partilha, há também várias Apps especialmente indicadas para casamentos que permitem a partilha de conteúdos entre os convidados e também de informação útil prévia ao evento. Entre a inocente partilha de um momento especial e a contagiante curiosidade que já sabemos que os casamentos provocam, como se lida então com esta nova dinâmica?

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Em busca de respostas, falámos com uma noiva que teve uma festa de casamento muito falada nas redes socias. Além de ter sido a bela noiva protagonista do seu dia especial, Raquel Strada é uma figura bem conhecida, seja no papel de apresentadora ou de blogger com o blog Blue Ginger. Para o seu casamento, em 2015, convidou vários outros rostos bem conhecidos do universo televisivo que foram partilhando imagens da festa nas suas próprias contas e assim nasceu a notícia. "Não pedi nada. As minhas amigas criaram uma hashtag sem me perguntarem e aquilo foi passando de boca em boca... Eu não toquei no meu telemóvel nenhum dos dias. Tinha toda a gente que amava ao pé de mim", conta a noiva. Raquel conta que ela e o noivo decidiram não dar o exclusivo do seu casamento a nenhuma publicação e limitaram-se a enviar quatro fotos à imprensa. E resolveu a pressão das redes sociais decidindo que só depois faria publicações. "Mais tarde, quando estava quase a celebrar um ano de casada, partilhei um minivídeo de três minutos com a cerimónia e alguns momentos antes dos preparativos. Toda a gente me mandava mensagens a perguntar como é que tinha sido... e decidi partilhar esse momento. Foi um momento com muito amor e fiquei feliz de o partilhar mais tarde num espaço meu [o blogue]."

A história de Raquel Strada mostra-nos ainda outro lado desta questão. As redes sociais permitiram ao público saber muito mais do que passa em eventos privados de figuras públicas, publicadas pelos próprios ou por outros. Uma fotografia no Instagram ou uma declaração no Twitter são uma forma de comunicação eficaz a que a comunicação e o próprio público têm acesso direto e imediato. No caso do casamento de Raquel Strada, a experiência foi positiva e a própria explica a curiosidade do público: "Senti só aquilo que já sabia: as pessoas adoram ver casamentos. O vestido, os convidados, a decoração." E depois das fotografias dos convidados e do vídeo a conclusão é simples: "As leitoras adoraram. Foi incrível... Nunca recebi tantas mensagens bonitas, foi bom. Sou apresentadora de TV, não sou atriz. Não tenho a necessidade de me proteger de forma a que as pessoas se revejam na personagem que estou a desenvolver no momento. Muito pelo contrário. Enquanto apresentadora, repórter e blogger acho que as pessoas têm de me conhecer um bocadinho melhor e ou gostam de mim ou não. E eu lido bem com isso. Sem as pessoas o meu trabalho não faz sentido."

A "sede de redes sociais" é difícil de saciar, por isso o melhor é mesmo criar condições para viver em harmonia com ela, porque também pode haver quem não queira publicações da sua festa nem qualquer tipo de "fugas de informação". Assim, para que os noivos não confisquem telemóveis à entrada (há rumores de algumas celebridades que já o fizeram), uma das sugestões dos especialistas é que sejam os próprios noivos a criar a sua hashtag e a divulguem, antes e durante o dia do casamento, unificando todas as fotos dos convidados. Outra sugestão é a rápida publicação online de fotografias oficiais que possam ser partilhadas. Também há a possibilidade de haver uma pessoa, além do fotógrafo, nomeada "gestora de redes sociais por um dia" que vá fazendo os posts de acordo com a vontade dos noivos e assim dê o mote que os convidados devem seguir.

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Jasmine Lazzari, fundadora da empresa de organização de eventos The Wedding Co, aponta a criação da hashtag como uma das grandes tendências e explica que as redes sociais vieram modernizar os casamentos: "O facto de se fazerem convites através do Facebook, de os noivos terem o seu próprio site para partilharem todos os detalhes do seu dia, as selfies… isto transmite uma modernização de tudo o que envolve a comunicação nos casamentos. Mas é assim que vivemos hoje em dia, e nos casamentos não pode ser diferente, com exceção das regras básicas de etiqueta que irão ser salvaguardadas, sempre." Também no trabalho de quem trata de toda a organização do casamento, ou seja, a wedding planner, as redes sociais têm um papel importante, como refere Jasmine: "Mostrar aquele que é o nosso trabalho desde o princípio do planeamento até ao dia onde estará o resultado final faz com que se desperte uma certa curiosidade às pessoas que nos seguem, que se poderão tornar em futuros noivos – nossos futuros clientes." A wedding planner diz que as suas redes sociais de eleição são Instagram, Insta Stories, Facebook e Snapchat. "Neste último, e agora também no Instagram, conseguimos mostrar em direto tudo o que fazemos na parte da organização do evento, como por exemplo as montagens."

Contudo, assegura que da parte da organização há cuidados necessários, como por exemplo nunca publicar o resultado final antes de ser visto pelos noivos – "poderemos mostrar as montagens, mas nada que revele como irá ficar" –, assim como as fotografias dos mesmos. E quanto a mais cuidados a ter por parte dos noivos, os especialistas no assunto recomendam, em especial às noivas, algum cuidado e contenção nas publicações, mesmo que se sintam possuídas por um incontrolável desejo de partilha. Com a dose certa de organização e paciência, quando chegar o tão esperado dia a festa será tal como a sonhou. Porque, como aconselha Jasmine Lazzari, "a noiva  deve viver o seu dia ao máximo, aproveitar cada segundo e deixar a captação dos momentos importantes para o fotógrafo, videógrafo e convidados". E convém não esquecer que escolher as fotografias e mandá-las imprimir em papel fotográfico ainda não é coisa do antigamente e continua uma prática comum. A grande mudança parece estar no facto de as redes sociais permitirem registar um lado mais pessoal e intuitivo, bem como a partilha. Por isso aproveitemos enquanto somos convidados a estar presentes na festa, ao invés de assistirmos a ela por Face Time ou videoconferência. 

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