Novos talentos: Quarteto fantástico
Anne Sophie, Ana, Joana e Eliana são quatro jovens portuguesas que fazem o que gostam, com mérito e sucesso, fora do país.

ANNE SOPHIE COSTA 26 anos, make-up artist, Londres
PESSOAL E INTRANSMISSÍVEL O melhor conselho que já recebeu. Assistir, assistir, assistir. Porque só assim é que se aprende! A maior herança da cultura portuguesa. O coração. A genuinidade que só os portugueses conseguem ter da forma mais pura. O melhor e o pior de viver em Londres. Como costumo dizer: "London isma mix feelings." Poder trabalhar com as melhores equipas vs. não ter carro; há dias em que os metros e autocarros são um pesadelo!
Assistir, assistir, assistir. Porque só assim é que se aprende!
A maior herança da cultura portuguesa.
O coração. A genuinidade que só os portugueses conseguem ter da forma mais pura.
O melhor e o pior de viver em Londres.
A escolha de qual seria o seu futuro profissional não se revelou difícil. Anne Sophie cita o provérbio espanhol (fala este idioma desde os 3 anos) “Si el cielo te da limones, aprende a hacer una limonada” para explicar como foi parar ao mundo da moda e reconhece a sua sorte: “Em dois anos e meio fiz o percurso que uma maquilhadora percorre em cinco. Fiz de tudo em Portugal, trabalhei com todas as boas revistas." A sorte voltou a sorrir-lhe em Londres, no Selfridges. Enquanto fazia compras foi desafiada pelo maquilhador a assisti-lo nuns fashion shows. “Senti que estava a crescer e era agora ou nunca."
Em janeiro de 2009 ganhou coragem e mudou-se para Londres. Recorda que aprendeu inglês em dois meses depois de uma vida inteira a tentar e ficou-lhe a lição de que com vontade tudo se consegue. A sua mais recente “vitória” foi ter sido convidada para integrar a agência One Make Up. Daqui a concretizar o seu sonho de maquilhar Kate Moss talvez seja apenas um passo...
ANA ROMERO 31 anos, designer, Nova Iorque
PESSOAL E INTRANSMISSÍVEL O melhor conselho que já recebeu. Não ter medo e lançar-me para as coisas. Aprendi que se ficar parada a pensar no que gostaria que acontecesse nada acontece, mas se puser as coisas em movimento e enfrentar os meus receios podem surgir oportunidades. A maior herança portuguesa. Uma riqueza cultural imensa. Vivemos influenciados pelo cinema e pela televisão e isso leva-nos muitas vezes a achar que os outros - os estrangeiros - são melhores do que nós em quase tudo. Isso não é verdade. Olhando para a qualidade do trabalho dos meus colegas portugueses e americanos, a única diferença que vejo é que os últimos têm mais oportunidades para se fazer ouvir porque as empresas não têm medo de apostar em novos talentos. O melhor e o pior de viver em Nova Iorque. O melhor é o contacto com uma grande variedade de pessoas e sentir que, se trabalharmos muito e bem, tudo pode acontecer porque há muitas oportunidades. Grande parte das pessoas não nasceu aqui e viver entre outros como nós faz-nos sentir um pouco menos estrangeiros. Sinto-me em casa. O pior mesmo é a distância da família e as saudades!
Não ter medo e lançar-me para as coisas. Aprendi que se ficar parada a pensar no que gostaria que acontecesse nada acontece, mas se puser as coisas em movimento e enfrentar os meus receios podem surgir oportunidades.
A maior herança portuguesa.
Uma riqueza cultural imensa. Vivemos influenciados pelo cinema e pela televisão e isso leva-nos muitas vezes a achar que os outros - os estrangeiros - são melhores do que nós em quase tudo. Isso não é verdade. Olhando para a qualidade do trabalho dos meus colegas portugueses e americanos, a única diferença que vejo é que os últimos têm mais oportunidades para se fazer ouvir porque as empresas não têm medo de apostar em novos talentos.
