Alta Voltagem
Veja esta página com cuidado. Por aqui passa uma corrente elétrica que pode eletrocutar os mais incautos.
Ana Sofia Martins, Carina Duarte, Fernando Alvim, Filipe La Féria, Margarida Pinto Correia e a dupla de ouro Gonçalo Roque e Leonor Oliveira foram abençoados com uma energia que os torna imparáveis. A Máxima descobriu o segredo da sua força.
FERNANDO ALVIM: Radialista, apresentador de TV e tudo o mais de que se possa lembrar
Odeio que me digam: “Tem calma!”
“Quando era muito pequeno, tinha uma dificuldade enorme em calçar os sapatos nos pés certos. Um dia, o meu pai abeirou-se de mim e disse-me: ‘Miúdo, hoje vais aprender a calçar os sapatos direitos de uma vez por todas.’ E passou a ensinar: ‘Primeiro, pensa como achas que deve ser. E depois faz exatamente ao contrário.’ E se isto não explica tudo, explica porque é que faço tudo ao contrário do que me é lógico.
A verdade é que percebi cedo que tinha de me safar e tomar a iniciativa. Salvar-me, pronto. Talvez por isso tivesse querido ser sempre o capitão da equipa nos jogos da bola, o delegado de turma. Não nos podemos esquecer de que fui um estilhaço de abril, ou seja, cresci nos anos da revolução em que Portugal mudava e começava a despentear-se. Não sou uma pessoa nada resignada, nem cobarde, tenho muita dificuldade em lidar com o poder quando percebo que é mal exercido. Não tolero a injustiça, nem a incompetência. Sim, depois veio a rádio e depois tudo o resto, porque gosto de comunicar, de partilhar, de falar, de escrever, de editar. A rádio é obviamente a minha zona de conforto, porque a faço desde os 13 anos, mas vejo-a muito resignada e, salvo raríssimas exceções, muito mal gerida. E é uma pena. Se não durmo, por estar a fazer tanta coisa ao mesmo tempo? Durmo. E gosto de dormir valentemente.
Contudo, não tenho horários. Raras vezes me deito antes das quatro da manhã. Se tiver de trabalhar até às sete da manhã e depois dormir até às duas da tarde, não tenho qualquer problema, desde que perceba que fiz tudo o que tinha para fazer. Porque levo as minhas ideias até ao fim. Não tenho paciência alguma para líricos neorromânticos. Inquieto-me com bastante facilidade se percebo que determinada coisa ainda não está feita por manifesto desleixo ou porque ‘é preciso ter calma’. Não gosto nada de pessoas que dizem que é preciso ter calma. Eu não tenho calma nenhuma e gosto que assim seja. Gosto de ser rápido a pensar e a agir, como aqueles empregados de café que num minuto ouvem o nosso pedido e no segundo a seguir nos servem. Adoro pessoas despachadas. E mulheres em particular. Não há nada como uma mulher despachada e bonita. E inteligente, já agora. E talentosa, pronto. Se a minha arma é o humor? Não é nada! A minha arma é um revólver 57 Magnum que tenho debaixo da almofada. Durante muitos anos as pessoas de olhar sério e caladas eram olhadas como pessoas inteligentes e ponderadas. Hoje percebem melhor que são simplesmente pessoas sem ideias, nem vontade de agir, burras, portanto. Cá por mim, sinto cada vez mais energia e vontade de salvar o mundo. Nunca me senti tão em forma, talvez por cada um de nós ter a sua hora. E acho que essa hora para mim chegou. E é agora.”
CARINA DUARTE: Campeã Nacional de Surf
Uma energia renovável
“As ondas dão-me uma energia incrível – apanhar uma onda é a forma de reencontrar a força, mesmo quando tudo corre mal cá fora. Mesmo às oito da manhã, num dia de inverno, a hora a que treino todos os dias. Em 2013, fui capaz de dar a volta aos resultados e comecei a chegar às finais, dentro e fora de Portugal.
