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Celebridades

Antes a Rir...

Numa edição em que se fala de felicidade, a Máxima reuniu quatro mulheres que fizeram do humor a sua profissão. 

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29 de julho de 2014 às 07:00 Máxima

Maria Vieira

Com 33 anos de carreira, é uma das personagens mais queridas do público português, tendo brilhado na televisão, cinema e teatro. Atualmente, participa na série da RTP Os Filhos do Rock e prepara a participação no filme brasileiro Caiu na Rede É Peixe, de André Pellenz, e no português Rádio Algarve, de André Badalo.

 

O humor sempre foi algo presente na sua vida?

A minha primeira e grande paixão desde muito pequena foi a dança. O teatro e o humor vieram por acréscimo, sobretudo por influência do meu pai, com quem, aliás, fiz as minhas primeiras peças teatrais, enquanto criança.

 

O facto de fazer tão bem humor limita-a como atriz no sentido em que pode ser uma escolha menos óbvia para personagens mais dramáticas?

Atualmente, estou na RTP1 a fazer Os Filhos do Rock, com uma personagem profundamente dramática. Nas duas novelas que fiz na TV Globo, alternava a comédia e o drama. No teatro, fiz drama com o Filipe La Féria em A Rosa Tatuada e com o Carlos Avilez, no monólogo A Boba... Sou essencialmente uma atriz, apesar de, ao longo dos meus 33 anos de carreira, ter feito mais comédia do que drama.

 

Faz-se cada vez mais humor em Portugal. A quantidade acompanha a qualidade?

Bem pelo contrário, em Portugal faz-se cada vez menos humor, sobretudo na televisão. As comédias são cada vez mais raras nas estações de televisão nacionais. Assistimos, isso sim, a programas de entretenimento estupidificantes, onde alguns atores se sujeitam, por motivos vários, a fazer figuras ridículas com o intuito de divertir públicos menos exigentes. Convém não confundir esse tipo de coisas com verdadeiros programas de humor... Felizmente, e em jeito de compensação, o teatro tem vindo a preencher essa lacuna televisiva, oferecendo ao público cada vez mais espetáculos que utilizam a comédia e o humor nas suas mais variadas formas e gostos para gáudio de todos aqueles que não se contentam com vulgaridades absurdas.

 

O humor ainda é um meio dominado pelos homens?

De facto, em Portugal, sobretudo na televisão, o humor é maioritariamente masculino, ou seja, são os homens que aparecem mais, fazendo humor e comédia. O mesmo não se passa por exemplo no Brasil, onde vivi dois anos, no Reino Unido ou nos EUA, onde as comediantes e as humoristas continuam, ainda assim, a desempenhar um papel importante nessa vertente artística. No entanto, passa-se o mesmo na política, na economia, na justiça... Continuamos a viver num mundo onde os homens têm um papel de destaque e isso aplica-se também no exercício profissional do humor.

 

O que a faz rir?

Faz-me rir – e às vezes chorar – a incompetência e a corrupção dos políticos um pouco por todo o mundo e fazem-me rir a Dawn French, a Jennifer Saunders, o Miguel Falabella, os saudosos Monty Python, o Ricky Gervais, o Matt Lucas, o David Walliams, o Rowan Atkinson, o Sacha Baron Cohen... e algumas portuguesas e portugueses que não vou enunciar para não ferir suscetibilidades.

 

 Para uma humorista é fácil, por vezes, “falar a sério”?

As pessoas tendem a achar que os comediantes estão sempre bem-dispostos, esquecendo-se que quem as faz rir também tem motivos para chorar... No que me diz respeito e por respeito a quem admira e sustenta o meu trabalho, eu faço sempre o possível para segurar um sorriso no rosto, mesmo que, por vezes, o peso desse sorriso seja difícil de suportar..

 

É fácil partir de uma característica pessoal, como ser baixinha ou ter uma voz rouca, para criar uma personagem? Imagino que seja necessária muita segurança…

Não há nada mais saudável do que sabermos rir de nós próprios. E isso aplica-se não só aos comediantes e humoristas mas a toda a gente.

 

Muitas vezes, um sketch humorístico faz-se partindo da caricatura de alguém. Já sentiu que, mesmo tratando-se de humor, poderia estar a magoar um terceiro? Como se gere isso?

Já passei por situações dessas, mas fazer humor envolve, naturalmente, esse tipo de riscos, com os quais, melhor ou pior, nos habituamos a conviver. De resto, acho que os limites do respeito e do bom gosto nunca devem ser ultrapassados.

 

Sofia Baessa

Foi um dos rostos mais reconhecíveis da moda portuguesa, que recentemente trocou a passerelle pelo humor. A web série cómica que protagoniza, A.Lusitanicus, na sua segunda temporada, é já um sucesso consumado.

 

Como descobriu que tinha queda para a comédia?

Sempre fui muito ruidosa e enérgica. Entre os amigos, era a macaca, a palhaça… Sempre foi algo muito natural em mim.

 

O facto de ser modelo, profissão onde as mulheres são muitas vezes vistas como meros “cabides”, facilitou ou dificultou a sua entrada no humor?

