Quatro portugueses brilham no estrangeiro em áreas tão competitivas como o design de interiores ou as artes plásticas. De Nova Iorque a Singapura, a Máxima deu literalmente a volta ao mundo para os conhecer.
Talentos Sem Fronteiras
21 de julho de 2014 às 06:00 Máxima
GRACINHA VITERBO, designer de interiores, Singapura
Há mais de 40 anos, o nome Viterbo é uma das maiores referências do design de interiores nacional, mas o talento e perseverança desta empresa familiar levou Gracinha Viterbo, filha da fundadora e atual diretora criativa, e Miguel Vieira da Rocha, o seu marido e CEO da empresa, a paisagens tão longínquas como Angola, Dubai ou Singapura, onde somam projetos que elevam a Viterbo Interior Design a potência internacional desta área. E é nesta última cidade que atualmente toda a família reside, mas sem perder de vista Portugal. “Não posso dizer que me mudei para Singapura, apenas estendi a minha morada pessoal”, avança a designer. “Falar em mudar insinua que houve um fecho ou fim e não houve fim nenhum. Houve uma continuidade e evolução natural de uma empresa com sucesso e estabilidade. Mantemos os head-quarters em Portugal.”
PUB
Gracinha é utilizadora regular do Instagram, que acaba por funcionar como um diário ilustrado. Trabalho, passeios e viagens são documentados pela designer.
Tendo a noção de que “o tempo passa a correr”, foi há quatro anos que surgiu a oportunidade da Viterbo Interior Design chegar à Ásia, de uma forma bem sustentada e sem grandes percalços. “O meu marido planeou a internacionalização antes de se ouvir falar em crise, há 11 anos. A integração em Singapura foi suave graças à minha primeira cliente que me trouxe para cá”, relembra Gracinha. “Já era a terceira casa que fazia para esta cliente – uma pessoa fantástica que conhece bem a nossa identidade – e isso acabou por permitir que arrancássemos com outros trabalhos.”
Como se já não bastassem as dezenas de projetos de que Gracinha Viterbo se encarrega em simultâneo, a criativa é também mãe de quatro crianças, mas nem isso a prendeu a Portugal ou a qualquer outra paragem. Bem pelo contrário. “Quando se quer fazer as decisões resultar, tudo se pode simplificar. Eu e o Miguel já viajávamos há muito tempo, por isso a nossa vida estava estruturada e organizada para esse efeito. E olhamos sempre para a vida com a pergunta ‘porque não?’ em vez de ‘porquê?’”, reflete. “Temos de dançar uma espécie de tango para que tudo se encaixe, mas as crianças estão bem se os pais estão bem, seja em que parte do mundo for. Ter esta oportunidade de os trazer para um continente como a Ásia, poderem aprender mandarim e perceberem que o mundo não tem fronteiras, saber respeitar e descobrir novas culturas e religiões é realmente único nesta fase da nossa família. Além disso, aceitaram bem porque foi tudo levado com naturalidade e já perceberam que o mundo deles em Portugal – a sua casa, os avós e os amigos – continua lá.”
PUB
Completamente aberta a novas culturas, Gracinha Viterbo avança que no concorrido mercado de trabalho asiático, onde tudo é rigor e rapidez, pouco importa a certidão de nascimento dos seus intervenientes. Até porque, numa cidade trendy e cosmopolita como Singapura, juntam-se profissionais de todas as nacionalidades, diversidade que se sente pelo internacional núcleo de amigos e clientes da designer, oriundos dos quatro cantos de um mundo que se quer realmente global. Mas as saudades de Portugal, nunca batem?
“De Portugal sente-se falta por inteiro ou não fosse a palavra saudade tão nossa”, confessa Gracinha Viterbo. “No entanto, levo-o comigo sempre e deixo um pouco do meu país por todo o lado onde passo.”
PUB
MAIS>
NUNO XICO, editor de vídeo, Nova Iorque
Em Portugal, estudou Marketing e Publicidade, mas em 2010 a sua insatisfação falou mais alto e Nuno Xico, natural de Queijas, decidiu que era altura de fazer as malas e voar em direção a Nova Iorque, a cidade onde supostamente todos os sonhos acontecem. É nesta “selva de betão” que os seus objetivos se vão concretizando, tendo-se perdido um possível marketeer mas ganhando-se um dos mais requisitados editores de vídeo do mundo da moda.
PUB
A grande oportunidade de Nuno Xico aconteceu quando se estreou no mercado através de um convite da revista Elle e de Tommy Hilfiger, mal chegado à cidade. “A partir daí comecei a receber mais e mais contactos para trabalhos de moda, o que me permitiu integrar-me na indústria”, refere o editor que já colaborou com gigantes como Steven Klein e Bottega Veneta. No entanto, o trabalho que mais lhe tem dado visibilidade é a sua parceria de longa duração com Madonna, com quem já colaborou em vários projetos, nomeadamente na edição de um documentário da rainha da pop e, mais recentemente, na realização e edição da campanha publicitária da nova marca de beleza da cantora. “Esta experiência só poderia mesmo ter acontecido em Nova Iorque e parece surreal que trocámos e-mails e fizemos piadas quando discutíamos tópicos com Alain Resnais e Godard.”