O melhor e o pior de viver em Nova Iorque.
Licenciada em design de comunicação pela Faculdade de Belas-Artes de Lisboa, Ana começou por trabalhar na loja Poeira e depois por conta própria como designer têxtil. A sede de aprender e dominar todos os aspetos da atividade corre-lhe no sangue. O pai, professor no ISEG, é especialista em marketing e criou a primeira cadeira de empreendedorismo. Não será, por isso, de estranhar que esta jovem de discurso seguro e ponderado se tenha preparado como uma profissional para participar numa das mais importantes feiras de design americanas, a International Contemporary Furnish Fair (ICFF), equivalente ao Salão do Móvel em Milão. Tudo foi programado ao pormenor, desde analisar os concorrentes, antecipar encomendas, logística, capacidade de resposta, até um simples CD, mais económico e prático, com o catálogo da sua marca, Ana Romero Design, foi providencial para cativar os potenciais interessados. E desta forma abafou a insegurança de tamanha responsabilidade com uma organização exemplar. “Os americanos valorizam muito quem tem coragem de mostrar o seu trabalho – porque é preciso coragem!”, sublinha Ana. “Enquanto os portugueses são mais desconfiados, os americanos quando gostam de uma coisa, dizem-no abertamente, são muito carinhosos, e esse instinto associado ao conhecimento do mercado faz as coisas avançar.”
O que define e diferencia os desenhos de Ana Romero é uma forte componente textural aliada à cor que traduz alguma complexidade visual: “A minha inspiração é a Moda e procuro transpor essas influências para o contexto da decoração e dos acessórios. Sigo as tendências, mas afirmo-me por um estilo pessoal.” Saks Fifth Avenue e Barneys são duas lojas de referência de Manhattan que comercializaram desenhos exclusivos de Ana Romero, fazendo-a sentir que não há limites para chegar cada vez mais longe. E quando Blake Lively usou uma capa de iPhone da coleção de Ana Romero na última temporada de Gossip Girl os dados estavam mais do que lançados para o sucesso. Mas Ana atribui a sua sorte a uma atitude: “Quando somos generosos, as pessoas querem ser generosas connosco também. É contagiante e é importante criar uma energia positiva e isso influencia a nossa sorte.”
>> JOANA POMBEIRO, 27 anos, designer e gestora, Maputo
JOANA POMBEIRO 27 anos, designer e gestora, Maputo
Considera-se uma self made girl. E não é caso para menos. Joana cresceu numa família de doutores e engenheiros, mas decidiu seguir o seu talento para comunicar e conviver, licenciando-se em marketing, publicidade e relações públicas. Em 2011 surgiu-lhe a oportunidade de ir viver para Moçambique com o namorado e é aí que reside desde então. A convivência diária com as capulanas, tecidos típicos africanos usados pelas mulheres como vestimenta e para transportarem as crianças encostadas ao corpo, despertou-lhe a vontade de criar as suas próprias peças naquelas estampas adaptadas aos estilos e designs ocidentais.
PESSOAL E INTRANSMISSÍVEL O melhor conselho que já recebeu. Não desistir de uma ideia tão gira, original e inovadora. A maior herança da cultura portuguesa. Os valores de família e civismo. Quando se vive em África valoriza-se bastante isso. O melhor e o pior de viver em Maputo. O clima, as capulanas, a possibilidade de viver experiências que só África proporciona vs. a desorganização, o custo de vida e a corrupção.
Não desistir de uma ideia tão gira, original e inovadora.
A maior herança da cultura portuguesa.
Os valores de família e civismo. Quando se vive em África valoriza-se bastante isso.
O melhor e o pior de viver em Maputo.