Nos backstages dos desfiles sempre me disseram que eu devia fazer qualquer coisa nesta área, tanta era a palhaçada. Mas é verdade que ninguém espera que uma modelo de 1,88 m, como é o meu caso, consiga largar a pose e fazer uma careta onde fica com a cara completamente alterada. No entanto, a comédia passa mesmo por isso, por esse desmontar do boneco. Ou seja, posso ser a modelo, mas, se quiser, também posso ser o Álvaro Traveca da Amadora. Acredito que é partindo das minhas diferenças que posso também arrancar uma gargalhada.

 

Como surge o projeto A.Lusitanicus? Como tem sido a aceitação?

O convite para integrar esta web série foi feito por Duarte Neves, um dos criadores de A.Lusitanicus, que me viu a fazer as minhas macacadas no meio das gravações de um anúncio. Ele achou que eu era ideal para desempenhar a personagem Boazona, uma mulher muito bruta, que me dá espaço para improvisar. No que diz respeito à receção, tem sido muito boa. Colocamos no ar um episódio por semana e avançamos com cautela, pois tudo é feito por nós.

 

O que a faz rir?

Tudo, até as coisas mais drásticas, pois tenho um humor muito negro. Na minha vida, mesmo quando as coisas não correm tão bem, tento vê-las pelo lado cómico, para superar melhor a situação.

 

Quais são as suas referências no humor?

Gosto daquele tipo de humor em que a personagem tropeça, salta-lhe a peruca e depois anda com ela debaixo do braço! Além disso, gosto da época de Costa do Castelo, Leão da Estrela e Vasco Santana. Sou também fã de Laura Alves e Ivone Silva, pois gosto de mulheres com pelo na venta. As minhas outras referências são Absolutely Fabulous, Maria Vieira, Ana Bola, Maria Rueff, Herman, Bruno Nogueira e Ricardo Araújo Pereira.

Joana Cruz

Foi a terrível repórter de Êxtase e Caia Quem Caia, capaz de deixar em pânico figuras do jet set nacional e os seguranças de Cavaco Silva. A sua arma? Perguntas hilariantes e um microfone. Atualmente, é uma das animadoras das manhãs da RFM.

Quando é que se apercebeu que tinha queda para um registo mais humorístico?

Penso que não existe propriamente aquele momento em que te apercebes que tens queda para qualquer coisa. A menos que te chames Marco Paulo. Nesse caso, assim que começas a perceber o que as pessoas te dizem, topas logo que há qualquer coisa que não vai correr bem contigo. Como todas as crianças também eu fazia as minhas “teatrices”, sim. Sempre com muito pouca qualidade. Tipo Marina Mota. 

 

Houve vários momentos da sua vida profissional onde o humor e o sarcasmo eram características muito vincadas. Isso trouxe-lhe problemas?

O trabalho reflete sempre um pouco da nossa personalidade. E a nossa personalidade traz sempre alguns problemas com determinadas pessoas. Felizmente, tenho tido sorte com as reações e, ao contrário do Paulo Portas, não me arrependo de nada.

 

Há algum episódio a registar?

Uma vez entrevistei o Simão Sabrosa e fiz-lhe algumas perguntas sobre o Benfica e sobre alguns jogadores do Benfica. Basicamente, não reagiu às minhas provocações, mas estava sempre com vontade de se rir. Aguentou-se bem, vá lá. Já o Luís Figo não foi de modas e foi à vida dele. O Júlio Iglesias até encarou bem a forma de lhe apresentar o nosso filho comum. Episódios de uma vida normal.

 

Em Portugal faz-se bom humor?

Sim. Especialmente de 15 em 15 dias, nos debates da Assembleia da República.

 

Quando quer “falar a sério” as pessoas absorvem bem a mensagem? 

Tenho esse registo sério e penso que as pessoas que me conhecem não têm dificuldade em percebê-lo. Não tem nada a ver com os debates quinzenais na Assembleia da República. Aí, admito, é realmente complicado perceber quem está a brincar e quem está a falar a sério.

 

Quem são as suas referências humorísticas? 

Nomes como Ricky Gervais, Conan O’Brien, Miguel Relvas, entre outros.

 

Gostaria de voltar à televisão ou aventurar-se na stand-up comedy?

Adoro fazer televisão e espero ter projetos nessa área. Mesmo que seja para falar de bola, como a Joana Amaral Dias. De stand-up também gosto bastante, mas o circuito de três bares que existe está sempre cheio.

Maria Rueff

Agora num registo dramático, é uma das estrelas de Mulheres, a nova novela da TVI, e do filme As Mil e Uma Noites, de Miguel Gomes. No entanto, faz rir Portugal há 20 anos, quer imitando personalidades como Manuela Moura Guedes ou Judite de Sousa quer em sketches como Nelo e Idália e Zé Manel Taxista.

 

Qual é o estado do humor em Portugal?