No pico do seu sucesso profissional, Nuno Xico parece encontrar em Nova Iorque tudo aquilo de que precisa para alimentar a sua criatividade. “Vim para cá sozinho, mas construí uma rede de amigos e contactos que valorizo muito. Além disso, a cidade é como um tumblr constante”, avança. “Um póster rasgado numa parede, um beco escuro, uma conversa com um estranho num café”, tudo serve para o apaixonar ainda mais pela Grande Maçã. Que desculpe Sinatra, mas não espalhem a notícia: he’s not leaving today.
PUB
MAIS>
MARGARIDA VILA-NOVA, atriz e empresária, Macau
PUB
Nascida a 6 de junho de 1983, Margarida Vila-Nova iniciou a carreira no mundo da representação com apenas cinco anos numa longa-metragem francesa rodada em Portugal (Dédé, de Jean Louis Benoît). Rapidamente assumiu um papel de destaque no meio e, aos dez anos, teve a sua primeira experiência de palco na Grande Noite, de Filipe La Féria. Mas é a partir de 2002 que começa a ganhar maior visibilidade, tanto no cinema como na televisão, onde participa em diversas séries e telenovelas.
Com 20 anos, funda uma produtora, Magníficas Produções, responsável por peças como Confissões de Adolescente, Pedras Rolantes e Por uma Noite. Em 2008, oficializa a relação com o cineasta Ivo Ferreira já grávida do primeiro filho, Martim, que nasce no final desse ano. Com o fim das gravações da novela Sedução, da TVI, Margarida decide ir viver para Macau, juntando-se assim ao marido que já lá se encontrava a trabalhar. “Tinha uma grande vontade de atravessar o mundo, de viajar, de abraçar novos projetos, novos desafios. E de construir um negócio que fosse só nosso (meu e do Ivo)”, explica-nos a atriz, para quem “a vontade de conhecer uma nova cultura e de aprender a respeitar outros hábitos e costumes” falou sempre mais alto. “E se estivermos preparados, pode ser uma aprendizagem incrível!”, acrescenta.
PUB
Já em Macau, nasce o segundo filho do casal, Dinis, e mais dois “bebés”: as lojas Mercearia Portuguesa e Futura Clássica, que vendem produtos nacionais. “Havia espaço no mercado para criar este conceito. Até então não existia nenhuma loja dedicada à comercialização de produtos tradicionais portugueses. Um souvenir português, numa terra com 500 anos de história portuguesa, era para nós a ideia certa na altura certa. A recetividade tem sido muito positiva, trabalhamos maioritariamente com o turismo e estamos satisfeitos com os resultados conquistados.” A viver no centro da cidade, entre as lojas Mercearia Portuguesa e Futura Clássica, Margarida destaca a qualidade de vida, a possibilidade de fazer todas as suas deslocações diárias a pé. “Atualmente, sinto-me em casa em ambas as cidades. É uma sensação que não se explica: chego a Macau e sinto o conforto de regressar a casa... Abro a porta e sinto-me em casa. E, quando regresso a Lisboa, é como se tivesse estado sempre ali.”
MAIS>
PUB
PAULA REGO, artista plástica, Londres
Oriunda de uma família republicana e liberal ligada às culturas inglesa e francesa, Paula Rego nasceu a 26 de janeiro de 1935, em Lisboa. Iniciou os estudos na St. Julian’s School, em Carcavelos, onde o seu talento para a pintura começou cedo a ser elogiado pelos professores. Incentivada pelo pai a desenvolver as capacidades artísticas fora do Portugal salazarista dos anos 50, partiu para Londres, onde estudou na Slade School of Fine Art até 1956.
1961: Ordem e Caos inaugurou na Casa das Histórias, em Cascais, a 22 de maio, reunindo obras de Paula rego, Victor Willing, Eduardo Batarda e Bartolomeu Cid dos Santos. A mostra estará patente até 26 de outubro.
“O método de ensino era rígido. Desenhávamos a partir de estátuas e dos modelos que posavam para nós. Aprendíamos anatomia. Aprendíamos perspetiva. Ouvíamos palestras sobre arte e depois fazíamos desenhos”, recorda a pintora. É aqui que conhece aquele que viria a ser o seu marido e pai dos três filhos, o artista inglês Victor Willing (que morre em 1988, vítima de esclerose múltipla).
PUB
Um ano depois mudam-se para Portugal e ficam a viver numa quinta da Ericeira que mais tarde é vendida quando Paula decide radicar-se em Londres, vivendo hoje na zona de Hampstead. O surrealismo e o expressionismo influenciaram as primeiras obras da pintora, mas um dos seus traços mais conhecidos é o recurso ao grotesco para abordar tabus e fobias e aos temas do imaginário erótico feminino.
Das várias distinções que recebeu, destacam-se o Prémio Celpa/Vieira da Silva e o Grande Prémio Soquil. Em 2009, é inaugurado em Cascais um museu dedicado à sua obra, a Casa das Histórias Paula Rego, e em junho de 2010 recebe da Rainha Isabel II a Ordem do Império Britânico com o grau de Dama Oficial. Quando lhe perguntamos onde se sente verdadeiramente em casa, não hesita: “No meu estúdio, em Kentish Town.” É a partir daí que continua a explorar a cidade, rumo a alguns dos seus spots favoritos: os museus – “gosto particularmente do British Museum e da National Gallery – e as lojas – adoro comprar roupa!”