O segredo para transformar a energia negativa em positiva? Nas competições, lá fora, aprendi a não ligar aos nomes. Vamos competir com os melhores do mundo e a pessoa pensa: ‘Fogo, vou ter de ir com este ou aquele.’ Mas é estúpido porque se queremos ir às finais vamos ter sempre de passar por eles! Por isso, nas competições, é ter calma. Bem mais difícil é lutar contra a energia negativa que vem de trabalharmos, termos bons resultados e não encontrarmos patrocinadores. É a crise, é isso mesmo! Ajuda é fazer parte de uma equipa: há um ano e meio que treino com a Surftechnique, faço parte de um grupo de cinco, vamos para a água juntos e fazemos ginásio três vezes por semana – puxamos uns pelos outros e é isso que dá outra motivação. Comecei a surfar aos oito anos – escrevi numa composição que queria ser surfista, a professora disse à minha mãe, e a minha mãe investiu em mim, e pelos vistos valeu a pena. Estou em Gestão Hoteleira, na Escola de Hotelaria no Estoril, mas agora a minha prioridade é o surf. O plano B é gerir um hotel para surfistas...”
MARGARIDA PINTO CORREIA: Diretora de Inovação Social da Fundação EDP
Nunca me permito desistir
“Se caí no caldeirão do Obélix em pequena? Talvez! Não, acho que não, a sério. Acredito mesmo que não tenho mais energia do que as outras mulheres – como qualquer mulher sabe, as mulheres têm uma capacidade inacreditável de fazer mil coisas ao mesmo tempo. O que estou é mais exposta, profissionalmente desde muito cedo, e depois por ter casado com uma pessoa que também é conhecida. Aceito que tenho o peso de uma herança genética, qualquer coisa que resulta de ouvir os meus pais dizer: ‘Tens a obrigação de fazer a diferença, as tuas ações e palavras têm impacto e consequências. E não há desculpas, se te vais abaixo, levanta-te depressa.’ Tem de ser uma herança porque somos quatro irmãs, todas muito diferentes, mas as quatro sentimos esta obrigação de devolver à sociedade o que recebemos. Às vezes, é um peso terrível porque nunca me permito desistir. Felizmente, também tenho uma dose de positivismo inabalável, e mesmo quando corre tudo mal, e me vou abaixo, pareço aqueles bonecos que estão todos partidos, mas que por um processo mágico se voltam a reconstruir.
O meu chuto de energia são os outros, dar uma boa notícia, fazer alguém feliz, observar as coisas bonitas à minha volta (a luz do sol nas folhas, uma fachada...), trocar uns minutos de conversa com alguém. Sou um dos poucos portugueses que não têm Via Verde, e todos os dias converso com os senhores das portagens, e é um momento de felicidade – ao cumprimentarmo-nos como pessoas devolvemo-nos existência e é assim sempre que nos relacionamos com os outros de coração aberto. É fácil quem está de fora olhar para a vida das figuras públicas e dizer: ‘Ah, pois é, eu também era otimista se tivesse emprego, casa, carro.’ Mas não é bem assim, já fiz algumas travessias do deserto, quer emocional quer material, e o meu positivismo não passou. Sinto uma imensa gratidão por isso. Na Fundação EDP, tenho a oportunidade de ajudar a implementar projetos que vão fazer a diferença na vida dos outros, como na Fundação do Gil aconteceu, projetos que vão ajudar as comunidades a criar alternativas para resolver os seus problemas e não apenas a tapar buracos, como tantas vezes acontece. Com a responsabilidade de avaliar e medir o impacto destas iniciativas, para saber se devem ser continuadas, replicadas. Dá-me energia trabalhar assim.”
ANA SOFIA MARTINS: Modelo e apresentadora da MTV
Estou sempre ligada à corrente
“O riso! A minha fonte de energia é o riso, revitaliza-me. E então provocar o riso nos outros deixa-me rejubilante! O maior segredo que tenho para impedir que me suguem a energia, e é um segredo que partilho com toda a gente, é o otimismo. Sou irremediavelmente otimista. É aquela história do ok, o mundo está a desabar, está sim senhora, mas é por um bom motivo, talvez para criarmos um novo mundo. Às vezes, os meus amigos irritam-se comigo. Estão a passar uma fase difícil e vêm desabafar, dou-lhes sempre o lado positivo da história, e eles olham para mim tipo ‘não era bem isto que eu queria ouvir’. Mas depois vão para casa e faz-lhes bem.
