Moda: Como evitar dar passos em falso

Mais um erro de casting, um achado com o selo trendy, comprado na euforia do momento e que, afinal, acha impossível de usar. Não entre em pânico! As soluções dos profissionais em quatro cenários.

Moda: Como evitar dar passos em falso
12 de novembro de 2012 às 07:52 Máxima

Face à hipertrofia das tendências (e à sua sucessão cada vez mais rápida), é difícil dar zero erros em matéria de compras. Há dias em que o nosso radar está avariado: compramos tudo e mais alguma coisa. Ninguém está a salvo de se enganar, incluindo as especialistas mais avisadas, cujo guarda-roupa não está isento de bizarrias de que rapidamente se arrependem. Há, no entanto, erros recorrentes que desejaríamos evitar, sem o conseguir. Todos os problemas têm solução: os conselhos de profissionais para contrariar os passos em falso mais comuns.

1. Encontrei uma pérola rara... eu e mais 30 milhões!

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A cena é-nos familiar. Uma bela tarde, eis-nos a sair de uma grande loja de fast-fashion, apertando contra o peito o saque do dia: uns audaciosos shorts com motivos astecas que fazem um belo efeito – e a diferença, pensamos nós! Ou um tailleur fantástico, às flores, que as comuns mortais não vão querer. Só que as comuns mortais, que se banham no mesmo inconsciente coletivo que nós, tiveram exatamente o mesmo impulso no mesmo momento. Resultado: na rua, toda a gente se passeia com a mesma peça, que já nada tem de única. O fenómeno repete-se em todas as estações e dele não se livram as marcas mais seletas: um must-have torna-se uma peça “em estado novo, nunca usada” no eBay, porque foi visto e revisto até à exaustão. Lembremo-nos do casaco trapézio cinzento, com gola de pele e duas presilhas em couro, do inverno 2010-2011... Ou do combishort Liberty do verão anterior.

É grave? Nota-se que as it girls não estão mais protegidas que nós da síndroma “sou-a-primeira-mulher-na-terra-a-usar-isto”. Um exemplo? De Olivia Palermo a Poppy Delevigne, passando por Heidi Klum, as improváveis slims tie-dye rosa e malva da marca Paige estiveram nas pernas de todas as estrelas esta primavera.

Como fazem as profissionais? Estão submetidas às mesmas tentações que nós, mas desconfiam! Delphine Perroy, chefe do departamento de Moda da Madame Figaro, aconselha a assumir a aquisição trendy, “mas deve apropriar-se dela, conjugando-a com o seu próprio guarda-roupa no que ele possa ter de mais intemporal”. Tradução: no caso do fato às flores, não se usa em look total. Mistura-se o casaco ou as calças com os nossos básicos quotidianos: blazer preto e escarpins com as calças, por exemplo. Isabelle Thomas, consultora de estilo, propõe que se adquiram as novidades da estação em sites estrangeiros, como o Asos, Topshop, Urban Outfitters, etc. “Eles também têm amarelo, Tex-Mex e semiflorais em abundância, mas muito menos vistos, claro, que nas casas mais conhecidas do nosso país.”

2. Tenho uma peça trendy... mas nada que dê com ela

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Rosa-pálido, perfurado, bom corte, em suma, irresistível. Queríamos aquele blusão em pele nude. E já o temos! Mas o que fazer dele se não temos a saia de musselina nem as calças chino em coral que ficavam ali tão bem – se nos ficavam bem a nós, é outra história. Como conseguir aquele estilo rock romântico visto nas revistas e que a maior parte das jovens atrizes francesas parecem ter instintivamente, como Clémence Poésy? Sobretudo quando, pensando bem, o penteado também não é o adequado: o cabelo apanhado frouxamente de lado é uma missão impossível para o nosso carré... Estas cruéis interrogações valem, naturalmente, para qualquer outro objeto de desejo incongruente que exista no nosso guarda-roupa.

É grave? A peça ovni é um clássico dos erros de casting em moda, porque todas nós, de tempos a tempos, sonhamos ser outra pessoa. Temos duas opções. Ou fica no cabide, como um belo objeto museográfico, e contemplamo-la de vez em quando, fantasiando usá-la um dia; ou, para a completar, lançamo-nos numa campanha de compras ruinosa – sapatos, top, carteira, óculos... – que nos deixa igualmente insatisfeitas, porque faltará sempre alguma coisa na panóplia ideal, na qual não nos reveremos.

