Lana Del Rey - Nasceu uma estrela
Para alguns uma desilusão, para outros uma revelação, Lana Del Rey é sem dúvida uma das novas musas da pop. E ninguém fica indiferente à sua aura melancólica e sombria. A sua presença já está confirmada num festival de verão, em julho. Oportunidade para vê-la brilhar ao vivo.

Com o mundo a ficar rapidamente farto de Lady Gaga, o rosto de Madonna a parecer cada vez mais esquisito e Beyoncé a desaparecer de cena, Lana Del Rey surgiu em força, sabe-se lá de onde, tornando-se uma das cantoras pop com maior êxito este ano. O seu CD Born to Die disparou para o primeiro lugar das tabelas assim que foi lançado, projetado para a popularidade pelo impacto do seu contagiante videoclip Video Games que causticou a Internet no ano passado com mais de 20 milhões de visualizações.
Lana Del Rey é a expressão máxima do rápido sucesso através da Internet que muitos cantores utilizam atualmente para serem reconhecidos. Munidas de melodias incrivelmente tristes e letras melancólicas, as suas músicas varreram a web e as estações de rádio acompanhadas de um fascínio histérico pela sua fabulosa beleza e pela fachada de aparente ingenuidade. Autodescreveu-se como uma menininha perdida no meio de amores falhados e de um insensível universo tecnológico.
A cantora enfrentou uma desencorajante onda de crítica e resistência por parte do público, desencadeada pela sua infeliz atuação no programa americano Saturday Night Live. Acometida por um forte ataque de nervos (embora recuse admiti-lo), o medo estrangulou-lhe a voz e a expressão corporal de Lana parecia a de Patti Smith fortemente sedada. O encanto de Lana Del Rey parecia ter-se quebrado antes mesmo do lançamento do seu álbum. Mas atuações posteriores em direto no programa de David Letterman e em outros programas devolveram o brilho à sua imagem e quando foi lançado, a 30 de janeiro, Born to Die disparou de imediato para o primeiro lugar em 20 tabelas de êxito no Reino Unido e em toda a parte. Recentemente, cantou para uma audiência televisiva de 30 milhões de pessoas no American Idol, apresentando uma versão delirantemente imaginativa de Video Games, onde deu plena expressão à sua subversividade vocal.
Gosto de música e de escrever canções, mas não é a coisa mais importante da minha vida.
Lana Del Rey é ainda mais bonita em pessoa do que parece na televisão ou nos vídeos. Fala de forma suave e refletida e a sua maneira de estar denuncia as suas raízes de província – cresceu em Lake Placid, no estado de Nova Iorque. Apesar de existirem rumores de que o pai é multimilionário, Lana Del Rey viveu em condições de relativa pobreza durante vários anos, na cidade de Nova Iorque, e lutou pela sobrevivência como Lizzie Grant antes da metamorfose para Lana Del Rey (“Eu queria um nome bonito que ligasse bem com as canções”). Foi a própria Lana que escolheu e editou os excertos de filmagens que acompanham a canção e evocam, com tremendo impacto, os muitos temas tristes contidos na música.
Aos 25 anos, Lana Del Rey divide o seu tempo entre Nova Iorque, Londres e Glasgow. Estudou Filosofia na Universidade de Fordham e deixou a bebida há oito anos, altura em que o álcool se tornou “um problema”.
A sua súbita fama é quase sem precedentes. O que pensa da poderosa reação a si e à sua música por parte do público?
Estou muito surpreendida com tudo isto. Não estava à espera de nada parecido, depois de ter sido praticamente ignorada durante seis anos. Não conseguia que passassem as minhas canções e era extremamente difícil conseguir atuações. Ninguém queria assinar contratos comigo e toda a gente se queixava que as minhas canções eram muito longas e muito sombrias. Fiz contactos em Londres e em Los Angeles, mas ninguém estava interessado [risos]. É uma sensação estranha ter agora um contrato [com a Universal Music] e uma equipa de pessoas a trabalhar comigo…
O problema estava em as suas canções serem baladas ou seria por serem nostálgicas ou sombrias?
Acho que foi tudo junto. A canção Video Games tinha quatro minutos e meio e os produtores com quem falei acharam-na demasiado melancólica. Disseram-me que seria difícil comercializar aquelas canções e consideraram o meu vídeo demasiado sinistro e peculiar [risos].
Mudou-se para Nova Iorque quando tinha 18 anos e estudou na universidade de Fordham. De que forma é que essa experiência de viver numa grande cidade a afetou e influenciou o seu álbum Born to Die?
Foi uma jornada muito difícil, se assim o posso dizer sem soar muito a lugar-comum. Debati-me durante muito tempo com dificuldades para pagar a renda e as despesas e, durante esse período, conheci pessoas que não eram propriamente recomendáveis. Tive de crescer muito, acho.
Nas suas canções refere a desilusão amorosa e o desespero. Deve ter tido, obviamente, algumas ruturas dolorosas.
É difícil vermo-nos com alguém, ter a expectativa de que vai ser uma coisa maravilhosa e depois acaba tudo mal. Eu estive com uma pessoa com quem pensei que ia passar o resto da minha vida. Estávamos os dois recuperados e sóbrios e eu precisava de alguém que conseguisse respeitar isso, o que acabou por não acontecer e eu não podia continuar com ele. Mas foi difícil aceitar, especialmente depois de ter sofrido tanto com a solidão, de ter encontrado alguém de quem gostava e que gostava de mim e, no final, não ter resultado.
Porque acha que, na era de Lady Gaga e de tantos outros artistas tão estilizados, há quem implique consigo por ter criado uma determinada imagem ou identidade musical?