O projeto Joana Capolana começou por ser uma brincadeira, mas “inesperadamente começaram a chover-me pedidos de amigas de amigas e apercebi-me que esta pequena ideia tinha potencial para se tornar algo maior”. E os números assim o provaram: nos primeiros três meses vendeu cerca de 400 artigos. Joana assume o projeto inteiramente como seu, desde o desenho dos modelos, escolha dos tecidos, padrões e acabamentos ao acompanhamento da produção, controlo de qualidade, etiquetagem, promoção da marca e contacto com o cliente. O que lhe dá mesmo prazer é comprar as capulanas: “Inicialmente só escolhia o que gostava, mas apercebi-me que vendia mais as peças que não faziam tanto o meu género. Aprendi que devemos sair daquilo que nos atrai para agradar a um público maior.”
Afinal, que tipo de mulher usa as peças Joana Capolana? A mentora assume que desejava acabar com a ideia de que estes tecidos são exclusivamente usados por africanos. “Quem compra é a mulher que não tem medo de arriscar e usar padrões coloridos e diferentes, destacando-se do comum, sem parecer demasiado exótica.” Inicialmente eram só portuguesas, mas atualmente a marca já se expandiu para os mercados americano e angolano. “São clientes muito exigentes que procuram peças mais exclusivas e exuberantes.” Joana foi convidada no ano passado a participar na Africa Fashion Week em Dallas e o balanço foi “extremamente motivador”. Neste momento está a tirar um curso de Moda e Costura em Portugal para acompanhar melhor todo o processo de produção e a curto prazo tem o desafio de estar presente na Africa Fashion Week em Los Angeles. Joana adorava ver Oprah ou Eva Mendes com uma das suas peças. Quem sabe se não recebe uma encomenda?
ELIANA MASGALOS 29 anos, senior fashion designer, Estocolmo
PESSOAL E INTRANSMISSÍVEL O melhor conselho que já recebeu. Observa, ouve e depois fala, se for caso disso, e nunca penses que já sabes o suficiente. A maior herança da cultura portuguesa. Tudo o que me fez ser até hoje a pessoa que sou. A educação, os valores, bem como a força e a energia para conseguir os meus objetivos. O melhor e o pior de viver em Estocolmo. A organização, o bom senso, a educação. O facto de viver no centro de uma grande cidade e ainda assim ter a tranquilidade de viver como nos arredores. O que menos gosto é a falta de espontaneidade. Tudo tem de estar previamente marcado, até um simples café.
Observa, ouve e depois fala, se for caso disso, e nunca penses que já sabes o suficiente.
A maior herança da cultura portuguesa.
Tudo o que me fez ser até hoje a pessoa que sou. A educação, os valores, bem como a força e a energia para conseguir os meus objetivos.
O melhor e o pior de viver em Estocolmo.
A formação em Cool Hunting na prestigiada Central St. Martins College of Arts and Design (Londres) foi mais um investimento que lhe permitiu sonhar com objetivos mais altos. “Depois de trabalhar no gigante Inditex nada melhor do que a grande concorrente H&M para mudar.” Natural de Aveiro, Eliana andou pelo mundo, define-se como uma cidadã global. No seu passaporte carimbou destinos como Deli, Bombaim, Hong Kong, Dublin, Las Vegas, Pequim e Xangai. Vive em Estocolmo há um ano e meio. As viagens, os museus, a fotografia e o dia a dia são as suas fontes de inspiração numa atividade que nada tem de monótona ainda que siga uma rotina: “Como senior fashion designer analiso vendas, a concorrência e as novas tendências, discuto produtos, falo com a produção... No tempo que sobra desenho!”
Embora integre uma megaestrutura, Eliana não se considera uma formiguinha anónima: “Dão-me bastante liberdade para mudar e experimentar.” Por isso, aceitou na hora um novo desafio: está de malas feitas para Xangai, onde irá exercer as mesmas funções na H&M local com o estímulo acrescido de desenvolver coleções cápsula, sem preocupações comerciais. “É um projeto muito criativo! Tenho grandes expectativas.” Apesar de aumentar a distância de casa e da família, Eliana não hesita: “Enquanto houver sonhos e vontade há caminho a seguir.”
Fotografia: Getty Images, Matilde Travassos, Nuno Oliveira e Jacobo Campos.