Como fazem as profissionais? Libertam-se precisamente do conceito de panóplia pré-fabricada. Delphine Perroy é clara: “Devemos permitir-nos sermos mais racionais que os criadores. Um blusão de pele? Sim, mas usado sem espalhafato, como um casaco, com uma camisa, uma saia direita e uns sapatos elegantes. Não construímos o nosso visual em torno dele; é ele que se integra no nosso.” Idem para o famoso pijama urbano em seda listrada. Uma ideia disparatada quando não se é Greta Garbo? “Não, se só se usar a camisa, muito elegante sob um blazer. Ou mais casual, com uns jeans um pouco usados.” Isabelle Thomas aconselha a dispor sobre a cama o alien recém-adquirido e procurar conjugá-lo com outras peças para encontrar o visual certo. “Estas experiências devem ser feitas sem ideias pré-concebidas, sem sequer pensarmos em nós, mas só porque achamos bonito... Em geral, o resultado funciona muito bem.”

3. A minha roupa é sublime... mas não para a minha idade

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Aquele vestido amarelo à patinadora, aquela gola arredondada branca, aqueles slippers às bolinhas pareciam muito frescos e preppy no provador, mesmo sem termos o corpo ou a idade de Alexa Chung. Mas quando os usamos, admitamo-lo, sentimo-nos velhas disfarçadas de rapariguinhas. Uma peça demasiado menineira ou, pelo contrário, demasiado senhoril é sempre uma aposta extremamente arriscada. Uma saia plissada com o comprimento errado (como a tendência pela barriga da perna, que pode ser terrível) e ficamos logo com 15 anos em cima e um bilhete só de ida para uma peregrinação.

É grave? Mais uma vez, ninguém está livre, mesmo que tenha um estilista guru por perto. A atriz Carey Mulligan, com apenas 27 anos, tende a vestir-se à senhora nas passadeiras vermelhas. Pelo contrário, Madonna, a acreditar na sua adolescente Lourdes, surripiaria os shorts da filha. Entre estes dois extremos, cada uma de nós tem na cabeça uma espécie de idade ideal (os trintas, para a maioria) à qual tem, por vezes, dificuldade em renunciar, mesmo vários anos depois, o que explica algumas das nossas escolhas erradas.

Como fazem as profissionais? Para as nossas duas especialistas, uma vez suprimidos os erros crassos, ter a idade da nossa roupa é, antes do mais, uma questão de acessórios. “O princípio é eliminar o que um estilo pode ter de demasiado marcado”, recomenda Delphine Perroy. “Por exemplo, não usar um penteado muito elaborado quando o vestuário já é sofisticado.” As sandálias com saltos de madeira rústicos (Swedish Hasbeens, Valérie Salacroux) têm um efeito de antídoto comprovado sobre qualquer roupa um pouco insípida. Ao passo que as sabrinas ou os derbies, sobretudo em cores pastel, produzem o efeito inverso. As joias grandes (pulseiras, colares, brincos) modernizam ou “adultizam” tudo. “Quanto ao cinto étnico ou ao blusão de ganga sobre uma saia, são truques radicais para tornar um visual menos colegial”, conclui Isabelle Thomas.

4. Tenho um visual vanguardista... mas não é fashion

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Há dias em que o nosso guarda-roupa nos inspira conjugações audaciosas ou mesmo arriscadas. Ousamos associações improváveis à partida, criando um mix and match de padrões étnicos ou uma agradável mistura de motivos geométricos à anos 1950, num espírito muito Marni. Ser vanguardista dá-nos asas... mas também muitas dúvidas. Vestir bolinhas com quadrados é tendência ou ridículo? Seremos estetas incompreendidas? Ou palhaços a ignorar? A tendência atual, que consiste em tudo misturar sem preocupação aparente em conjugar as cores – demasiado burguês –, deve usar-se com muito cuidado.

É grave? A blogosfera da moda não para de popularizar visuais inéditos que o vulgo considera quase sempre excessivos. Um exemplo? A estilista Elisa Nalin, referência dos style hunters, e as suas misturas, por vezes, no limite.

Como fazem as profissionais? As nossas duas peritas valorizam o princípio das associações com impacto: “Isso dá mais força a roupas muito clássicas quando usadas separadamente.” Misturemos, pois, sem medo uma camisa às florinhas com um casaco de xadrez grande, ou flores grandes com bolinhas, “desde que observemos a mesma paleta”, previne Delphine Perroy. Esta estação, as mais modernas ousarão misturar padrões muito gráficos (bolas, espirais, triângulos). A única condição para evitar o desastre: “Refugiar-se em duas cores primárias, mais um toque de preto. E é tudo!”

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