Ainda bem que fala nisso [risos]. Não me parece que faça um grande esforço para criar uma imagem, só se for por usar vestidos em palco em vez de fatos exóticos. Às vezes são vestidos um pouco retro, o que se adequa à música e à imagem que passo nos meus vídeos. É basicamente isso. Admito que a minha forma de cantar e as letras das canções são algo provocadoras. Mas não entendo o nível de irritação que algumas críticas revelam. Quero que a minha música seja bonita e sugestiva e não estou a tentar fazer muito mais do que isso.
O vídeo para Video Games foi a sua grande revelação. Alguma vez esperou que tivesse tanto impacto?
Não [risos]. Achei que as imagens talvez atraíssem alguma atenção, que talvez conquistassem um pequeno grupo de seguidores na Internet e, quem sabe, me ajudariam a conseguir um contrato com uma editora. Nunca pensei que chegassem a tanta gente. Mas trabalhei muito nesse vídeo e senti-me bastante realizada em termos criativos. Por isso, sinto-me orgulhosa pelo facto de as pessoas terem tido uma reação tão positiva.
Muitas das letras e imagética da sua música possuem uma tónica sombria de inocência perdida e expectativas traídas. Andou perdida, naqueles tempos difíceis em Nova Iorque?
Quando era adolescente metia-me muito em sarilhos e era bastante infeliz. Tinha um comportamento rebelde, bebia muito e atravessei um período muito difícil. Quando fui para Nova Iorque quis iniciar uma nova vida, trabalhar na minha música, escrever e tornar-me artista. Viver em Nova Iorque foi uma experiência muito solitária e também muito estimulante em muito aspetos. Conheci muita gente maravilhosa e diferente desde que comecei a viver lá e todas essas experiências influenciaram a minha música e o que eu queria dizer. Tal como acontece com muitos artistas, o meu trabalho é uma forma de lidar com os meus problemas e de os exprimir.
Porquê o título Born to Die?
Parte da inspiração para que o título fosse esse prende-se com o seguinte: quando eu era pequena entrei um bocado em pânico quando percebi que a minha mãe, o meu pai, eu própria e toda a gente que eu conhecia iam morrer. De certa maneira, essa minha crise filosófica manteve-se e a tristeza dessa primeira impressão ainda prevalece.
Solidão é um dos temas ou impressões que podemos encontrar na sua música. Hoje em dia ainda se sente assim tão só?
[Risos] Não, já me sinto melhor. Acho que quando se acaba por ter algum sucesso e as pessoas são tocadas pela nossa música isso preenche-nos muito. Mas continuo a ser uma pessoa introvertida e algumas das minhas canções falam do que acontece quando se encontra alguém que pensamos que nos percebe e nos vai apoiar e depois esse sonho desfaz-se. Estar sozinha e não sentir uma forte ligação a alguém é algo com que é difícil lidar. Queremos acreditar que vamos encontrar a pessoa certa com quem vamos ser felizes o resto da nossa vida.
Muita gente escreveu imensas coisas na tentativa de interpretar as imagens que estão por detrás de Video Games…
O que é realmente estranho para mim, quando penso nisso, é que eu teria mudado imensas coisas, especialmente as imagens de mim própria, se tivesse sabido quantas pessoas acabariam por ver o clip. Andava a fazer uma série de experiências e a tentar simplesmente obter um resultado interessante, nunca esperando que fosse gerar tanta atenção. Agora que possuo um contrato com uma editora e se investe algum dinheiro em mim, estou muito feliz por já não ter de ser eu a fazer os meus próprios vídeos. Terei uma palavra a dizer, mas adoro o facto de poder trabalhar com verdadeiros profissionais. Prefiro mil vezes concentrar-me apenas nas canções.
Sente que as imagens em Video Games acentuaram toda a mística sensual e o mistério à sua volta?
Penso que contribuíram para o impacto da música, o que para mim é o mais importante. Eu queria ser capaz de chegar às pessoas com o som e o espírito das canções, mas em relação às imagens o meu intuito era sobretudo experimentar e divertir-me. Não tinha dinheiro nenhum para fazer o vídeo. Mas houve imensa gente que me disse que achava o vídeo lindo e fico muito contente e grata por pensarem assim.
INOCÊNCIA PERDIDA Depois de uma adolescência rebelde e relações amorosas difíceis, Lana del Rey descobriu na música uma forma de expressão
É muito tímida?
Sou bastante introvertida. Não me sinto logo à-vontade com as pessoas e fico muito nervosa quando começo a falar ou quando sou apresentada a alguém.
Essa timidez representa um problema para si quando faz atuações ao vivo?
Penso que em algumas das minhas atuações ao vivo se notou essa timidez e esse nervosismo. Mas estou a melhorar nesse aspeto e digo constantemente a mim própria para descontrair quando estou em palco e para pensar e sentir apenas a música e esquecer tudo o que me rodeia.
Há artigos que a citam dizendo que a música não é necessariamente assim tão importante na sua vida.
Eu gosto de música e gosto de escrever canções, mas não é a coisa mais importante da minha vida. Tenho muitos outros interesses e não me vejo a viver apenas em função da música a vida toda, embora neste momento esteja bastante envolvida. Mas às vezes, quando vejo o nível de hostilidade de algumas críticas, interrogo-me se precisarei de facto de lidar com isso. Estou muito contente com o disco e com o trabalho que nele desenvolvi. E estou felicíssima por saber que tanta gente gosta da música. E presumo que deva apenas pensar nisso e não me preocupar com mais nada. Acho que o mais importante é ser boa pessoa e ter uma vida interessante. Gostaria que as pessoas pensassem em mim como uma pessoa generosa e simpática. Talvez seja ingénuo da minha parte dizer isto, mas eu sou mesmo assim.
Tradução de Ana Isabel Palma da Silva
