Demi Moore, a mais bonita? "Coroar alguém que se alterou tanto para parecer mais nova não devia ser aplaudido"
A atriz foi considerada pela "People" a mulher mais bonita do mundo em 2025 — e as opiniões dividem-se. "Se as mulheres fizerem alterações cosméticas, julgamos. Se envelhecerem sem manter uma aparência jovem, são demolidas. Tornou-se impossível envelhecer, seja qual for o caminho que se escolhe."

A notícia tem estado a correr a imprensa internacional nos últimos dias: aos 62 anos, Demi Moore foi considerada pela revista People a mulher mais bonita do mundo em 2025. Na entrevista que acompanha a edição deste ano da World’s Most Beautiful — distinção que é entregue desde 1990 — a atriz desabafou sobre as lutas com a sua auto-imagem e confessou sentir-se hoje melhor no seu corpo do que durante a juventude. "Estou seguramente mais confortável na minha pele agora do que alguma vez estive", afirmou. A par dos aplausos, e apesar de pretender passar um sentimento positivo em relação ao envelhecimento, tanto o prémio como a conversa têm sido também alvo de críticas.
Mas vamos primeiro à entrevista. "Tenho uma maior apreciação por tudo aquilo que o meu corpo passou, que me trouxe até aqui", afirmou a atriz à revista. "Não quer dizer que, por vezes, não me olhe ao espelho e pense ‘Meu Deus, estou velha’, ou ‘a minha cara está a cair’ — eu faço-o. Mas consigo aceitar que é aqui que estou hoje. E sei que a diferença é que isso não define o meu valor ou quem eu sou."

Quando questionada sobre os sacrifícios que fez ao longo da vida pela sua aparência, respondeu: "Eu torturava-me. Coisas loucas, como ir de bicicleta de Malibu até Paramount, que são 41,8 quilómetros. Tudo porque valorizava tanto a minha aparência. A maior diferença hoje é que se tornou muito mais sobre a minha saúde em geral, longevidade e qualidade de vida. Evoluí para ter uma maior delicadeza comigo mesma. Era tão dura e tinha uma relação muito mais antagonista com o meu corpo. E estava só a castigar-me."
Nas redes sociais, o post onde a publicação norte-americana expôs a capa desta nova edição reúne já centenas de reações. "Muito desapontada. Nada contra a Demi, mas 'pessoa mais bonita do mundo’ significa beleza natural, não alguém que tenha feito muitas, muitas cirurgias", escreveu o utilizador que aparece no primeiro lugar da caixa de comentários. "É natural sentirmo-nos confortáveis ‘na nossa própria pele’ quando fizemos tantas cirurgias", escreve outro perfil. "Tão vazio e desonesto louvar beleza criada de forma artificial." O sentimento repete-se ao longo da caixa de comentários e tem sido ecoado por alguns opinion makers.

Ulrika Jonsson, de 57 anos, ex-modelo e atual apresentadora de televisão, criticou duramente a decisão da People, num artigo que assinou no jornal britânico The Sun. "Quem quer que a tenha escolhido fê-lo sob a pretensão de estar a reconhecer ‘uma mulher de uma certa idade’", escreve. "A ironia é que Moore não parece ter a sua idade. Está linda, mas definitivamente não parece ter 62 anos. Este prémio diz ao mundo — e mais especificamente às mulheres — que só podemos ser valiosas se disfarçarmos a nossa verdadeira idade [...] O que este prémio faz é sublinhar e reacender a ideia de que só celebramos as mulheres que lutam contra o envelhecimento de forma vingativa."
"Absolutamente e inequivocamente aceito que as mulheres têm o direito de fazer o que querem às suas caras e corpos. Mas se já trocámos o body positivity e a narrativa do envelhecimento natural por uma magreza abastecida a Ozempic e caras congeladas no tempo, isso coloca as mulheres numa posição impossível", declarou. No mesmo artigo, aponta-se "o elefante na sala": a atriz não abordou, em momento algum da entrevista, os procedimentos estéticos que, alegadamente, contribuem para que mantenha a sua imagem.
Não só a escolha, mas também a validade do próprio prémio tem vindo a ser questionada, quando vista à luz do pensamento atual. "Julgar alguém pela aparência é tão 1965", comentou a jornalista norueguesa Kjersti Flaa, de 52 anos, no seu canal de YouTube. "E premiar alguém que fez tantos procedimentos à cara que está quase irreconhecível, porque quer parecer jovem... não acho que seja um padrão de beleza que deva ser aplaudido. É do estilo: ‘Olhem! Ela tem 62 anos e ainda é bonita, e o motivo pelo qual estão a dizer isso é porque há uma indústria a fazer biliões, triliões de dólares, com mulheres que estão sempre a tentar parecer mais novas."

"Porque é que ainda falamos de beleza? Temos andado a tentar fazer um rebranding da beleza e estabelecer diferentes padrões de e dizer que vamos redefini-la, mas o que ainda estamos a dizer com isso é que tudo o que importa é sermos bonitos", continua. "A People devia evoluir além de chamar a uma mulher ‘a mais bonita’, dizer que isso é um grande prémio para se receber, ser chamado de bonito numa lista. Não é. A lista devia ser: a mulher mais ousada, a mais desafiante. Idealizar beleza intemporal é impingir-nos produtos antienvelhecimento."
A entrevista da People não deixou de fora o filme The Substance, que valeu a Moore, na última temporada dos prémios da indústria, nomeações de melhor atriz, incluindo a vitória nos Globos de Ouro. Sobre o filme, a atriz disse: "Há um aspeto que todos experienciámos, que é comparar e desesperar. E não é necessariamente apenas sobre o nosso exterior. É um julgamento auto-crítico duro."

Sobre este tema, vários internautas apontaram a "ironia" da distinção quando vista em paralelo com o tema do filme. Na comunidade do Reddit "Demi Moore covers People’s Most Beautiful Issue", o photoshop e filtros carregados das imagens estiveram no centro de comparações trocistas com a história. "Uma vitória para Demi, mas sinto que o objetivo de The Substance passou totalmente ao lado dos media."
A narrativa está presa num círculo vicioso. Apesar das críticas que apontou ao prémio, Ulrika Jonsson sublinhou que, façam o que fizerem, as mulheres vão ser julgadas. "Se fizerem alterações cosméticas, julgamos [...] Se uma mulher envelhecer sem tentar manter uma aparência jovem, é demolida por parecer 'demasiado velha'", desabafa. "Resumidamente, tornou-se impossível envelhecer, seja qual for o caminho que se escolhe."

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