Cada vez se faz menos humor. Confundiu-se programas de humor, com a honrosa exceção de Melhor do que Falecer, com a ideia de fazer programas funny, de entretenimento. Isso é completamente diferente de um humor inteligente, trabalhoso, que implique atores de comédia, que faça pensar...

 

Porquê?

É uma política das televisões e dá-me muita pena. Penso que um programa de humor pode ser sinónimo de boas audiências, como foi o Estado de Graça, da RTP, onde participei.  

 

O facto de fazer tão bem humor limita-a como atriz no sentido em que pode ser uma escolha menos óbvia para personagens mais dramáticas?

Neste momento tive o belíssimo convite e desafio da TVI para integrar uma novela num papel dramático. Apregoei tanto aos sete ventos que estava pronta para outro tipo de papéis que alguém agarrou nisso e desfiou-me. No entanto, obviamente que me sinto preparada para tudo, mas, na verdade, a comédia é um plus com que se nasce. Se tiver de fazer comédia a vida toda, não me importo nada. É bom fazer outros registos para desenferrujar, mas não tenho necessidade de validação.  

 

E quando é que percebeu que tinha esse plus?

À mesa, ou com os irmãos, imitava o primo ou o professor… Somos desde pequenos o bobo da corte. Mas era muito tímida, não era de teatrinhos, e tinha tiradas de humor e um sentido de observação muito apurado que me permitia imitar as pessoas à minha volta…

 

Já que parte muitas vezes da imitação dos outros, não tem medo de ferir suscetibilidades?

Faço sempre o exercício em que me pergunto: “Se fosse comigo, quando é que eu parava de rir?” É preciso ser-se bem formado e estar bem para poder rir de si próprio. Eu gosto de rir de mim própria, dos meus defeitos e das minhas características. Aliás, dediquei todos os prémios de humor que recebi a algumas mulheres que imitei, pois demonstraram sempre um enorme fair play. Para dar um exemplo, a primeira foi a Sofia Aparício, que me ofereceu um ramo de flores com um cartão onde se lia “estou igual”. Isto é de uma grande inteligência e de uma grande capacidade. Todas as mulheres que retratei – e foram quase todas as importantes da sociedade portuguesa – conhecem a minha seriedade e sabem que caricaturo pessoas pelas quais tenho o maior respeito. Só se caricatura quem existe.

 

Rir é mesmo o melhor remédio?

Sim. E muitas vezes é mais eficaz uma rábula do que uma grande dissertação sobre o outro ou uma situação política…

 

No panorama internacional observa-se o aclamar de cada vez mais comediantes femininas. Em Portugal o fenómeno é semelhante? O que separa os homens e as mulheres no momento de fazer humor?

O humor é uma forma de contrapoder e o poder sempre esteve maioritariamente na mão dos homens. Contam-se pelos dedos das mãos as comediantes mulheres, especialmente em Portugal. Até historicamente, se olhar para os romances do século XIX, uma senhora nunca ri dilatadamente, nunca se expõe, nunca se desfeia… O cómico é um ator que se suja, que trata o ridículo, o kitsch, o criticável… Por norma, isto não ficava bem a uma senhora. As mulheres comediantes não só lutam com o impor a profissão como com o destruir de muitos preconceitos. E isto a nível mundial. Tina Fey chegou a confessar que antes dela muitas comediantes lutaram com argumentistas porque não queriam escrever para mulheres.

 

No seu dia a dia, o público consegue vê-la como a Maria Rueff, mulher, com direito a momentos de alegria, mas também de tristeza?

Sei que as pessoas que não me conhecem estão, naturalmente, à espera que as faça rir. No entanto, sempre mostrei os dois lados, até porque a comédia tem um lado sério, no sentido em que é o exercício máximo de lucidez e atenção. À segunda ou à terceira frase, acredito que consigo levar as pessoas ao registo que quero ter. No entanto, na rua, quando estou triste, preservo-me e tento não andar em locais com muita gente, pois nem todas as pessoas têm a consciência de que o cómico não tem de estar sempre em festa.

 

É consumidora de programas humorísticos?

Conheço tudo o que se faz, mas sou pouco cliente de comédia. Como faço humor há 20 anos alimento-me de outros registos, como filmes biográficos e documentários por vezes em registos até mais tristes. É nas fraturas que encontramos coisas para fazer o outro rir.  

 

Ao longo destes anos, quais as personagens que mais a marcaram?

Tenho a sorte de ter uma galeria de personagens que ficou na história e são todas um pouco como um animal de estimação. Nelo e Idália, as imitações da Manuela Moura Guedes e da Lucy… No entanto, acredito que o Zé Manel Taxista, mesmo depois de 17 anos, é talvez o boneco que as pessoas mais mimam. Se eu fosse Hergé, seria o meu Tintim.

 

Luzes, câmara… risos!

Na imponente escadaria do Teatro Tivoli, o backstage da produção da Máxima foi pautado por momentos de energia e boa disposição. Ficou provado que o ambiente palaciano e os cabelos e maquilhagem inspirados nos anos dourados de Hollywood combinam na perfeição com caretas e muitas gargalhadas.

 

Fotografia de Pedro Bettencourt

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