Ajuda, claro, estarmos a trabalhar naquilo que gostamos. Neste momento, tenho duas profissões de que gosto, e sei que é meio caminho andado para ser feliz, e que tenho muita sorte, mas acredito que mesmo quando estamos a fazer coisas que não adoramos, temos de as ver como um caminho para chegar àquelas que queremos mesmo fazer. E, sobretudo, não dispersar a nossa energia vital em porcarias que não interessam a ninguém, em conflitos inúteis. A minha energia é parecida com a da MTV, dou graças ao Universo por ter vindo parar aqui. Se trabalhasse num canal mais conservador e para um público mais crescido, não sei se a minha energia seria tão apreciada. Desde miúda tenho este defeito. Estou sempre ligada à corrente, acredite que tenho pena dos que tiveram de lidar comigo enquanto criança! Estou sempre a querer fazer coisas, a questionar e a ‘embirrar’, no bom sentido da palavra, a desafiar. E depois as pessoas adoram-me ou odeiam-me. Ultimamente, felizmente, têm gostado, mas é claro que há quem, com toda a legitimidade, critique. Mas acho que, mesmo que a minha personalidade não agrade a toda a gente, a minha energia agrada.”
FILIPE LA FÉRIA: Encenador e dramaturgo
Gosto de stress
“É de nascença! A energia que tenho é de nascença. Nasci no Alentejo, mas na raia, a 11 quilómetros da fronteira, e a minha família é espanhola. Estou convencido de que a energia vem do sangue andaluz. Também tenho o meu lado preguiçoso, mas com as responsabilidades que estão sobre os meus ombros – o Teatro Politeama e os seus trabalhadores – the show must go on. Neste momento, fazemos três espetáculos por dia (o Robin dos Bosques, para crianças, e a Grande Revista à Portuguesa), mas estou sempre a pensar no próximo! Fico até muito tarde a escrever, não por ter mais energia à noite (as pessoas do teatro em geral são noctívagas), mas porque fica tudo em silêncio e consigo escrever melhor. Se as palmas recarregam as pilhas? As palmas são para quem está no palco, para os atores, mas vivo de uma casa cheia. Para haver teatro em qualquer País é obrigatório haver teatro comercial e não comercial, só há off Broadway porque há Broadway, há lugar para todos. Mas o teatro que gosto de fazer é um teatro para o grande público, gosto de ver o público a sair da sala diferente do que entrou, gosto que venham duas, três vezes, quatro vezes, ver a mesma peça. Se vêm assim tantas vezes? Houve um senhor que veio ver a Amália nada menos do que 600 vezes, mais do que eu! – à seiscentésima vez oferecemos-lhe o bilhete. Mas sabe que energia, energia, têm as pessoas que chegam em excursões de sítios como Viana do Castelo ou Caminha para ver um espetáculo e ainda regressam nessa noite. É a prova de que precisam de um lado lúdico na vida e o teatro é essa evasão.
Quando tenho energia a mais o que faço? Vou para o Alentejo [dá uma gargalhada], tenho um pequeno monte perto de onde nasci. Mas não preciso muito de descanso. As minhas férias favoritas são em grandes cidades, por exemplo em Nova Iorque. Gosto de multidões, gosto de stress – aliás, trabalho muito melhor com a meta à vista, no limite.”
GONÇALO ROQUE E LEONOR OLIVEIRA: Medalha de ouro no Campeonato Europeu de Ginástica Acrobática 2013
Conciliar energias
“Sendo dois, é claro que é preciso aprender a harmonizar a energia de um com a do outro. Eu e a Leonor trabalhamos em equipa há um ano e meio e, com o tempo, vamos aprendendo a conhecer-nos melhor, a perceber as reações de um e do outro, a conciliarmo-nos. Porque o nosso trabalho é de conciliação ao milésimo de segundo. O primeiro passo é aceitar que todos temos dias bons e dias maus, o segundo é aprender a conjugar os bons. A nossa treinadora é fantástica, é uma moderadora de sentimentos e de cargas emocionais, ajudando-nos a estarmos em sintonia, sobretudo em fases de competição.
A nível físico, a energia depende de uma boa alimentação, mas para ter muita energia também é preciso estar psicologicamente positivo, estarmos convencidos de que a prova vai correr bem. O importante é definir objetivos para aquela prova em particular. Não podemos entrar em tudo como se fôssemos vencedores, nem convencidos de que vamos sempre ganhar a taça do mundo, por isso o fundamental é definir metas. Se não for assim, a frustração de uma prova trará frustração na seguinte, ou inquietação e impasse, e deita-se tudo a perder.
As vitórias levam a energia a um pico altíssimo e deixamos de conseguir relaxar, de dormir. Aí não há melhor do que uma boa massagem.”
